
Apesar de certos momentos de radicalização aqui e ali, tenho simpatia pela causa da reforma agrária. Na faculdade de Economia, nos anos 90, enveredei pelo estudo das questões agrícolas e da estrutura fundiária brasileira. Fiz trabalho de pesquisa na área e minha monografia final de curso acabou sendo um assunto derivado, o estudo dos padrões alimentares – ceralista, protéico e variado, classificando grosseiramente – sua evolução e relação com a renda do consumidor.
Por isso, diria que conheço um pouco do tema, mais que as rasteiras e ideologizadas análises que encontramos por aí. E vejo muita bobagem sendo dita e escrita e muita defesa de posição pessoal vendida como “notícia” por parte da grande imprensa.
O Movimento dos Sem Terra (MST) talvez seja o único movimento tipicamente de organização popular que existe aqui no Brasil. Nasceu após secular domínio do latifúndio e como consequência do processo de modernização conservadora sofrido pela agricultura brasileira a partir dos anos 60.
Este processo de modernização conservadora teve como características transformar a velha monocultura na chamada agroindústria, por um lado; por outro, com a mecanização grandes contingentes de pessoal foram dispensados do trabalho do campo. Parte engrossou as comunidades das grandes cidades, empregando-se na construção civil; outro segmento abrigou-se precariamente como bóias-frias em setores da agroindústria mais arcaica.
Deste grupo nasceram as primeiras células do MST, o chamado “grupo histórico”. Basicamente, a luta é pela reforma agrária e pela agricultura familiar, sem implicar na destruição do agrobusiness. Conceitualmente, acho uma luta justa.
Ou seja, o MST não nasceu do nada nem de influências políticas. Surgiu como sub-produto de um processo de ‘modernização’ que na prática só adequou o latifúndio e a monocultura às novas tendências do campo. Vale lembrar que a percentagem da população no campo caiu de 40% na década de sessenta para cerce de seis, sete por cento atualmente. É um contingente muito grande de pessoas e que teve o destino apontado acima.
O leitor atento vai perguntar: “Migão, e as invasões de terra ?”
Acho que há casos e casos. Em determinados momentos, de invasão de latifúndios improdutivos saíram avanços e assentamentos que hoje pode-se dizer que são um sucesso. Tenho restrições a invasões de fazendas produtivas, entretanto temos de analisar por outro ângulo a questão.
O caso atual da Cutrale é um bom exemplo. Como muitas terras, ela é fruto da grilagem de áreas pertencentes ao Estado. “Grilagem” é você ocupar extensões cultiváveis, forjar documentos de posse de terra e a partir destes reivindicar sua propriedade sobre o terreno. É histórico no Brasil e, na prática, é uma forma de invasão. A diferença para a invasão dos sem terra é uma só: estes possuem poder e recursos financeiros. Traduzindo, para condenar as invasões do MST necessariamente há que se fazer o mesmo com a grilagem.
Além disso, não acho correto o emprego da violência por parte do grupo, mas deve-se levar em consideração que é resposta a uma das pragas do campo: a pistolagem. Qualquer pessoa que se interesse pelas questões agrárias brasileiras sabe que todos os fazendeiros têm um exército de matadores para impor a lei e a ordem. A sua lei e ordem. Digo uma coisa a meus 22 leitores: é barra pesada.
Por outro lado, sempre há uma mão amiga no Poder Judiciário e na imprensa para atender aos interesses dos grandes proprietários de terra.
Demonizar o MST só serve ao propósito de quem detém o poder atual sobre o campo e requer a manutenção do estado atual das coisas. Os mesmos do post anterior, na maioria das vezes…
Óbvio que não esgoto o tema aqui, mas é importante para desmistificar certas impropriedades que vem sendo ditas. Combater o MST com a Polícia é repetir aquele velho bordão de que “a questão social é caso de polícia”, sem se ater ao problema de concentração fundiária brasileiro.
Somente uma reforma agrária que preserve lugares para todos os atores neste processo – pequenos, médios e grandes, agricultura familiar e agronegócio – irá resolver a questão. Evidentemente, excessos devem ser coibidos. Mas coibir o MST e deixar os pistoleiros à solta é de uma leviandade ímpar.
P.S. – Existe um livro muito bom sobre a questão chamado “Pioneiros do MST”. Recomendo a leitura.
