Recebi este fim de semana um email curioso. Depois de tecer elogios ao meu desempenho como professor de História, a remetente diz que eu deveria ser carnavalesco ou, no mínimo, contratado para bolar enredos para as escolas de samba. Nunca tinha pensado nisso, mas a sugestão é tão boa que despertou em mim esse desejo. Bolei, inclusive, algumas propostas de enredo que pretendo apresentar às agremiações para o Carnaval de 2011. Quem sabe alguma escola topa? Vou abandonar o magistério, que não está com nada, e investir nisso. Listo as ideias que tive, de acordo com o atual momento das escolas de samba e com o objetivo de faturar uns caraminguás mais fortes:
-O pequeno mundo de Nelson Ned. Pensei numa homenagem ao cantor, na atual onda dos enredos que homenageiam celebridades. Há o apelo social politicamente correto de se louvar um prejudicado vertical de sucesso. Ao falar de Ned, louvaremos todos os nanicos da história: Átila, o Huno, que tinha um metro e seis de altura; Ferrugem, o antigo apresentador de televisão que não crescia; os sete anões da Branca de Neve; Osni, ponta direita baiano que jogou no Flamengo com um metro e vinte; Napoleão Bonaparte com seu metro e meio de valentia… É um tremendo enredo. Só nesse rápido esboço já falamos de música popular, expansão dos hunos, televisão, futebol e Revolução Francesa.
– De Sevilha à Doença de Chagas: o Barbeiro faz a festa na Sapucaí. Hoje em dia está na moda o enredo que permite várias leituras. A Mocidade Independente de Padre Miguel, por exemplo, falará em 2010 de Paraíso. Vale tudo: Paraíso celeste, paraíso fiscal, paraíso natural e o diabo. Nós falaremos do barbeiro em todos os aspectos: o aparador de barbas, o péssimo motorista, o personagem da ópera, o inseto hemíptero hematófago causador da doença de Chagas, o peixe teleósteo também conhecido como acaraúna-preta e por aí vai.
– Os cavaleiros do Santo Sepulcro. Enredo histórico. A ideia é provar que alguns templários do século XV conseguiram descobrir onde, de fato, está a sepultura de Cristo. A resposta é surpreendente: Cristo foi enterrado na Ilha de Marajó. É um tema que permite a captação de recursos, já que pode ser patrocinado pelo governo paraense. É a chance rara de mostrar ao mundo a Ilha de Marajó e seus esplendores e incrementar o turismo na área.
– Jazigos e covas rasas – dos modestos túmulos ao esplendor das grandes sepulturas. Achei, sem modéstia, uma ótima ideia. Contar a história das formas de se enterrar mortos no Brasil permite um aparato visual de primeira linha. Penso numa comissão de frente representando os personagens de Incidente em Antares, o clássico de Érico Veríssimo. O momento culminante será o sétimo carro alegórico, reproduzindo o túmulo do Barão do Rio Branco, no cemitério do Caju – mais alto que o vão central da Ponte Rio-Niterói. Existe a forte possibilidade de captação de recursos junto a planos de auxílio funeral.
– Oi! É Claro que eu não Vivo sem você. Enredo sobre o mundo mágico da tefonia celular. O objetivo, evidentemente, é captar recursos de patrocínio que permitam um passeio pela história das comunicações. Começaremos com homens pré-históricos que se comunicavam dando cacetadas em troncos de árvores, falaremos de índios que faziam fogueiras para mandar mensagens e dos telefones feitos com barbantes e potes de danoninho. O carro final será um celular de neón de trinta metros de altura, em forma de coração.
– Eduardo Augusto Gonçalves; uma ode ao sonhador. Enredo em homenagem ao português radicado em Santa Catarina que, em 1915, criou a pomada anti-séptica Minancora. O nome é uma mistura de Minerva, a deusa grega da sabedoria, e âncora, para provar que a marca estava ancorada no Brasil. Além da pomada, Eduardo criou o Xarope Doméstico, o Lombrigueiras e o Remédio Minancora contra a embriaguez. Minerva, âncora, lombrigas, bêbados, Portugal, Santa Catarina… esse enredo promete.
– Hipoglós – Carinho e proteção que não se esquece. Se a Minancora não patrocinar o enredo, vamos de Hipoglós. Abordaremos a história da marca; a luta da humanidade contra as assaduras; a pomada que no Brasil socorre brancos, negros e índios numa festa mestiça; a história de que Pelé aplicava camadas de Hipoglós meia hora antes de entrar em campo; a cor branca da pomada como homenagem ao orixá Obatalá e outros babados. Vou puxar brasa para minha sardinha e confessar – já fiz até a letra do samba:
É carnaval
Arde a assadura inclemente
Mas não estamos sós
O Hipóglos é hidratante emoliente.
Todas as vezes
Que a fralda da criança for trocada
Combata a bactéria que há nas fezes [Ôh mulata!]
Aplicando Hipoglós com mãos de fada.
Sua fórmula contém o retinol
Com poder de alívio imediato
Uma dose de colecalciferol
E o excipiente petrolato.
A lanolina anidra é refrescante
Obatalá diz que o óleo é bom de fato
Tudo graças ao efeito estimulante
Do iodo propinilbutilcarbamato
Olha ele aí
Olha ele aí
Combatendo as assaduras
Na Sapucaí.
Alguém quer botar a melodia?
Evoé!
Sensacional!
Com essa criatividade você também poderia bolar temas para o concurso de fantasias no Hotel Glória. Categoria livre, é claro. Mauro Rosas e Bornái endossariam.
