Normalmente o Ouro de Tolo publica aos domingos bons textos publicados em outros espaços da blogosfera, mas como teremos uma cobertura temática de amanhã até a Quarta Feira de Cinzas, antecipo para hoje o bom texto escrito pelo jornalista Rodrigo Vianna sobre o PSDB e as diferenças entre o Estadão e a Folha de São Paulo.
Boa leitura.
“Sob comando da família Mesquita, o “Estadão” sempre foi um jornal mais “ideológico” do que a “Folha”. O diário dos Frias muda de posição conforme muda o vento.
Os dois jornais estiveram a favor do golpe de 64. O “Estadão” – como boa parte da elite brasileira – queria uma intervenção rápida dos militares, “limpando” o país dos “comuno-petebistas”. Depois, o poder cairia no colo da UDN. Era o sonho da família Mesquita.
Quando a ditadura mostrou que viria pra ficar, o “Estadão” teve a coragem de rever suas posições, e foi pra oposição. Viveu sob censura, teve que publicar receitas e poemas no lugar de textos censurados. A “Folha”, não.
A “Folha” (há várias testemunhas disso) chegou a emprestar seus carros para transporte de presos, e para uso do DOI-Codi em São Paulo.
Quando o vento mudou, nos anos 80, aí a “Folha” virou “democrata”, botou faixa amarela na capa, e fez campanha pelas Diretas-Já. Teve um papel importante naquela época. Isso não se nega. E conquistou muitos jovens leitores com essa posição de “vanguarda”.
Por que relembro isso tudo?
Porque, nos últimos dias, ficou claro que apito “Folha” e “Estadão” tocam em relação à candidatura tucana.
O “Estadão” publicou o artigo de FHC, no domingo – chamando o PT para a briga (o que Lula e Dilma adoraram).
A “Folha”, nesta terça, deixa claro que a tática de FHC desagradou a Serra. O jornal dos Frias não ouviu o Serra em “on”. E não precisa. O recado foi dado na capa: “Críticas de FHC ao presidente contrariam a tática de Serra”.
O “Estadão” fala por FHC. De forma aberta – como manda a boa tradição do jornal (lembro que, hoje, o diário nem está mais sob comando dos Mesquita, mas de um comitê de credores que – segundo alguns – incluiria também gente muito próxima a FHC).
A “Folha” fala por Serra. De forma velada.
É um pouco mais que isso.
Os dois jornais, claro, querem a vitória de Serra. Mas, para o “Estadão, não basta uma vitória qualquer. Precisa ser uma vitória que reafirme o ideário (neo) liberal: a candidatura tucana deveria levantar as bandeiras, defendendo o legado de FHC.Para o “Estadão”, não vale uma vitória envergonhada, que esconda FHC e legitime o “Estado forte” do segundo mandato lulista. FHC foi o sujeito que prometeu “enterrar a era Vargas”. É o velho sonho do “Estadão”, que até hoje não digere a derrota para Vargas em 32.
A “Folha”, como sempre, parece mais pragmática. Se for preciso esconder FHC para que Serra vença, ótimo.
Não é por outro motivo que o jornal dos Frias escalou o (bom) repórter Gustavo Patu para mostrar como FHC omitiu os erros do governo dele no artigo escrito para o “Estadão”. É um recado da “Folha” (e de Serra) para FHC: se falar demais, até nós vamos desconstruir o seu governo!
FHC já percebeu que – se não brigar para defender sua biografia – ela será jogada no lixo, inclusive pelos correligionários tucanos.
Lula quer que a eleição vire um “choque de programas” (governo Lula x governo FHC).
Serra quer “choque de biografias” (o ex-ministro e governador “experiente” x a ministra “inexperiente”).
O problema é o choque de egos entre os tucanos.
Quem vai guardar o ego de FHC no apartamento dele, em Higienópolis? Só Dona Ruth conseguiria…
Pensando bem, não é justo exigir tal esforço de FHC, a essa altura da vida.
Deixa o FHC falar à vontade! Faz bem pra ele. E, certamente, fará um bem enorme ao país…”
FHC ficou tão calado em 2002 ouvindo as críticas do Lula para conseguir elegê-lo em detrimento de Serra que agora paga o preço. Bem feito. Lula continuou a política econômica de FHC e misturou com uma política de Estado da época dos Militares. Arcaico demais. Como a Dilma promete ser.