Embora ainda não esteja oficialmente nas lojas, eu ouvi as gravações oficiais dos sambas de enredo do Grupo de Acesso A – a Segunda Divisão do Samba.
Faço aqui uma pequena análise de cada samba, lembrando que é uma primeira impressão e que esta vai se alterando à medida em que o tempo passa e ouvimos mais vezes os sambas.
Em geral, esta é uma safra de sambas bastante superior aos três últimos anos, pelo menos. Não há nenhum samba que seja insuportável aos ouvidos ou que faça pular a faixa do CD. A promessa é de um desfile bastante agradável aos ouvidos no sábado de carnaval de 2010.
Reitero que comprarei o CD e que é dever de todos os leitores também o fazer.
Vamos às escolas, pela ordem de apresentação na Marquês de Sapucaí:
1) Unidos de Padre Miguel: a escola, que vem do Acesso B, constrói um samba que não é tão bom quanto 2008 nem tão ruim em relação a 2009. Letra e melodia medianas e refrão bastante feliz. Seu enredo é sobre o aço;
2) Império Serrano: a escola da Serrinha – onde irei desfilar – tem um samba valente para o enredo sobre João do Rio. O refrão principal lembra um pouco o samba da Imperatriz de 2009, mas isto não tira os méritos da boa composição.
3) Império da Tijuca: enredo afro, sobre a Rainha Jinga, deu à escola aquele que é o melhor samba enredo inédito deste ano. O curioso é que o samba é de uma parceria oriunda da União da Ilha e que fizeram um samba bem diferente do que estamos acostumados a ver na escola insulana. Bela melodia e letra valente.
4) Paraíso do Tuiuti: sem ser brilhante, é o melhor samba inédito da escola desde pelo menos 2002. A história de Eneida de Moraes é cantada de forma bastante lúdica.
5) Inocentes de Belford Roxo: para mim é o samba mais fraco da safra, com um batidíssimo tema de preservação da água. O refrão final tem a melodia idêntica ao “Rap do Silva”. Assim mesmo, não chega a ser desagradável.
6) Renascer de Jacarepaguá: a vice-campeã do ano passado tem um samba de Cláudio Russo, campeoníssimo em grandes agremiações cariocas. Também com enredo sobre a água (mas em perspectiva diferente), a composição soa como cópia de outras composições do autor – o que não chega a ser um defeito.
7) Caprichosos de Pilares: reedição de 1985 – o famosíssimo “E Por Falar em Saudade” – é o melhor samba da safra. Entretanto, acredito que um puxador melhor daria ainda mais brilho à gravação. Sem dúvida alguma, deve ser o grande momento da noite de desfiles.
8) São Clemente: muitos analistas não gostam deste samba, mas eu acho que ele vai “pegar” na avenida – ou seja, se popularizar e trazer o público junto. A letra da segunda parte é bem engraçada. Seu tema é uma sátira ao “choque de ordem” da prefeitura e às mudanças ocorridas nos desfiles.
9) Santa Cruz: o samba não é nada demais, mas é bem melhor que os péssimos sambas dos últimos anos. Espero não dormir na avenida, tal e qual 2009. O enredo é sobre a dança.
10) Acadêmicos da Rocinha: um bom samba sobre as Ykambiabas, guerreiras amazônicas, defendido com brilhantismo pelo puxador Leléo.
11) Estácio de Sá: o samba sobre a sua própria história é bom, mas falta aquele algo mais de quem vem falar de si mesma. De autoria de Gusttavo Clarão, lembra alguns sambas da Viradouro com a mesma autoria.
12) Cubango: fechando os desfiles, um samba correto sobre o hoje prédio da UFRJ na Urca. O prédio, onde estudei na faculdade de Economia, possui uma história secular e rica, já tendo sido um asilo de loucos. Não chega nem perto do antológico “Afoxé” de 2009, mas possui muitas qualidades.
Em resumo, é um disco que não deixará em quem o adquirir a sensação de que foi dinheiro e tempo desperdiçados. Muito pelo contrário.