
Transcrevo abaixo e subscrevo. O texto é longo, mas acho que vale a pena a leitura.
“Amigos,
Estive pensando em nossa conversa de ontem sobre a falta de perspectivas políticas no Flamengo para este ano. Pelo menos, entre as candidaturas que já se apresentaram e aquelas que podem estar por vir. Pior do que os nomes é a formação de blocos políticos capazes de ofuscar as poucas qualidades deste ou daquele candidato.
Até recentemente, eu tinha a esperança de ter alguma opção à altura do Flamengo para dar meu voto. Pessoas de bem já propuseram um bloco “apartidário” apoiando uma candidatura “acima de suspeitas” como, por exemplo, de um ídolo como o Junior. Ou de um realizador comprovado, como o Areias. Seja por não quererem fazer política pequena, seja por terem outras perspectivas profissionais, as notícias que nos chegam (por várias fontes confiáveis ao mesmo tempo – e não só a mim, mas também a outros membros da lista) dão conta de que estas pessoas não se colocam hoje disponíveis como candidatos. E quem há de dizer que eles estão errados?
Sobram os nomes de sempre, os blocos que já representam algo de ruim, ou parte da herança “administrativa” que corroeu o Flamengo nas últimas décadas. Sobram opções com um cheiro de mesmice, de mofo. Mesmo quem propõe algo novo tem que andar de mãos dadas com o passado. Sobra uma alternativa “menos ruim”, que pode ser esta ou aquela, a depender de uma percepção dúbia de quem é quem numa peça de atores repetidos em papéis “novos”. E como discutir idéias com estas opções de candidaturas, sem a esperança real de que algum dos proponentes tenha um passado administrativo que o credencie para levar adiante qualquer que seja o projeto de recuperação do Flamengo?
São inúmeros os sub-blocos políticos hoje no clube. Sozinho, ninguém se elege. E, inevitavelmente, cada candidato, bom ou ruim, carregará “malas” e contrapesos em suas chapas. Gente desgastada, conhecida, “tradicional” na política clubística. Faces de um antigo Flamengo que necessita ser sepultado. Fala-se em 20 candidatos, todos representando correntes internas da atual Diretoria ou representando grupos que estiveram há pouco tempo no poder, como as viúvas do Edmundo Santos Silva. Então, pela enésima vez seguida, teremos um embate de titãs: MB x ESS, ainda que os atores estejam renovados, as idéias e pessoas são as mesmas.
Pois é em meio a esta paisagem totalmente fragmentada que eu proponho o “impossível”. Principalmente, algo que eu mesmo reconheço que é o contraditório em si mesmo. E qual seria esta contradição? Bem, é “fato” mais ou menos aceito que o modelo político do Flamengo estimula e recria a mesmice. Formar uma chapa lá dentro não é nada fácil, e isso dificulta a renovação. Por outro lado, é quase uma unanimidade (pelo menos entre os torcedores) que o Flamengo precisa de uma renovação que beire a revolução. Mas também não é difícil entender que o Flamengo não pode ser para principiantes, que o nível de complexidade do clube exige alguma inteiração com aquela máquina emperrada. E, por outro lado, a máquina tem que ser “desmontada” e reconstruída em novos termos. A contradição inerente a este processo, e inerente também aos nossos anseios, é entre o novo e o velho, e as formas que eles têm para conviver.
E o que seria este meu “impossível” que eu proponho assim, entre estas aspas? Seria fazer o novo brotar de dentro, porque só quem é sócio há pelo menos três anos pode ser candidato. Então, impossível estatutariamente ir buscar alguém de fora agora. Será que, a estas alturas, pode-se criar dentro do Flamengo um novo Flamengo? De cara, eu mesmo diria: impossível!!!
Pois se o “impossível” é a nossa única alternativa imediata, que tal fazer este “impossível” virar improvável, o improvável virar uma esperança e a esperança construir a realidade?
Affonso, o que você está propondo?
Sendo claro: estou propondo que a gente ouse e faça surgir um nome. Que nome? Aí é que está a maior dificuldade.
