
Carlos estava pensativo em seu carro popular, embora bem equipado. Parado no trânsito, lembrava-se do caminho que percorrera até ali. Fora casado e trocado por um famoso jogador de futebol, advindo o divórcio daí. Beirando os trinta anos, possuía um bom padrão de vida e uma filhinha.
Imaginava quão rotineira havia sido a sua vida nos últimos tempos. O trabalho em uma empresa transnacional, os cuidados com a filha, a religião. Pouco sobrava para a leitura e a música, suas paixões. Coração, o que é isso ?
Imerso em suas divagações e imerso em um mar de carros, Carlos repara em uma jovem moça, dentro de um carro francês preto. Jovem, branquinha, cabelos negros e óculos de grau, aparentemente bem vestida, vidro semi-aberto e falando ao celular. Bela moça, pensa ele.
Nosso amigo desvia o olhar para trocar a faixa do CD e, quando volta a subir os olhos por trás das lentes também míopes, percebe a moça acenando para ele:
– Você viu ?
– Não, o quê ?
– Roubaram o meu celular enquanto estava falando ! Esta cidade não tem jeito !
– Podia ser pior, pelo menos você está bem.
– Eu estava falando, veio o garoto e arrancou de minhas mãos – disse enquanto enxugava as lágrimas.
Nosso personagem imediatamente pensou que ela havia dado bobeira em deixar os vidros abertos, mas o trânsito andou um pouco e ele nada disse.
Poucos metros à frente, pararam os dois carros lado a lado. Ele pergunta:
– Está tudo bem ?
– Sim, está. Obrigado por ter se preocupado.
Os carros andam, entram no túnel. Nosso amigo ficou pensando em quão bela era a moça.
Mais tarde, no sinal que dá acesso à Rua Mariz e Barros, na Tijuca, Carlos olha para o lado e quem ele vê ? O Peugeot preto. Ele buzina, abaixa o vidro e o diálogo é rápido:
– Olha quem está me seguindo ! – e abre um sorriso.
– Está indo para onde ?
– Tijuca.
– Eu também !
E, para surpresa dele…
– Roubaram o meu número, mas grita o seu. Antes que o sinal abra…
– Ok. 9…
O sinal abriu e os dois carros seguiram a mesma direção. Carlos entrou antes na rua em que morava. A moça seguiu pela Mariz e Barros em direção à Praça Saenz Peña.
***
Domingo, final da tarde. Carlos já havia deixado a filha na casa da avó e estava pegando a cerveja para acompanhar mais uma peleja dominical quando o telefone toca:
– Alô ?
– Por um acaso, é o moço do sinal de trânsito, na sexta feira ?
– Sim, ele mesmo.
– Pois eu sou a menina do Peugeot. Muito prazer, Gabriela.
– Carlos, prazer.
O papo seguiu e combinaram de se encontrar em um shopping das proximidades ainda naquele final de domingo. Ao chegar no shopping e encontrar uma vaga, ao manobrar coincidentemente o carro dela estacionava na vaga ao lado.
Conversaram bastante naquele início de noite. Descobriram que trabalhavam com diferença de apenas quatro andares em um único prédio, que compartilhavam a mesma profissão e religião, bem como a paixão pela leitura. Ela era mais nova que ele, entretanto.
Despediram-se e, no dia seguinte, ele telefonou-lhe chamando-a para almoçar. Sem que combinassem, ele apareceu com um grande bouquet de rosas vermelhas e ela, com um livro. No final daquele almoço, o primeiro beijo.
Algum tempo depois, a primeira noite. Para surpresa dele, para Gabriela era a primeira noite de sua história.
Seis meses depois estavam morando juntos e, dois anos, nascia a pequenina Luisa.
Uma linda história de amor, com um lindo final feliz.
Precisamos de mais finais felizes em nossas histórias.”