Espetcular, a letra do samba do Hipoglós é antológica. Acho que deveríamos colocar logo a música e criar um bloco só para justificar o samba. Algo como “Assa que eu curo”. Se bem que “curo”, sei não.
abs,
BOECHAAAAAT, grande ideia. Farei isso em breve; ainda essa semana. Grande ideia, repito.
MOLICA, meu parceiro, eu não tenho pudores: Assa que eu curo é um belo nome.Vamos sentar [ops!] dia desses no Alfarabi para concluir o samba.
Abração!
Se o objetivo é conciliar patrocínio e cuidado com áreas delicadas, Um enredo alternativo seria “Maizena: Faz mais do que você imagina”. Afinal, desde 1854 a caixa amarela faz sucesso no mundo inteiro engomando roupas, preparando quitutes e substituindo Hipoglós.
Abraço!
Como samba hoje tem que ter muitos parceiros, sugiro os nomes de Tiago Prata, Moacyr Luz, Marcelo D2, Gari Sorriso, Fernando de Lima, Gabriel Cavalcante, Guilherme Sá e o do Martinho da Vila, que é a-do-ra parceria gigantesca. E, é claro, a palavra final do sempre indispensável Caetano A Última Palavra é Minha Veloso.
Hahahaha, mijei de rir.
Defendo uma ode ao KY!
PABLO, a ideia é ótima!
MOUTINHO, fico pensando como será a comissão de frente dessa ode.
Abraço
O Tupy de Brás de Pina bem que estava precisando de um carnavalesco assim…O problema é o cascalho…
faz um do botafogo,cara.
Bom demais, tô rindo até agora…
Salve, mestre…
Esqueceste do “Oi!É Claro que eu não Vivo sem você, minha Brahma… Tim-Tim!!!” kkkkkkkkkkkk
Deixa a Grande Rio saber…
Há braços
Molico,
acho que o melhor nome para o bloco seria: ‘As assadinhas’.
Quem sabe a dupla Mussa e Lula fazerem o enredo do Canário das Laranjeiras 2011. E assim que começa. Lembra da Maria Augusta?
Beijos, Tia Nadja
Grande samba, grande mesmo.
Nesta categoria temos o leite de magnésia Phillips (http://www.nautilus.com.br/clientes/pontes/comercio/2008/fotos/magnesia.jpg) e o glorioso Iodex, que era a salvação das contusões antes da existêcia do Gelol e outros modernos. Ficávamos com o dedo preto depois de passar.
salve, simas
além de quase me cagar de rir, informo pra seu governo que adquiri ontem o seu livro dos sambas enredos.
evoé, baco!
carlos anselmo-fort-ce
RAFAEL, não tenho condições emocionais para tamanha empreitada. Abraço.
Grande VIDAL, só levando na sacanagem mesmo certas coisas…Abração.
FABIO, a Grande Rio é uma de minhas opções. Quem sabe vendo um enredo pra lá…Abraço
NADJA, nem pensar. Chega de problema. Beijo.
CEREAL, saudades do Iodex. Excelente. Beijo.
CARLOS, é bom saber que o livro chegou aí em Fortaleza. Abração.
Genial,
Faltou um samba em homenagem às Pílilas de vida do Doutor Ross e à Emulsão de Scott – Óleo de Fígado de Bacalhau!!!
Abração!
Muito bom o texto, Simas. Digno de um samba do criolo doido, do Stanislaw.
bastante engraçada a brincadeira, claro q é brincadeira, a mim isso parece óbvio. mas o mais lamentável e ver um professor dizer q vai largar o magistério pq isso ñ esta com nada. q pena tenho dos seus alunos. ainda bem q ñ o tive como professor.
Paulo Newton, pelo amor de Deus! Será que eu preciso colocar no texto um ponto de irônia? Me poupe. Você não faz a menor ideia de quem eu sou e não sabe qual é a minha relação com o ensino. É brincadeira, o Pedro Bó! Explicar piada é demais. Parei.
Pelo menos uma coisa é verdade – você não me teve como professor. Se tivesse, te garanto, você não escreveria nesse português grotesco.
ADOOOOOOOOOOOOREI!!!!!!!!!!!!!!!!
Esse é o Simas que eu conheço!!!!!!
Muito criativo!!!!!!
Para encerrar o desfile da Hipoglós, um carro alegórico representando uma gigantesca baixela com aquele saboroso peixe teleósteo caraciforme tão comum na minha amada Amazônia: o pacu. Assado, naturalmente.
Essa é a 2ª vez que acesso seu blog (a primeira foi a curiosidade a respeito do seu livro) e já virei fã!
Muito bom o sambinha da Hipoglós!!!
simas faz a vida mais feliz
você deve saber que o enredo da rosas de ouro(argh) até duas semanas do carnaval era ‘o cacau é show’. colocaram um verbinho pra enganar o mundo. apesar da verbinha da fabricante chocólatra, a globo pegou os caras aos 45 do segundo tempo e mandou mudar. mesmo assim, a referida escola, imagino eu, num desfile rechado de canto e samba no pé, deu um pé na bunda da gigante plimplim e venceu o carnaval paulistano.
olá Simas. sou aluno de história pela FEUC de Campo Grande RJ. Tenho acesso ao seu trabalho pois o meu tema de monografia é o carnaval. meu professor Oswaldo te indicou. Gostei do livro sobre sambas de enredo e sobre suas propostas acima de enredo. Tu tem futuro, só falta quem indique. se você souber alguma coisa sobre os antigos carnavais da zona oeste, por favor me dê uma luz.
Wanderlan.