Como escrevi no post anterior desta série, o final de semana, em especial a sexta feira onde estava sozinho, foi bastante produtivo em termos de leitura. Acabei de ler o livro da resenha anterior, li mais dois inteiros e iniciei a leitura de um quarto, estando quase pela metade.
Um dos livros que li inteiros foi esta honesta biografia do cantor e compositor Ataulfo Alves, autor de músicas que estão, até hoje, na memória e no carinho do povo. Como “Ai, que saudades da Amélia” e “Na cadência do samba”.
Sérgio Cabral (pai), o autor, era amigo do biografado. Com isso, pôde recorrer à sua memória a fim de enriquecer o texto. Ele tem boa experiência neste tipo de escrita, haja visto que é autor de excelentes livros sobre Tom Jobim (especialmente) e Nara Leão.
Conciso, por isso curto, o livro paralelamente conta a vida do cantor e compositor através de suas músicas e de seu crescente prestígio na música brasileira. O livro se inicia com a história de “Amélia”, sem dúvida alguma seu maior sucesso, com a incrível história de que nenhum dos intérpretes de sucesso queria gravar a música. Portanto, a canção marca o lançamento de Ataulfo, também, como cantor.
Iniciando com o nascimento do cantor em Miraí, Minas Gerais, conta a vinda dele para o Rio de Janeiro, os primeiros tempos onde trabalhou em farmácia de manipulação – e tinha Carmen Miranda como cliente – sobre família, os cafés da moda e o progressivo sucesso.
Também perpassa pela “caitituagem”, que depois passaria a ser o odiado “jabá” de hoje em dia. Conta sobre os “comprositores” de músicas e dedica um espaço bastante abrangente à evolução das instituições de direito autoral brasileiras.
O autor se foca mais na obra do artista, pontuando os anos de vida do biografado com as canções mais importantes a cada ano. E fecha com a prematura morte, poucos dias antes de completar sessenta anos de idade, vítima de complicações referentes a uma cirurgia de úlcera.
Sérgio Cabral trata o assunto com extrema prudência, mas fiquei com a nítida impressão de que, no mínimo, o grande artista não teve o cuidado que deveria receber no pós-operatório.
Na parte final do livro, um resumo de todas as canções e todos os discos lançados. Especialmente para mim, que não conhecia a vida e boa parte da obra de Ataulfo Alves. Valeu muito e recomendo a compra e leitura.
Online, só encontrei o livro para pronta entrega na Livraria da Travessa. Comprei o meu exemplar na Saraiva da Tijuca, mas era caso clássico de “livro perdido” no meio das estantes.
Para fechar, “Na Cadência do Samba”:
Composição: Ataulfo Alves/Paulo Gesta/Matilde Alves
“Sei que vou morrer não sei o dia
Levarei saudades da Maria
Sei que vou morrer não sei a hora
Levarei saudades da Aurora
Eu quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba
Mas o meu nome ninguém vai jogar na lama
Diz o dito popular
Morre o homem, fica a fama
Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba”
P.S. – Este é um típico caso onde os parceiros dele são conhecidos “comprositores”, segundo a biografia.
Migão, parceirão…
Acho que o grande Athaulfo Alves ficou marcado com “Amélia que era mulher de verdade” em parceria com o imortal Mário Lago.
Ai Que Saudades Da Amélia
Composição: Ataulpho Alves – Mário Lago
Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Abração
Tarcísio, eu sei disso, tanto que cito no texto. Mas quis colocar uma música menos associada a Ataulfo Alves, embora bastante conhecida.
Mas sempre é um upgrade e tanto comentários como o seu.