A notícia boa – talvez a única – é que a maior força eleitoral do Flamengo, hoje, está em casa e desinteressado das eleições de dezembro. Muito se fala na possibilidade de os torcedores passarem a votar algum dia. Seja por um programa sócio-torcedor, seja através do off-Rio, seja pelo barateamento de títulos, sempre há quem sugira uma participação maior da torcida nas eleições. Não vamos entrar nesta discussão, ela não nos serve para já, para 2009.
Por outro lado, há milhares – eu disse MILHARES !!! – de torcedores rubro-negros que têm o direito ao voto e não o exercitam. Como assim? É que, normalmente, o comparecimento às eleições gerais não chega aos 30% do colégio eleitoral. Corrijam-me se o percentual não for exatamente este, mas a 50% eu sei que nunca chegou na história recente.
Ou seja, um candidato capaz de motivar um número expressivo de rubro-negros a saírem de casa e irem às urnas pode vencer as eleições, mesmo sem base interna na Gávea, mesmo sem compadrio com as correntes entronizadas desde sempre na política rubro-negra, mesmo sem a tal “tradição” interna no clube. Ao contrário, o fato de vir “de fora” do jogo marcado só faz beneficiar uma candidatura assim.
O Flamengo é um clube freqüentado por um percentual reduzido do total de seus sócios. Todo sócio-proprietário pode fazer parte do Conselho, mas a maioria abre mão deste direito e raramente uma reunião do Conselho tem a presença de mais de 200 votantes. Nas eleições gerais acontece algo semelhante: só quem já participa da política interna, ou é muito próximo de quem participe, se sente motivado para ir votar. E a coisa fica manipulada por umas 300 ou 400 pessoas, no máximo. E por menos de 2.000 votantes, a maioria dos quais atendendo ao chamado de um destes 400 que estão “por dentro”. E mesmo entre estes 400, há apenas uns 20 ou 30 capazes de montar uma frente ou um bloco, capazes de convocar eleitores por telefone. Destes, apenas uns 10 (ou menos) são caciques com liderança real e peso eleitoral.
Qualquer um que se lance candidato pelas vias ditas normais tem que obedecer a este ritual, aliar-se a estes caciques, ter “respaldo” na política interna, no modelo vigente. Seja candidato da situação ou da mais ferrenha oposição. Só há espaço para ser um lado da mesma moeda.
E alguém que venha “totalmente” de fora? Alguém que seja, hoje, mais um destes sócios desmotivados que nem iriam votar? Alguém que tenha direitos políticos, mas não os exerça ativamente? E alguém “virgem” na política rubro-negra? Pois um candidato assim, por mais improvável que seja, pode atropelar a tudo e a todos.
Quanto mais improvável for um candidato “de fora”, maiores as chances de se conseguir algo. Quanto mais desconhecido na política interna (ainda que possa ser alguém famoso, eventualmente), quanto mais externo a tudo o que está lá (oposição inclusive), quanto mais pareça um extra-terrestre político, tanto melhor. E maiores as chances. Porque só uma pessoa com um perfil desses seria capaz de motivar aqueles que são iguais a ele, ou seja, que até hoje se abstiveram de participar exatamente por não acreditarem no processo.
Quem não sai de casa para votar no candidato do Marcio, tampouco sairá de casa movido pela MPYZTFLA. Mas quem não acredita mais nesta mesmice pode vir a acreditar numa candidatura absolutamente nova.
Evidentemente, há algumas características que precisamos procurar, as quais são irrecorríveis:
1 – O candidato tem que ser elegível aos olhos do Estatuto. Ou seja, tem que ser sócio há pelo menos 3 anos, estar em dia, estas coisas.
2 – Precisa morar no Rio.
3 – Ser uma pessoa realizada financeira e profissionalmente. O cargo é voluntário, então tem que ser alguém que tenha independência financeira, não precise do Flamengo para nada. E tem que ser alguém vencedor, não dá para entregar o clube nas mãos de alguém incapaz de realizar algo.
4 – Não precisa ser famoso, ou milionário, ou um homem público, ou ex-atleta. Mas ajuda se for uma dessas coisas. Mas, se não for, que pelo menos tenha uma imagem reconhecida como uma pessoa competente naquilo que faz, que seja alguém com um currículo a mostrar.
