Dia inteiro de reuniões, uma ressaca tremenda (mas com uma boa causa) e somente agora consigo escrever.

No excelente livro “Febre de Bola”, em que o escritor inglês Nick Hornby fala sobre a sua paixão pelo Arsenal, em um capítulo ele conta a saga da quebra de um jejum de 18 anos do time inglês sem um campeonato nacional. Ele fala que só acreditou na conquista do sonhado título quando o árbitro apitou o final da partida.

Faço este paralelo para escrever que, ontem, meu sentimento era exatamente o mesmo. Aliás, eu passei uma semana inteira muito tensa, tanto que sequer escrevi aqui na semana passada sobre a partida. Queria esperar, até porque fora testemunha ocular de recentes decepções.

Além disso, dezesete anos não são dezessete dias. Tínhamos noventa minutos para mudar isso.

Cheguei ao Maracanã por volta da uma e meia da tarde, ou seja três horas e meia antes do jogo. O estacionamento do prédio da Petrobras, onde deixo o carro, tinha grande fila – algo que nunca tinha visto nos últimos anos.

Pego o meu ingresso com a santa alma que me permitiu estar no estádio, tomo uma latinha de cerveja e sigo para a entrada da rampa. A experiência da final do Estadual fazia crer que, faltando três horas para o início do jogo, a entrada pela rampa das arquibancadas seria fácil. Enganei-me redondamente…
Cheguei na rampa do Bellini, muito tumulto e uma fila gigantesca. Dei a volta para entrar pela rampa da Uerj, entrei na fila, começou o empurra-empurra e resolvi sair para tentar uma outra alternativa.
Dei sorte. Dentro da confusão em que estava para entrar – e quase nenhum policiamento – de repente vi-me dentro do “cercado” que leva às catracas. Passei meu ingresso, subi a rampa e me dirigi às arquibancadas amarelas à direita das cabines de rádio – onde normalmente fica a torcida adversária.

Enganei-me redondamente quanto à tranquilidade. Tomei um refrigerante – a última bebida que minha garganta veria até o final do jogo – e sentei-me em meu lugar.
Cheguei a ver o final da preliminar com os Masters do Flamengo (foto acima), enquanto alternava com uma leitura que havia levado. O clima era de confiança, mas sem aquela euforia desmedida típica dos rubro-negros. Pairava o fantasma dos dezessete anos e das decepções recentes em jogos decisivos.

À medida em que passava o tempo, uma eletricidade percorria o ar e elevava o clima de tensão. E as arquibancadas cada vez mais lotadas.
Tenho certeza de que havia mais gente que o número de ingressos vendidos, porque estava superlotado. Se estourasse uma briga acredito que haveria uma tragédia.

Sem dúvida alguma, o aceso ao estádio e esta questão da superotação precisam serem revistas.

Na entrada do time em campo, uma grande festa. O clima estava bastante tenso, entretanto estávamos confiantes. Duas cenas engraçadas: os torcedores do Grêmio unidos conosco e os gritos uníssonos de “entrega” de nossa torcida.

Eis que surge, do nada…o gol do Grêmio. Olhamos uns pros outros com aquela cara: “de novo?” O time não jogava bem, talvez pressionado pela necessidade de fazer o resultado.
Vem o gol de David, euforia e esperança: “ainda dá”.
Eu estava muito tenso. Cheguei a me sentir mal durante o intervalo.

No início do segundo tempo, o time fez uma “corrente” no centro do campo e ali me convenci de que a história seria diferente. Pressão e o gol salvador, que foi em frente onde eu estava. Privilégio.
Os caras ainda perderam um gol feito, mas depois não incomodaram mais. Para o Grêmio a derrota pela diferença mínima era ideal: atendia ao seu objetivo de não deixar o grande rival ser campeão, mas afastava os boatos de que o time entregaria o jogo.
Final de jogo, a catarse. Dezessete anos e vários fracassos expurgados em um só grito: “é campeão”. Não dá para descrever em palavras o que senti naquele momento. É um misto de alegria, euforia, alívio e recompensa.
Basta comparar a foto mais acima, de antes do jogo, com a que posto abaixo, já depois:

O retorno, alegre retorno, foi bastante tranqüilo. Fui pra casa ver todo o noticiário esportivo e beber até não poder mais.
Eu gravei dois vídeos, um da entrada em campo e outra logo após o apito final do árbitro, colocarei aqui amanhã.
Apesar de todo o sufoco, de toda a desorganização, valeu muito a pena. Certas coisas não têm preço.
Esta semana ainda falarei bastante sobre esta grande conquista. Mas Nick Hornby tinha toda a razão.

