Por quê ? Com esta praga do politicamente correto a que assistimos hoje, sua música certamente seria rotulada como “música de bandido”, “apologia ao crime”, “inimigo da sociedade” e que tais.
O cantor pernambucano radicado no Rio, que passou fome e pintou paredes antes de vir na onda do boom pagodeiro carioca na década de oitenta, era um cronista dos morros cariocas.
Com ele não tinha frescura. Ele gravava e cantava a música dos favelados, a rotina dos favelados, o grito dos favelados. Com menos força, mas maior qualidade musical, uma espécie de “funk” dos Anos 80 e 90: era a voz do morro.
Suas músicas cantavam o cotidiano dos morros, a opressão, a corrupção policial, a moral da “malandragem” e a rotina desta. Também fazia crônica social, com personagens como a sogra, o cunhado e o Pastor 171. Ironia: quando morreu havia virado evangélico.
Fico me perguntando o que ele estaria cantando hoje. Talvez a corrupção policial e a vida dos meninos do tráfico. Mas, certamente, estaria enfrentando a sociedade cada vez mais raivosa e conservadora, principalmente aqui no Rio de Janeiro.
Seria chamado de bandido. Mas dar voz aos oprimidos é sinônimo de bandido ? Provavelmente estaria preso, enquanto marginais de colarinho branco estão livres, leves e soltos. Como ele já alertava…
Sua obra e vida dão bem uma medida de como a nossa sociedade se tornou mais intolerante, sob a capa do “politicamente correto”. Eu chamaria de “varrer para debaixo do tapete” as mazelas sociais. Se a elite não vê, está tudo bem, e isto explica o foco na Zona Sul da política atual (?) de segurança pública.
Conheci mais a fundo a obra do velho Bezerra há uns dois anos, através de uma caixa temática que foi lançada sobre a sua obra. Depois fui me aprofundando e conhecendo mais. E pensar que ele foi vizinho da minha avó em Cascadura…
Àqueles que quiserem conhecer a vida e obra do cantor, recomendo a caixa citada acima, com quatro CDs, dividida por temas; um bom painel da vida do cantor. No Submarino tem para pronta entrega, com um preço razoável: R$ 39,90.
Abaixo, um vídeo com uma amostra. Bezerra da Silva e seu realismo nu e cru fazem falta neste mundo hipócrita de hoje.
Fala Migão,
muito bom este video …
Quando o samba é bom até um bom rock acaba virando … que diga o Barão Vermelho/Frejat …
Vovô xaruto
Mas se fosse hoje, duvido que ele conseguiria gravadora.