Completando a série de resenhas, hoje temos um livro bastante interessante, que analisa a influência americana no Golpe Militar de 1964 e o posterior relacionamento com a ditadura militar.
Baseado principalmente em documentos revelados recentemente dos arquivos de órgão norte-americanos, Carlos Fico faz um painel muito preciso do período compreendido entre os anos imediatamente anteriores ao golpe de estado e o final do Governo Médici – onde termina o período dos documentos liberados.
Grosso modo, o livro é dividido em quatro partes:
1) A preparação do golpe. Neste trecho desnuda-se o papel americano na deposição de Jango e o imediato reconhecimento – que o próprio Presidente Johnson considerou precoce – do novo regime.
Revelam-se detalhes da “Operação Brother Sam”, que consistia em apoio militar e logístico aos amotinados em caso de resistência legalista. Também desnudam-se uma série de programas assistenciais americanos em solo brasileiro.
2) Castello Branco e as “relações carnais”. Período em que o governo brasileiro alinhou-se totalmente, com requintes de subserviência ao governo norte-americano. Os principais representantes desta postura eram o desgraçado do economista Roberto Campos (que a esta hora deve estar passando um sufoco tremendo no fundo do fundo do inferno) e o embaixador nos EUA Juracy Magalhães.
Destrincha também o uso dos programas de empréstimo como fator de pressão sobre o governo brasileiro e mostra o acesso irrestrito que o pessoal da Embaixada americana tinha com o presidente Castello Branco e os mais altos círculos de poder.
3) Costa e Silva: período de relativo distanciamento e de muita preocupação com o progressivo endurecimento do regime militar. O governo americano ficou bastante preocupado em sua imagem ao apoiar uma ditadura, então trazia suporte mas não da forma escancarada do governo anterior.
Outro momento retratado são as constantes lutas de poder dentro do próprio Departamento de Estado norte-americano e o problema criado pelo sequestro do embaixador Charles Elbrick.
4) Garrastazu Médici. Apaziguamento tendo em vista a crescente preocupação e desejo do governo brasileiro em possuir um papel mais preponderante na América do Sul.
O livro mostra manobras ocorridas durante a visita de Médici aos EUA no sentido de mostrar aos brasileiros que seu país era importante aos EUA – ao mesmo tempo, a realidade era de que o Brasil não tinha a menor importância na geopolítica americana, preocupada que estava com o Vietnã.
Outrossim, diminui a preocupação com a tortura e a ditadura – o “problema” era o Chile de Allende.
Obviamente que esta resenha não esgota os assuntos tratados no livro, mas acredito que seja leitura indispensável para se entender um pouco das relações Brasil-EUA.
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