Dizem os velhos barqueiros do Amazonas que o segredo da felicidade é simples feito sono de rede. Basta que o sujeito busque a margem do rio-mar ao sol do entardecer e deixe sua sombra refletir num perau qualquer. Se por acaso nesse momento um boto vermelho atravessar o rio e cortar a sombra, a pessoa estará botada; marcada para todo o sempre pelo espírito do boto.
Encantaria.
Para que o encantamento se complete, é necessário que, ao morrer o cabra, o corpo seja oferecido às águas por algum parente ou amigo. Se assim acontecer, Iara transformará o morto num boto vermelho.
Eis a suprema felicidade: feito Mané Garrincha entortando um João qualquer, a pessoa dará um drible na velha da foice e viverá encantada nos mistérios, desejando o bem do mundo para os seus.
Quem pretende ser feliz assim, ensinam os caboclos da beira d´água, deve se dirigir ao rio nas horas do poente, pois é o momento em que os botos vermelhos suspiram suas artimanhas de delicadezas e felicidades, rememorando amores faceiros, dos tempos em que eram homens viventes.
De minha parte, alumbrado de Brasil nos meus amores, sempre que posso espio, nos escondidos do sol, o meu rio Maracanã – serpenteando minha aldeia e seus meninos descalços.
Nesses meus olhos aluados, passa todo dia um Amazonas de detritos, merdas e saudades, mas também pode passar desapercebido, entre cacos de garrafa, latas de cerveja e pneus de bicicleta , um boto vermelho suspiroso. Êh, meu Maracanã…
Digo e confirmo: Na hora do meu encantamento é ali, nas águas da aldeia, que quero estar, para que a mãe d´água me abençoe e faça de mim um mensageiro simples das maiores alegrias.
Um boto vermelho nos infinitos.
E só.
Abraços
Ps: esse arrazoado me recordou, sei lá por que amazônicas cargas d´água, o samba monumental e triste que Claudio Russo, Leleco, Zé Luiz e Isaac fizeram para a Acadêmicos do Grande Rio no carnaval de 2006 – Amazonas, o Eldorado Brasileiro. Por um desses absurdos que marcam as escolas de samba nos dias de hoje, o samba perdeu a disputa na quadra e não foi à avenida. A Grande Rio, para variar, perdeu a chance de cruzar a Sapucaí com um samba que poderia ser, sem favor, o maior de sua história. É só conferir aqui .
Não conhecia essa samba da Grande Rio! Muito bonito mesmo!
Aliás, Grande Rio e Salgueiro estão revezando estandartes de desperdício de bons sambas ano após ano!
Para jogar cadáver no Rio Maracanã eu acho que sua família terá que pedir autorização para a Subprefeitura da Tijuca, Professor.
Um abraço,
R.Pian
Isso me lembra a celebração das cinzas do saudoso Fernando Toledo, na Muda, ao som de Saudades da Guanabara. Poético.
claudio russo gosta de fazer samba bom!
beija flor 2007 é, pra mim, um dos últimos grandes sambas. cantado por bruno ribas na defesa do samba, então, espetacular!
dyocil