Eu acho muito estranho organizações como MST, UNE, UBES etc terem ficado em silencio na epoca do Mensalão… vai ver é pq são organizações mantidas pelo governo que aí está. A UNE, por exemplo, recebe mensalmente 4 milhões de reais (limpos) do governo. Com essa mesada, até eu me visto de vermelho e canto a Internacional Comunista, ne?
Fabrício, não me lembro de ver a turma do MST calada neste momento. Houve um certo refluxo devido ao avanço de alguns assentamentos.
De onde são estes dados sobre a UNE ?
Procurei neste texto mais contextualizar a questão do que, propriamente, estabelecer fortes juízos de valor.
Esses dados da UNE saíram na imprensa. Só ir no Google e ver… saíram na epoca da entrevista com o presidente da UNE, que se gabava de nunca ter trabalhado.
Sobre o MST, não vi uma invasão sequer ou protesto contra o mensalão na epoca.
Os caras estão muto mais focados na questão agrária que qualquer outra coisa.
Migão, na epoca do FHC, a imprensa fez um levantamento: estavam invadindo fazendas produtivas, com o unico pretexto de levantar bandeiras ideologicas. FHC, em seu ultimo ano, com base em dados do INCRA (presidido por Raul Jungmann), assentou familias ligadas ao MST. O que fizeram eles? Venderam as terras – pq obviamente não dominavam a tecnica de plantar e tornar a terra produtiva, para comprar eletrodomésticos. Alias, muitas familias beneficiadas pelo Bolsa Familia estao vendendo o que ganham para comprar TV, videogame para os filhos etc.
Dizer que o Raul Jungmann fez assentamentos é uma piada. No meio da Amazônia ?
Eu vou escrever ainda sobre as condições de assentamento. é a segunda parte do texto.
Fala Migão,
os ideais do MST estão muito acima apenas de uma reforma agrária … o ideal deveria ser somente um … a propria reforma …
O pouco que vi in loco dela aqui no RJ me deixou a impressão dela querer favelizar o campo … o que logicamente eu não gostei nem um pouquinho …
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PS: Estarei em Praia Seca neste feriadão … subo na 6ª feira a noite …
Vovô xaruto
Xaruto, eu vou escrever sobre esta “favelização” assim que conseguir me desvencilhar aqui. Tá foda.
Eu também vou pra Praia Seca, só não sei se vou amanhã à noite ou sábado pela manhã. Tem meu telefone ?
Se não tiver, me passa em pVT que eu te ligo.
Bom dia Migão!!!
Olha,vou de encontro ao que o Fabrício escreveu, há muito tempo essa questão já deixou de ser apenas reformista, digamos assim.
Aqui na minha região, sem terra é tudo bandido, só não trabalha quem não quer, pq emprego em fazenda produtiva é o que mais tem e fora das fazenda também.
Já cansei de ser parada no meio da estrada por “sem terras” e se por acaso, eu pensar em passar batida ou desviar, eles apedrejam o carro e vem pra cima.O negócio é párar, ouvir a conversinha e pegar um panfleto pra sair sem sofrer agressão. Aquele líder dos sem terra, é cobra criada aqui da região e se eu pudesse, eu mesma desceria a lenha naquele cara.
Desculpe o tom de desabafo Migão, mas essa gente já passou dos limites e até onde eu sei, os recursos por eles recebidos desde 2003, já chegam a alguns milhões né.
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Se fosse prioridade mesmo pro Lula,ele já teria chamado essa gente pra conversar faz tempo.
Bom dia, Tati !
Não precisa me pedir desculpas, quanto mais o contraditório exercitarmos, melhor.
Só uma dúvida: você está falando do Stédile ? Tive oportunidade em duas ocasiões de conversar com ele e achei bem tranquilo.
p.s. – tem como escanear um panfleto destes e me enviar, por curiosidade ?
bjs
Migão,
confirma seu telefone e manda para meu email … vou fazer o mesmo enviando para seu email os meus numeros …
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Hoje para mim MST=FALVELA … se for para ser assim sou totalmente contra ao MST e seus ideiais …
Vovô xaruto
Esse cidadão aí mesmo.
Ainda acho que ele se faz de coitado pra poder usar aquela gente como massa de manobra.
Assim que possível,te mando sim a prova do movimento anarquista aqui da região,rss
Xaruto, já te respondi em pVT.
Tati, como disse já tive chance de conversar com ele e o achei bastante articulado. Ressalto que faz um tempo que isso aconteceu.
Mas ressalto que eles estão longe de serem um movimento anarquista. O Brasil é que não tem muita tradição de movimentos populares.