7 Replies to “Dezessete anos em noventa minutos”

  1. Fui no Maraca tb Migão…Cheguei cerca de 2:45 para o setor de cadeiras e me estrepei. As patifes que comandavam o Maracanã fecharam a grade que daria acesso ao setor de cadeiras e começou a se aglomerar uma multidão cada vez maior e mais nervosa que pressionou crianças e idosos contra a grade. Não satisfeitos com isso chegou policiais descendo a porrada com cassetetes na população que estava só cometendo o “crime” de querer entrar com ingresso na mão. Espalharam gás de pimenta o diabo. Crianças chorando, pessoas caindo no chão e vomitando. Cidadãos sendo vítimas da truculência autoritária de uma polícia violenta e corrupta. Mas era decisão e decidi entrar de qq maneira. Fiquei indo e vindo no tumulto e cerca de 16:45 consegui entrar expelido pela multidão na pequena abertura que deram na grade. E quando cheguei lá dentro, policiais me esperavam de cassetete na mão como se eu estivesse fazendo alguma coisa violenta e ilegal. Um absurdo. Me senti um blogueiro da Ditadura Estúpida Cubana.

    Enfim cheguei lá dentro. Extenuado. Tinha me perdido de meus amigos. Sentei nas cadeiras e aguardei um jogo tenso, nervoso, em que o Flamengo tremeu de início ao fim (com honrosa exceção do Everton). Mas ganhou, foi Hexa e isto é que importa.

  2. Fala Migão,

    SAUDAÇÕES RUBRO NEGRAS

    Maracanã não é mais a minha praia … mas confesso que coisa linda é ver o Maracana todo de vermelho e preto … é de arrepiar …

    PS:Em todos os jogos em que há superlotação no Maracanã a coisa mais dificil é voce cnseguir entrar no estádio … nunca me esqueço da final contra o Galo em 1980 … simplesmente tive que pular o portão 18 se não engano, pois passar pelas roletas era impossivel.
    O certo seria nestas ocasiões abrir os estadio mais cedo,lá pelas 10 horas, para evitar estas aglomerações na entrada …

    SALVE O HEXA CAMPONATO!!!

    VOVÔ XARUTO

  3. Henrin, não acho que tenha tremido. acho sim, que sentiu as ausências, em especial do Maldonado.

    Além da ansiedade normal para uma partida como esta.

    p.s. – quer dizer que nas cadeiras foi pior que nas arquibancadas ?

    Xaruto, é meio hard chegar dez horas para um jogo às dezessete, você não acha ?

  4. As cadeiras foram muito pior. Os malditos fecharam os portões e a aglomeração na frente tomou um vulto gigantesco e incontrolável. E apesar dos apelos os patifes, irresponsáveis e indivíduos sem alma e sem mãe mantinham os portões fechados. Depois chegou com a polícia e ao invés de prender os putos que fechavam os portões foram para cima da multidão.

    A polícia brasileira em sua saga patrimonialista irreversível.

  5. É, a nação rubro-negra continua em festa!
    Se a escrita continuar, o próximo título brasileiro virá em 2016 e o técnico será o Toró?
    E o Angelim hein, tão maltratado pela torcida nos tempo do Ney foi lá fez o gol do título!
    Pra fechar, o HRL é o melhor árbitro da temporda, ele junto aos flamenguistas comemorando, que alegria!!!!
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  6. Tati, eu irei escrever um post sobre o Angelim, mas hoje tá meio brabo aqui. Tanto que a “Samba de Terça” só deve sair amanhã ou quinta.

    O Toró só pode ser técnico na barraca de peixe da feira.

    Henrin, não sabia que tinha dado este quiprocó todo nas cadeiras não.

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