Nöel Rosa é um dos inventores do Brasil, gênio da raça. Deveria ser ensinado nas escolas, cantado nas universidades, bebido nos botequins, saudado nas esquinas e reverenciado nos terreiros.
Nöel Rosa é Exu e Oxalá ao mesmo tempo – homem da rua, dono do corpo, malandro maneiro, azougue de céu e terra, civilizador afoito e velho sábio. Feito Obatalá bebeu o vinho de palma, dormiu na sombra da palmeira, largou a medicina como se larga a tarefa de Olodumare, zombou da sorte, não criou o mundo mas moldou no verso – ritmado em samba – o homem.
Nöel Rosa é tapa na cara do preconceito e prova evidente de que o maior elemento civilizador do Brasil é o samba. Não pensou em remover favela – subiu o morro, aprendeu, ensinou, bateu, levou e inventou a vida entre o pandeiro e a viola. Branco azedo entre os pretos, feito camisa do Botafogo.
Nöel Rosa é conversa de botequim, futebol no rádio de pilha, conta pendurada, caldo verde pra curar ressaca, conversa fiada, sacanagem no portão, punheta de garoto, pêra uva maçã salada mista, selo carniça nova, pipa no céu, bola ou búlica, vida pela sete, com tabela na caçapa do meio. Brasil que gosta do Brasil.
Nöel Rosa é festa da Penha, novena, quermesse, tambor de mina, sessão de mesa, doce de Cosme, baile nos infernos, flor e navalha, afago e pernada, gol de letra e gol de mão, pomba da paz e galo de rinha, Estácio, Tijuca, Vila – o Brasil que sabe, e Morengueira confirma, que em casa de malandro o vagabundo não pede emprego.
Nöel Rosa viveu no tempo em que do morro da Mangueira se enxergava a Vila Isabel. Hoje, entre o Buraco Quente e o Boulevart, existe o prédio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro pra esculhambar a vista – e não se ensina o poeta, e não se canta o poeta na universidade: Pior pra ela.
Nöel Rosa faz aniversário hoje: nasceu no dia 11 de dezembro de 1910. Nunca morreu; encantou-se em Vila Isabel aos vinte e seis anos, feito Mestre da Jurema, Zé Pilintra, caboclo de pena, boiadeiro de laço, erê de cachoeira, bugre do mato, malandro da encruza e exu catiço.
Nöel Rosa é da família dos encantados que moram nas esquinas, campos de várzea e botecos vagabundos, e baixam quando a noite é grande e a cachaça é farta: Mané Garrincha, Aleijadinho, Bispo do Rosário, João da Baiana, Cartola, Mãe Senhora, Geraldo Assoviador, Villa Lobos, Bimba, Pastinha, Camafeu de Oxóssi, Lima Barreto e Zulu, mestre do Favela, são da mesma guma de ajuremados – os caboclos nossos, brasileiros.
Chama Nöel Rosa, seu Wilson das Neves, chama :
Um primor de texto,lindo,lindo..
Pensando bem, acho que você foi um dos responsáveis por eu ter devorado a biografia do Noel Rosa (escrito por João Máximo e Carlos Didier) durante o meu 3º ano. Dali nasceu uma paixão incurável, uma mania de ouvir e ler tudo a respeito de Noel.
Digo que você foi um dos responsáveis, porque teve também o meu pai falando desde sempre do orgulho de ser de Vila Isabel e da maestria de seu ícone maior, Noel Rosa. E, além disso, teve também o acaso (se é que ele existe), que fez com que o livro aparecesse na estante lá de casa exatamente nessa época.
O fato é que li aquilo ali de cabo a rabo e fiz questão de, assim que possível, levar a obra noelina para a faculdade (Letras/UERJ). Fiz um quadro e até uma monografia a respeito na minha primeira pós. :-P
Enfim, aproveito aqui para, singelamente, te agradecer. E, bem, salve Noel Rosa, rumo ao centenário!
Você tá cada dia melhor, compadre!
Saúde e vida longa pro nosso poeta das Histórias Brasileiras.
Abraço,
Mauricio Carrilho
nossa, professor… deixou a gente arrepiado!
Espetáculo, o texto em homenagem a Noel, professor!. E hoje tem a festa de aniversário na quadra da Vila Isabel. Tem Martinho da Vila, Martin’ália e muito mais gente boa´do nosso querido bairro.
Abraço!
Com que roupa? É por este texto e outros que passei a vestir Histórias do Brasil. Não teve jeito, tive que recomendá-lo no meu blog.
