Anteontem vendo o Jornal da Record me deparo com a notícia de que 80 mil frangos morreram de calor do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Isso mesmo, de calor.
Auxiliados por quedas duradouras de energia, que não permitiram o funcionamento dos sistemas de ventilação e refrigeração das granjas, as aves acabaram sucumbindo às temperaturas de mais de 40 graus verificadas nestas regiões do Sul do país. O prejuízo total estimado é de 250 mil reais, aproximadamente.
Outrossim, também na noite de terça choveu à noite pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro nos últimos quinze dias. Não me lembro de um verão tão seco aqui na cidade desde que me entendo por gente. Por outro lado, mesmo à noite a sensação térmica tem beirado os 35 graus. E olha que recebo onde moro o vento da baía…
Em São Paulo ocorrem mais de 40 dias de chuvas ininterruptas, com inundações diárias agravadas pela impermeabilização asfáltica do solo, pela falta de cobertura vegetal e a ocupação desenfreada das várzeas dos rios assoreados.
Sem dúvida alguma, vem ocorrendo situações bastante inusuais em termos de tempo. O forte calor leva à sobrecarga dos sistemas elétricos e, consequentemente ao apagão – e os pobres dos frangos pagaram o pato. Os aparelhos de ar-condicionados, geralmente dimensionados para uma temperatura menor por longos períodos que a apresentada nos últimos dias, ainda que ligados a toda potência demoram a dar vazão às necessidades de troca de calor requeridas pelas altíssimas temperaturas ambientes.
Outra consequência inusitada é o fato de o “chuveiro frio”, dependendo do horário, estar com água mais quente do que a própria torneira aquecida. Você liga a água esperando se refrescar e sai quase que com uma queimadura.
Os jornais falam muito em aquecimento global, em emissões de carbono pelo homem e suas máquinas e nas consequências do desenvolvimento ao meio ambiente.
Por um lado há uma corrente da geologia que defende que não existe aquecimento global e que a ação do homem é insignificante perto da força geotérmica do planeta. Segundo estes a Terra estaria na verdade iniciando um processo de resfriamento, e os aconteceimentos atuais não significariam uma tendência. Outrossim já surgem soluções acessíveis de diminuir o efeito das emissões de carbono na atmosfera – um exemplo é o denominado “Cobertor de Budyko”, sobre o qual escrevi na resenha do livro “Superfreaknomics”.
Entretanto, não dá para negligenciar os efeitos da cada vez maior urbanização do país, que diminui as áreas verdes disponíveis e, como resultado, aumenta a sensação térmica. A falta de sombra e a reflexão dos raios solares no asfalto aumentam a retenção de calor e a sensação térmica. E os altos prédios dificultam a dissipação do ar quente, tendo o mesmo resultado.
Um melhor planejamento urbanístico das grandes cidades certamente tornaria menos penosos (literalmente) os efeitos das altas temperaturas. Com mais áreas verdes há menor retenção de calor e um melhor aproveitamento dos recursos de condicionamento artificial dos ambientes. O gasto de enrergia diminui e os riscos de um “apagão” se tornam menores – o que teria talvez poupado a vida das oitenta mil aves.
Para concluir, não poderia deixar de citar o mau planejamento energético da década de noventa, que está se refletindo agora. Como as granjas não possuem geradores, os animais não resistiram aos 42 graus de temperatura verificados nestas localidades sem o equipamento de ventilação dos ambientes.