Como escrevi ontem, sábado estive na loja da Olympikus para comprar uma camisa azul de goleiro.

Com base nisto, estive pensando no poder que as tradições têm.

Há uns anos, o Flamengo lançou uma camisa que era azul e ouro, alusão às cores originais do clube. No dia da aprovação da camisa pelo Conselho Deliberativo (sempre ele), eis que levanta um velhinho e diz, histérico: “não deixarei macularem a honra do clube, que meu pai ajudou a fundar!”. Acabou freneticamente aplaudido por uma legião de velhinhos igualmente histéricos.

Aliás, saindo um pouco do tema, não admira que o clube esteja na draga em que está…

Mas, voltando: o clube perdeu uma boa oportunidade de recursos por uma tradição duvidosa e, pior, desrespeitando as origens do mesmo.

As tradições muitas das vezes são utilizadas como manutenção de poderes estabelecidos. Serve para não se questionar o status quo de uma determinada situação ou de sociedade. Não se pode mudar porque “sempre foi assim”.

Justifica-se quaisquer irracionalidades por conta disso.

Um bom exemplo são certas práticas da Igreja Católica, que “são assim porque são assim”, ou, pior, encobrem outras razões mais mundanas – como o celibato.

Falo da Igreja Católica – que, aliás, de João Paulo II para cá retomou diversas tradições – mas poderia estar falando de outros aspectos da vida humana. O progresso social e econômico, muitas vezes, é travado por se respeitarem códigos antigos, leis não escritas e determinações com capa de seculares .

Muitas vezes, perdemos boas oportunidades de gerar renda, de forma ética e lícita, pelo apego às mesmas.

Evidente que não prego o abandono das tradições. Entretanto, precisamos saber separar o que realmente é tradição do que não passa de controle de poder. Ou amor ao antigo.

As coisas evoluem. Meishu Sama diz que “precisamos ser homens do presente”. É isso aí. Não se aferrar às coisas antigas que travam ao desenvolvimento e, pior, nos desconectam da realidade.

Outra coisa é, por exemplo, a corrida de touros de Pamplona, como bem lembrou o Boechat de manhã. São 500 anos, mas será que a brutalidade merece ser mantida em nome da mesma ? Ou não se podem fazer alterações a fim de tornar menos brutal o episódio ?

Sei que são idéias ainda um pouco soltas. Todavia, vamos pensar um pouco no poder das tradições ?