Da série “se perguntarem se aconteceu, nego”.
Alguns anos atrás a segunda divisão do samba do Rio tinha entre suas integrantes escolas que possuíam um passado de glória entre as grandes do carnaval, inclusive com títulos.
Isso tornava o retorno ao Grupo Especial bastante disputado, até porque naquela época a diferença da subvenção entre a primeira e a segunda divisão era muito, muito maior que hoje.
Também naqueles dias de um passado não muito recente o presidente da entidade organizadora da “Segundona” controlava com mão de ferro o corpo de jurados. Com isso, possuía um certo poder discricionário sobre o resultado final do desfile.
Era mais ou menos outubro do ano anterior. O presidente em questão começa a fazer um périplo pelas escolas favoritas do grupo fazendo a sua “proposta”. Primeiro vai na escola que se afirmaria como favorita, que estava neste grupo depois de muitos e muitos anos entre as grandes:
– Quero US$ 35 mil pra tua escola subir de grupo!
O mandatário da escola, que atendia pela alcunha de “Tubarãozinho”, replicou:
– Não preciso pagar, vou subir [de grupo] na moral !
– Ok.
Então o dono do júri se dirigiu a outro presidente, de codinome “Carão”, cuja escola até campeã da Primeirona fora, e repetiu a proposta. Recebeu um “passa fora” desaforado.
A terceira opção era uma escola não tão badalada, mas que sempre era muito forte neste grupo. Contudo havia um empecilho: a agremiação em questão abriria o desfile, o que sempre gera uma chuva de notas baixas.
Ainda assim a negociação foi feita. Combinou-se que que a escola teria a nota máxima em todos os jurados de todos os quesitos.
Acertos deste tipo costumam ficar em segredo, até porque não são evidentemente da regra do jogo – é imoral, no mínimo, combinar resultado. Só que o ‘capo’ da agremiação beneficiada deu com a língua nos dentes – e antes do Natal todo mundo que se interessava minimamente por este desfile já sabia quem “ganharia” e qual o valor envolvido.
Tubarãozinho, quando soube, tentou “cobrir” a oferta. Só que recebeu uma “banana” de volta. O pagamento já tinha sido até gasto.
Chega o dia do desfile. Me recordo que puxei a minha namorada da época – hoje esposa – desesperado para não perder a primeira escola. Queria ver ao vivo a pantomina.
Para azar do dono da entidade organizadora, a agremiação “vencedora” fez um desfile apenas razoável; a escola do presidente Tubarãozinho fez um desfile antológico, que brilharia até se passasse no grupo especial. Outra escola, não citada antes aqui, também fez desfile sensacional calcada nas idéias de revolucionário carnavalesco – que nos dias de hoje prega o segredo a todo custo.
A apuração seria cômica se não fosse uma pantomina. Tubarãozinho e Carão empreendiam uma sinfonia de palavrões em rede nacional a cada nota máxima que a ‘campeã’ recebia. Contudo, o resultado previamente acertado foi mantido – com nota dez de ponta a ponta para a escola que havia pago os 35 mil dólares.
Mas, se me perguntarem se este fato aconteceu na vida real, eu nego peremptoriamente.
Identifiquei as escolas, de primeira. E o ano tambem… rs. Meu segundo carnaval em Salvador…rs
Obrigado pela ‘citação’. Bom texto. Também acho que deve negar. Senão, vai que alguma advogada decida pegar no seu pé… Abraço.
Valeu pelo elogio, Marco !!!
Óbvio, já não basta a dor de cabeça do tópico sobre o De Sanctis.
Fabrício, eu não sei de nada… risos