
E me chamou a atenção uma postura muito curiosa e, por exatidão, majoritária: de que colocando estes fatos aqui eu sou “anti-Flamengo”, “a serviço da oposição”, entre outras coisas. Logo eu que defendo uma “limpa geral, ampla e irrestrita” nos quadros do clube… Irônico.
A postura majoritária é de que, uma vez eleita a Diretoria, ela possui um “cheque em branco” para fazer o que quiser, sendo a fiscalização postura inapropriada ao clube. Digamos que uma versão rubro-negra do “ame-o ou deixe-o” da ditadura…
Pior é que esta postura pode ser extrapolada para outros campos da vida humana. O que eu observo, cada vez mais, é uma crescente intolerância. A minha posição é a certa porque minha posição é a certa e ponto final. E os contrários que se retirem.
Isso se reflete, até, nas pequenas coisas do dia a dia. Querem um bom exemplo ? O trânsito. As pessoas sempre acham que estão sempre certas, e fazem as maiores barbaridades por conta disso. O outro, se não me atender, está errado e deve ser expelido do convívio. Reconhecer que o outro pode ter razão é sinal de fraqueza e os fracos não sobrevivem, esta é a visão dominante.
Também podemos extrapolar para a política internacional o que disse acima. Por exemplo, no Oriente Médio. Os judeus se escoram no Holocausto pra fazer igualzinho com os palestinos – só faltam as câmaras de gás – e, por seu turno, os árabes propõem a destruição do estado israelita. Uma vez mais, o velho princípio da intolerância.
Talvez esta seja a fonte da fragmentação cada vez maior que se vê nos grupos. Protestar é proibido. Discordar é proibido. Conversar e acordar com concessões necessárias é proibido. Pensar igual e fechar os olhos, fechar as suas mentes para a consciência crítica, agir como autômatos, isto sim é “legal” e aceito nos grupos.
Penso que o ser humano deveria se preocupar um pouquinho mais com o que pensa o outro e com o que o outro é. A saudável discordância de idéias e o debate saudável enriquecem a nossa passagem nesta Terra, bem como permitem o livre convívio em sociedade. Rotular é limitar.
Depois não reclamem deste mundo cada vez mais fascista em que vivemos… imaginem se os estudantes em 1968 não tivessem lutado, ou se não houvesse a Campanha das Diretas ? O Brasil seria um país pior e mais autoritário.
Infelizmente, vivemos outros tempos…
Foto: Evandro Teixeira, Passeata dos Cem Mil, 1968