Passaram quase despercebidos na imprensa brasileira os últimos conflitos envolvendo o Exército local e uma seita religiosa fanática, que resultaram em quase 800 mortos em cerca de uma semana de conflito.

Uma pena que não tenha sido dado o destaque merecido, pois é um bom exemplo de um fenômeno que cada vez mais acomete o ser humano: a intolerância.

Segundo o que se noticiou, o conflito envolveu os seguidores de uma seita radical islâmica, que queria aplicar a “Sharia”, lei religiosa, àquela localidade. No conflito que se seguiu morreram quase 800 pessoas, inclusive o líder da seita – que é mais radical que o “Taleban” afegão.

Algo que vemos, nos dias de hoje, é que o homem está cada vez mais individualista e menos tolerante à discordância. Tendemos a considerar como inimigos aqueles que de nós divergem. Levado ao extremo, se chega a barbáries como esta.

Outra consequência disso é a maior restrição a direitos individuais que, volta e meia, os governos vem aprovando pelo mundo. Podemos resumir na máxima “você pode fazer o que quiser, desde que eu permita”.

Nós, que lutamos tanto pelos nossos direiros e contra o totalitarismo, acompanhamos, e nos acostumamos, com uma forma de totalitarismo ainda mais perversa, que é a progressiva diminuição dos direitos individuais.

Paralelamente, o sectarismo ganha terreno e ao invés de união, o que observamos é a cada vez maior fragmentação do indivíduo em células, cegas às demais e impondo a nossa verdade como verdade absoluta.

Não acredito que a culpa deste fenômeno seja da religião. Ela é meio, mas a intolerância se verifica em posições políticas, econômicas, sociais e religiosas. Na Nigéria a religião foi o estopim, entretanto se analisarmos políticas como o “choque de ordem” da prefeitura carioca, concluiremos que não passa de manifestação de intolerância social.

Afastem estes camelôs daqui porque são gentalha, afastem os mendigos daqui porque não são dignos deste lugar, se não arruma emprego como camelô é que não pode… este discurso do choque de ordem é reflexo de intolerância, também. Alargando o raciocínio, se estas células prejudicadas organizadas fossem, poderíamos ter um conflito de proporções semelhantes.

Meishu Sama escreve em seus Ensinamentos que a melhor forma de paz mundial é fazer com que cada país realce as suas características, ou, para usar a imagem empregada, “deixe a sua cor mais forte, brilhando”. Dominar, impor a sua opinião, seria “pintar outros países com a sua cor”, e na instância final ampliar o sectarismo e a vontade una.

Não encerrarei com apelos à paz mundial ou coisa parecida, soa piegas, mas peço aos meus 17 leitores que reflitam um pouco sobre seus egoísmos, sobre sua capacidade de tolerância e sobre o papel que desempenhamos na sociedade.

O pior mal que podemos fazer é quando o fazemos pensando ser um bem; e impor o nosso pensamento e a nossa cultura como “certos” é um mal desta classe.

Reflitamos. Que estas 800 mortes não tenham sido em vão.