Este blog tem o saudável hábito de publicar textos de autores convidados, especialistas em suas áreas de atuação.
Hoje tenho um grande presente para dividir com meus 19 leitores: um grande autor, um grande artista, divide conosco os seus segredos de criação e conta para a gente como nasce um samba enredo.

Aloísio Villar, compositor Estandarte de Ouro em 2001 e Prêmio Sambanet 2008, ambos com o Boi da Ilha do Governador, com quem tive a honra de vencer duas disputas na Acadêmicos do Dendê (2007/08), é o nosso convidado desta noite de terça. Uma visita ilustre no Ouro de Tolo.

Passemos ao texto, sem mais delongas. Apenas à guisa de informação, “sinopse” é o texto escrito pelo carnavalesco da escola, explicando o tema que a escola levará para seu desfile – o enredo.

“Poderia aqui chegar e tentar botar poesia nessas palavras de como se faz um samba-enredo, imitar João Nogueira e falar que “ninguém faz samba só porque prefere”, mas não é assim.

Talvez samba-enredo seja a única forma de música em que além da inspiração é necessária a transpiração, o dom não basta, tem que haver um entendimento de como funciona a fórmula.

Com o tempo você vai pegando os macetes, os atalhos de uma sinopse, nas parcerias que faço parte sou o letrista e na nossa fórmula de fazer samba ele começa por mim ou pelo grupo de letristas que a parceria tiver (caso tenha mais algum), pra facilitar a feitura da letra é importante que a sinopse esteja dividida em setores, representada para os leigos no número de carros alegóricos, cada carro desses inicia um setor, tendo a sinopse setorizada vc divide também a letra que quer fazer em setores, quantos versos vai deixar pra cada um destes setores no samba.

As sinopses sempre trazem palavras ou frases em negrito, que são peças fundamentais pra serem colocadas no samba, uma letra de samba-enredo tem que englobar o máximo do enredo que puder mas não pode se esquecer que antes de tudo aquilo ali é uma música, uma obra de arte, então tem que haver poesia, sentimento. Não é só a parte prática.

Vencida essa parte a nossa letra é repassada pros músicos, tem uns que recebem a letra crua já e colocam pelo menos uma idéia de melodia, com essa melodia a parceria toda se reúne, aí já com o cavaquinista (nossa parceria tem melodista que toca cavaco); e daí a melodia é desenvolvida, várias vezes nessa fase a letra sofre reparações para se adequar a melodia.

Dúvidas são tiradas com o carnavalesco, ele aprovando o samba é passar para os cantores e gravar, em uma disputa de samba-enredo, essa é a parte mais artística, a partir da entrega do samba começa uma fase que é uma mistura de empresarial e política, então por isso, essa parte da feitura é mais saborosa.”

(Foto: Boi da Ilha 2009, Prêmio Sambanet de Melhor Samba Enredo. Fonte: Galeria do Samba)

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