5 – Não precisa ser necessariamente uma pessoa bonita, mas ajuda muito se tiver uma aparência apresentável.
6 – Independentemente da idade que tiver, tem que ter uma mente jovem, ter coragem, arrojo, postura, ideais, altivez, imagem positiva, liderança, ousadia e garra. E passar isso para as pessoas em volta.
7 – Não ter sido dirigente do Flamengo, pelo menos nos últimos 20 anos. E, de preferência, não ter participado diretamente de nenhuma corrente política rubro-negra nos últimos tempos.
8 – Ter bom perfil acadêmico. Não precisa de um mestrado ou doutorado, mas não dá para ser um autodidata ou um semi-analfabeto.
9 – Ter perfil e experiência de administrador e líder. Não precisa ser formado em administração, mas tem que saber administrar, entender a linguagem, saber lidar com equipes. Qualquer dirigente, de qualquer área, tem que ter um perfil assim. Um executivo de grande empresa, um empreendedor, um empresário, tem que ter este perfil.
10 – Ter conhecimentos e opiniões sobre esportes e sobre marketing. Não precisa ser especialista, tampouco concordar com a minha opinião, ou a de Fulano, ou Beltrano. Mas tem que saber falar sobre esportes, conhecer a história recente (pelo menos) do Flamengo, discorrer e decidir sobre marketing. Enfim, ter noção daquilo que pretende administrar. E saber compreender os aspectos jurídicos também, mesmo se não for advogado.
11 – Ter uma visão moderna sobre a atividade esportiva, sobre esporte de alta competição, sobre a função social dos clubes, sobre o mercado esportivo contemporâneo. Novamente, não precisa ser especialista, mas tem que entender o processo.
12 – Ter saúde física e mental.
13 – Ser uma pessoa ilibada, de boa reputação, sem pendências jurídicas, de caráter firme, sem áreas nebulosas em sua biografia, estável.
14 – Estar disponível. Ter tempo para dedicar ao Flamengo, vontade de se doar a este projeto, uma estrutura pessoal e/ou familiar à sua volta que o permita se dispor a esta tarefa.
15 – Querer.
Esta pessoa existe?
Se existe, eu não conheço. Mas, sinceramente, gostaria muito de conhecer. Alguém é capaz de identificar uma pessoa com este perfil, que cumpra todos estes requisitos? Impossível não é. Não são traços de um super-homem, mas de um líder adequado a um processo de renovação, alguém capaz de inspirar e motivar outros rubro-negros a tentar fazer aquilo que parece impossível num primeiro momento.
Aliás, não queremos e não precisamos de um messias, de um salvador supremo, de alguém com um conhecimento superior e universal que tenha todas as respostas prontas. Precisamos urgentemente é de alguém “novo” no cenário político rubro-negro que possa encabeçar um projeto comum que está “no ar”, todo verdadeiro rubro-negro sabe intuitivamente. Mas é necessário um nome, um candidato, uma personificação, um “recipiente” de votos.
E qual seria este projeto? Como fugir de um salvacionismo barato, um messianismo perigoso que pode descambar num quadro ainda pior?
Bem, se existir alguém capaz de encabeçar uma candidatura, o conceito por detrás disso já está pronto. Nós discutimos aqui todos os dias. Divergimos nas formas,nos detalhes, mas o modelo geral de soluções é quase uma unanimidade. E qual seria este arcabouço de conceitos?
Novamente, corrijam-me se eu estiver errado, mas o que eu tenho falado e ouvido sistematicamente é:
1 – Tomar o poder e profissionalizar imediatamente a administração do clube. Como?
1.1 – A Diretoria empossada passaria a dar as diretrizes gerais, as metas, os objetivos a serem alcançados pelos executivos. Ou seja, cumpriria sua missão política (no sentido correto da palavra);
1.2 – A administração do clube passaria a ser feita por executivos profissionais contratados para tal, a partir de um plano de ação da Diretoria, controlados pelas metas estabelecidas, auditados pelos Poderes do clube, sem interferência política no cotidiano administrativo;
1.3 – Estes executivos seriam o corpo gestor, a face administrativa da Diretoria, sem influência da política, sem interferência, e seriam contratados com a ajuda de consultoria externa, a partir de perfis pré-estabelecidos para cada cargo. E teriam contratos com tempo pré-determinado (renováveis a cada ano, por exemplo) para terem estabilidade e independência, por um lado e, em contrapartida, para serem cobrados pela conquista de metas.
