Parece sacanagem. Fui escrever ontem sobre o Rei Momo, clamando pela volta dos balofos ao posto mais nobre do carnaval, e no mesmo dia recebi a notícia mais impactante da minha vida de folião. Vou até mudar de parágrafo para escrever o troço.
A Bahia escolheu o Rei Momo do carnaval de 2010. Sabem de quem se trata? Pepeu Gomes, o cantor e guitarrista. Repito: Pepeu Gomes é o novo Rei Momo baiano [vejam aqui]. A escolha do soberano da folia baiana confirma uma máxima do Barão de Itararé: De onde a gente menos espera é que não vem nada mesmo.
Fico aqui imaginando o que diria o primeiro Rei Momo do carnaval brasileiro, o jornalista Moraes Cardoso. Foi graças a ele, Moraes, que a figura do Rei Momo pudim de banha se estabeleceu entre nós. Explico.
Em 1933, com o carnaval oficializado pela prefeitura do Rio de Janeiro, os jornalistas de A Noite tiveram a ideia de nomear um monarca para a festa. O escolhido foi o repórter de turfe Moraes Cardoso, um sujeito assombrosamente gordo e gaiato. Estava sendo criada aí a tradição. Fosse Moraes Cardoso uma Olívia Palito, o Rei Momo magro teria se estabelecido entre nós.
O Rio de Janeiro, portanto, é uma cidade tão inusitada que inventou o primeiro rei carnavalesco desde as saturnálias romanas. O Rei das Saturnálias, porém, era em geral um soldado fortão, bonito e bicha. Se empanturrava de carne, enchia a cara de bebida e, no fim da festa, era sacrificado aos deuses. Nós, que nascemos sob o signo da subversão, transformamos o deus Momo em rei, colocamos um cachalote no trono, cercamos o soberano de princesas e rainhas gostosas e fomos pro ziriguidum.
O historiador Eric Hobsbawm escreveu… Pausa. Que diabos faz Eric Hobsbawm em um texto sobre o Rei Momo? Retomo a frase e esclareço. O historiador Eric Hobsbawm escreveu um livro muito interessante chamado A Invenção das Tradições. Mostra que toda tradição é rigorosamente criada em certos contextos de tempo e espaço. Pego carona nessa garupa e afirmo, portanto, que o Rio de Janeiro, pródigo em criar as tradições mais mirabolantes, inventou mais essa: o Rei Momo como soberano balofo no carnaval.
Quanto ao Pepeu Gomes no cargo de monarca do carnaval baiano, prefiro não me pronunciar. Não declaro nada. Saio de banda cantando, de leve, um samba das antigas, do mestre Sinhô:
A Bahia é boa terra
Ela lá e eu aqui, iaiá…
Abraços.
A última vez que eu vi o Pepeu em algum lugar, ele estava tão gordo que até poderia ser candidatar ao cargo de Momo. Mas… Bom, você disse tudo e eu me lembrei de uma frase do Buñuel, se não me engano: “a tradição é uma estátua que anda”. atualmente tão botando essa estátua pra correr.
Bem, pelo menos o Pepeu Gomes anda gordo feito um porco… Me parece razoavelmente pertinente. Ao menos, nesse quesito.
Saravá a preta-velha Maria Fagundes, com quem eu travava esse curto diálogo:
– Bahia é bom, né fio?
– É, vó…
– mas ela lá e ocê cá.
Evoé, meu velho!
JEAN, essa estátua é candidata a velocista do ano! Abração.
BIA, é verdade. Nesse quesito Sua Majestade Pepeu Gomes vai bem.
DIEGO, evoé!!!!! Sabia das coisas, a preta velha dona Maria Fagundes…
Se não bastasse a porcaria dos trios elétricos, a Bahia nos oferece mais essa… E ainda dizem que eu implico com a Bahia… Com Dorival Caymmi, por exemplo, nunca impliquei. Mas em se tratando de carnaval, o pior mesmo acontece em Natal, com o Carnatal (em novembro/dezembro). O horror! O horror!
Um abraço.
CIRNE, essa do Carnatal é forte, heim… E viva Dorival Caymmi!
Simas: eu, do alto dos meus 102,5kg (depois de recupardo um quilinho em SP), peço: lance aqui uma campanha cívica para que eu seja nomeado pelo meu xará o Rei Momo do Carnaval 2010. Prometo arrasar com o reinado do ex-marido da atual pastora evangélica. Beijo.
Nossa, fiquei muito feliz em tê-lo encontrado na web, suas aulas deixaram muito gosto de quero mais, até hoje os colegas que encontro fazem o mesmo comentário. Quanto ao Momo roqueiro, a “Mulata Velha” Bahia a cada ano que passa tem cuidado em modificar pra pior a alegre festa de Momo. Espero que a coisa não se espalhe mais do que já se espalhou por aí! Bjs!
Sou fã do Pepeu mas essa de Rei Momo realmente…
Voto no Edu polemista pro cargo aqui do Rio.
Era só o que faltava: Pepeu “Rei Momo” Gomes.
Quando o assunto é carnaval, assino em baixo dos versos do Sinhô!
Orlando Rey
Seria legal ver o Pepeu Gomes disputando pelo título de rei momo como antigamente!
Será que ele passaria pelos 40 frangos assados ?
Olá, Simas!
Grande prazer ao conhecer o seu espaço na web.
Fui seu aluno junto com a Denise Guerra na pós da Castelo Branco.
Ótimo texto e a Bahia sempre “surpreendo”…
Quando puder, visite os meus blogs, por favor:
http://ricardoriso.blogspot.com (lits. africanas e afro-brasileira)
e
http://abolalimpa.blogspot.com (negro no futebol).
Um grande abraço,
Ricardo Riso
Só para lembrar que a Bahia no ano passado deu um show no quesito Rei Momo, quando escolheu o Gerônimo para monarca do carnaval. Gerônimo é um dos mais importantes compositores e artistas da Bahia, é gordo, é alegre, é realmente um sujeito extraordinário.
Abração
Esse cara tá tão gordo que não tem certidão de nascimento..tem escritura.
Risos
FLAbraços!
Será um carnaval econômico; Rei e Rainha na mesma pessoa
Abraços
Jairo Costa
Ih! Mexe com a Bahia não, visse? (Mas com o Pepeu pode & deve!) Não é terrorismo não mas meu pai vivia cantando aquela música do Sinhô e meu primeiro casamento foi com um baiano. Em todo o caso, Evoé Momo!