
Com isso, aqui temos a segunda resenha desta semana: “Olho por Olho”, do jornalista Lucas Figueiredo.
Basicamente, conta a história do “Brasil: Nunca Mais”, livro que contou a prática da tortura no Regime Militar. Este é um livro fundamental para se entender a história recente do país. Por outro lado, apresenta o “Orvil”, que seria a “resposta” dos militares ao livro em questão – que jamais foi publicado.
A história do “Brasil: Nunca Mais” tem lances inacreditáveis, e que eu desconhecia. O arquivo do Superior Tribunal Militar foi todo copiado, em uma operação de guerra; daí tirados os dados que, depois, embasaram as denúncias apresentadas no livro.
Também conta como este processo – que desaguaria no livro – foi financiado, através de participação decisiva de D. Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo à época.
Revela também os autores da versão final a ir para as livrarias – Ricardo Kotscho e Frei Betto.
Diga-se de passagem: Ricardo Kotscho é um privilegiado. Ele foi ator ativo em todas as grandes passagens da história do Brasil da década de 80 para cá. Onde tem coisa boa na política ou no jornalismo, provável que tivesse a mão dele ali. Muito legal.
Na segunda parte do livro o autor passa a descrever o “Orvil”, que era a versão dos militares dos fatos dispostos no livro anterior. Este livro, cuja publicação foi vetada pelo então Presidente José Sarney, muitas vezes manipulava os dados contidos nos próprios processos para manter versões já contraditas de assassinatos e “desaparecimentos”.
Além disso, os próprio livro dos militares acaba elucidando o destino de alguns “desaparecidos”, em uma brilhante trabalho de pesquisa do autor.
Outro pedaço do livro é destinado a contar a mística envolvida em torno do livro do Exército após o veto à sua publicação. Cerca de 15 cópias do “Orvil” foram feitas e circulavam com um fervor quase religioso entre a comunidade militar. Tal qual a Maçonaria, a divulgação era apenas aos “iniciados”.
Aos poucos este controle foi se afrouxando e, inclusive, o Orvil se encontra disponível na internet.
Livro muito bom, que pode perfeitamente ser lido como um “thriller” de suspense. Texto fluente e, com toques de ironia aqui e ali, acaba transformando um tema “pesado” em uma leitura bastante agradável.
Deve ser um livro bem interessante…foi um período bastante macabro não só no Brasil e como no mundo em que a violência era imperativa entre grupos de ideologia diferentes. O “Brasil:Nunca mais” é um marco. O homem fez a segunda-guerra. Acabou em 1945. Daí teve as revoluções africanas, seguidas de revoluções asiáticas e latino-americanas. Revoluções baseadas em revolta armada. O mundo fora da Europa entrava na terceira guerra mundial. Esta só acabou mesmo, digamos, nos anos 80.
Existe um outro livro que um Coronel, o Ustra lançou, acho que é “Verdade Sufocada”, que conta a versão dele sobre os fatos. Ele que foi do DOPS/SP. Este “Olho por olho” chega a citá-lo?
Na minha opinião, o Brasil entrou como peça de dominó. Fez o Golpe Militar apoiado pelos EUA para se opor a hegemonia soviética no resto do mundo. Assim como diversos países da América Latina. à partir daí (em alguns casos antes disso), os grupos brasileiros de apoio aos soviéticos se insuflaram e iniciaram a guerrilha com violência. E com violência foram tratados pelos militares. O problema é que a visão hegemônicas dos revoltosos não era nada democrática. A inspiração era trotkista, stalinista, maoista, castrista, leninista. Tudo optando pela força armada.
Depois a poeira baixou. Entre mortos e feridos, os derrotados assumiram o poder e derrotaram os militares, fazendo-os perder qq relevância na participação política e ainda ganhando pesadas indenizações. Para tomar e garantir o poder tomaram as ordens do cara mais esperto de todos os tempos da esquerda: Gramsci.
Henrin, o livro do Ulstra (torturador juramentado) é citado sim, como um sub-produto do Orvil.
Concordo que a vidsão da luta armada não era exatamente democrática, mas discordo que, hoje, tenhamos um governo de esquerda.
E à época muita gente foi perseguida, exilada e torturada independente de ser guerrilheiro ou defender uma ditadura aos moldes cubanos ou chineses. Por isso que tendo a divergir dos militares.
Em tempo: nada justifica a tortura.
Claro que temos um governo de esquerda. A esquerda é que se adaptou ao Grande Capital. Mas as políticas de esquerda estão todas aí…Estado forte e bem predominante na economia, assistencialismo desenfreado, cotas sociais, cotas raciais, bolsas disso e daquilo, “peixe mais valorizado que a pesca”, impostos altíssimos junto à população, grandes empresas cheias de poder e dinheiro, pequenas e médias empresas estranguladas, criação de países indígenas para meia dúzia de assimilados, expulsão de agricultores de terras invadidas, medidas autoritárias contra população civil (exemplo instituir um corte de idade arbitrário e absurdo para uma criança entrar em uma série) desvalorização da democracia representativa…
E quanto aos Milicos, os mesmos foram violentos e torturadores. Não prestavam. Tb divirjo deles. O país poderia ser conduzido sem entrar nesta seara sanguinolenta. Evidente que criminosos (terroristas) deveriam ser perseguidos e presos, mas nunca submetidos a uma violência tão medonha.
Bem fez o PCB que jamais quis alinhar com a violência como método. Os caras eram espertos e sabiam das coisas.
Mas se os revolucionários (stalinistas, trotkistas, castristas, etc) assumissem o poder e agissem conforme mandasse o figurino teríamos outro banho de sangue. Ou seja, a democracia, liberdade e paz é o que menos valia no período, para todos os lados. Foi um período conturbado e perturbado. Por infelicidade muitos foram levados na onda e sofreram injustiças terríveis. Além de famílias despedaçadas, por terem filhos como vítimas e outras por terem filhos torturadores. Que é uma forma de morte tb.
E o Golpe Militar não tem justificativa para que acontecesse. Evidente que Jango estava fora do figurino “Do lado de cá da Cortina de Ferro””, mas as eleições já iriam acontecer, e dois fortes candidatos estavam prontos, o JK e o Lacerda. Os dois eram fortes e saberiam conduzir o país em um momento turbulento. Mas os EUA mandou virar a mesa e então…
Henrin, o que você aponta como defietos, para mim são qualidades. (risos)
quanto ao golpe, era inevitável. vivemos um momento semelhante hoje
p.s. – Lacerda era um fdp