2 – Providenciar urgentemente um levantamento de todas as dívidas e pendências jurídicas do clube, de modo a traçar um plano de ajustamento financeiro e uma ampla renegociação do passivo. Fazer isso com ajuda de consultoria externa, para ter mais transparência, qualidade e credibilidade.
3 – Fazer um levantamento patrimonial, de contratos, de pessoal e tratar cada assunto desses com a urgência necessária, definindo o perfil do que o clube é e daquilo que pretende vir a ser, resolvendo as situações dúbias e apontando para o futuro.
4 – Fazer e respeitar um orçamento levado a sério. Fazer um planejamento plurianual.
5 – Com ou sem reforma estatutária, tratar cada atividade-fim do clube como uma unidade financeiro-administrativa independente. A saber: Fla-Gávea (ou o clube social), Fla-Olímpico, Fla-Futebol, Fla-Remo e suporte administrativo. Cada uma dessas atividades tem que ser superavitária, independente, autônoma e profissionalizada. Todas têm chances de, sob a forte marca “Flamengo”, terem mais sucesso assim do que todas juntas compartilhando recursos e prejuízos.
6 – Ter uma política financeira que objetive o superávit primário para abater as dívidas renegociadas.
7 – Propor, com a ajuda dos executivos contratados, formas alternativas e criativas de recuperação e manutenção do patrimônio, através de parceria com a iniciativa privada.
8 – Administrar e comunicar com absoluta transparência, com contas abertas na internet, com auditoria interna permanente. Estabelecer padrões de governança corporativa a partir das melhores práticas reconhecidas, administrar o patrimônio como quem administra uma empresa de capital aberto em bolsa, ou seja, submetendo-se ao fato de ser uma instituição pública, ainda que de Direito Privado.
9 – Criar e manter uma estrutura de Marketing capaz de captar novos recursos, otimizar o poder da marca, adaptar á realidade brasileira e do Flamengo as melhores PR-áticas de mercado dos principais clubes do mundo.
10 – Investir com toda a seriedade na relação com a assim chamada “Nação Rubro-Negra”. Promover um amplo debate, interno e externo ao clube, sobre os melhores modelos de inteiração, otimizando a capacidade geradora de recursos da massa de torcedores.
11 – Tentar conciliar as dificuldades financeiras (que são transitórias) com a exigência permanente em se manter um time competitivo no futebol profissional, traçando um plano de ação no sentido de montar um elenco com a máxima qualidade ao menor custo possível. Achar este ponto de equilíbrio com a ajuda de um executivo para o futebol que tenha conhecimento no Flamengo e reconhecimento por parte dos torcedores (alguém como um Junior, um Leonardo etc.). E, claro, dar autonomia e orçamento a esta pessoa.
Acho que, de boa-fé, dificilmente alguém seria contra estes tópicos que eu coloquei. Vejam que eu, conscientemente, fugi de abordagens polêmicas. Não adianta discutir agora se os torcedores devem conquistar o direito de voto ou não. O que se deve fazer é votar agora quem pode e, no futuro, abrir as portas para discutir isso com maturidade, sem uma posição pré-concebida. Quem será o técnico, quem se pretende contratar etc., tudo isso pode ter importância, mas temos que olhar o todo, não o detalhe.
Se alguém puder levar adiante estes conceitos, encabeçar uma chapa, puder montar uma chapa, ter o número de nomes ao seu lado no primeiro momento, captar adesões de primeira hora, assinar um compromisso amplo em favor destes princípios que eu coloquei (e eu acho que são o básico do básico), eu acho que o “impossível” ainda tem tempo para ser possível.
Mas, para isso, precisamos de um nome.
Quem sugere primeiro?
Chamem-me de utópico. Mas, pelo amor de Deus, dêem uma idéia melhor, então.”