Continue, continue!
Beijo.
Maravilha de texto. Mais uma!
Meu querido Simas.
A gente já sabe disso, mas lendo as suas palavras cheias de sangue (das veias desse Rio e desse Brasil que amamos tanto), repito: feliz de um povo que tem Nöel Rosa entre os seus!
E digo: feliz de um povo – e de uma cidade – que tem Luiz Antonio Simas entre os seus!
Um abraço, meu velho. Pouco nos conhecemos, mas você é digno de imensos respeito e admiração. Obrigado por esse texto lindo que nos traz pro chão do nosso samba (sem o qual não vivo), da nossa terra (Rio-Brasil), da nossa gente.
Viva o Poeta da Vila e pau na canalha!!!
Mestre, é verdade que Noel Rosa era torcedor do Prazer da Serrinha?
SYLAS, muito obrigado pelo elogio. Um abraço.
BIA, que bom ler essa tua declaração. Beijo!
MAURICIO, repito o que te escrevi no email agradecendo o choro: é estranho ver o ídolo elogiando o fã. Abração!
EUGENIA, valeu a força.
Ô Claudio, salve a Vila. Grande abraço!
VANESSA, fui no teu blog agradecer. Valeu o carinho!
MARCELO, cada vez mais meu camarada: Obrigado pela referência no Pentimento. Abração.
EDUARDO, meu caro, eu sou só um cachaça admirador do samba e doido pela nossa cidade. Abração
ANDREAZZA, Nöel foi Prazer e foi imperiano antes do Império! Não tenho qualquer dúvida. Abração.
Textíssimo, Professor! Rosa foi o verdadeiro Papai Noel do Brasil…
Nossinhora!!!! Bonito demais da conta! Lindo, lindo , Simas. Emocionante. Parabens.
Voce é tudo de bom que lindo texto, fico feliz por ter uma boa leitura para fazer diariamente, e aumentar os meus conhecimentos.
Primoroso. Noel merece um texto desses.
Simas, eu achava que o Noel não tinha explicação, até ler esta maravilha. Que beleza!
“Branco azedo entre os pretos, feito camisa do Botafogo.” Que simbolismo lindo!
Se Noel Rosa deveria ser ensinado nas favelas seu blog deveria se tornar obrigatorio nas escolas pra ensinar a essa garotada um amor sincero e lucido por esse Brasil tão mal amado. Mais uma vez, obrigada por tão belo texto.
Caro professor, sou um estudioso de Noel. Sempre aprendiz. Ele é surpreendente a cada vez que é visitado. No próximo dia 6 de março de 2010, no Bar do Tom, eu e um grupo de músicos amigos apresentaremos o show “SAMBA DE NOEL”. Seu texto é primoroso, como bem o disseram antes de mim. Por isso peço sua autorização para usá-lo como texto de abertura, e aproveito para convidá-lo para estar presente e receber nossos agradecimentos.
Conto com sua compreensão e autorização, pois o uso será unicamente para esse fim.
Aguardo sua resposta com ansiedade.
Atenciosamente,
Karlo Muniz
KARLO, pode usar o texto sem problemas.Vou tentar ver o show de vocês.
Abraço e Viva Noel!
Caro Professor,muito obrigado, em meu nome e no dos meus companheiros. Viva Noel!
Luiz Antônio Simas
Este ano de 2010, centenário deste grande mestre da música brasileiras não faltarão homenagens. Gostaria de divulgar a todos uma bela homenagem que será feita aqui no Ceará, minha terra amada. O Festival Mel,Chorinho e Cachaça, que ocorrerá nos dias 30 de abril, 01 e 02 de maio, em Viçosa do Ceará, pretende humildemente apresentar a genialidade do “Poeta da Vila” com a presença de nomes como Armandinho, Demômios da Garoa e grupo “A quatro vozes” entre outras atrações. Espero contar com a presença de vocês neste evento, e pedir autorização também professor para usar o seu belíssimo texto na abertura do festival. Mais informações no site! http://www.melchorinhocachaca.com.br
Texto belíssimo professor Simas.
Gostaria de informar que aqui no Ceará teremos homenagens à Noel Rosa, no Festival Mel, Chorinho e Cachaça, que ocorre de 30 de abril a 02 de maio na cidade serrana de Viçosa do Ceará! Dêmonios da Garoa e outras grandes atrações irão enaltecer a maestria do Poeta da Vila. Espero que você possa vir tbm! Grande abraço!