A partir de hoje temos uma nova coluna no Ouro de Tolo.
Revezando com a “Cacique de Ramos” às quartas feiras teremos a “Formaturas, Batizados & Afins”, que terá como mote temas ligados à ciência e tecnologia.
O titular da coluna será o professor adjunto do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ Marcelo Einicker. O tema de hoje será a gripe H1N1, mais conhecida como “gripe A” – embora tal denominação seja incorreta como veremos no texto.
Quanto ao nome, vem de uma brincadeira feita com o autor, especialista em participar dos eventos citados… vamos ao primeiro texto.
“Devemos estar atentos à Gripe (H1N1)
Em diferentes períodos da história da civilização humana, grandes surtos de diferentes doenças – aqui incluídas algumas gripes – foram responsáveis pela morte de milhões de pessoas. Os vírus são os agentes causadores das gripes que acometem os seres humanos.
Cada tipo de gripe é causada por um tipo de vírus diferente, sendo todos classificados como vírus Influenza ou Influenzavírus. Destes, os vírus de subtipo A são os principais causadores de gripes em humanos e se caracterizam por uma notada capacidade de mutação; ou seja, a partir de um determinado vírus surgem outros mais ou menos infectivos e mesmo letais que aquele que os deu origem..É interessante dizer ao público leigo que venha a ler esta coluna que os vírus não são considerados seres vivos, ao contrário de outros microorganismos como as bactérias e fungos que também causam doenças. Os vírus são estruturas diminutas (>500 nm) e podem possuir diferentes formatos, a maioria em linhas bastante geométricas. A estrutura da maioria dos vírus pode ser definida como uma cápsula protéica que protege o material genético (DNA ou RNA) em seu interior. Para o sucesso da infecção viral, o vírus deve aderir a uma célula do hospedeiro e transmitir a esta célula seu material genético, estabelecendo assim a infecção. Maiores detalhes sobre as diferentes etapas da infecção viral e das etapas de montagem de novos vírus podem ser encontrados em livros de microbiologia médica e em sites específicos sobre o assunto.
Feita esta pequena introdução, passo a falar sobre a “gripe do momento” que é aquela causada pelo vírus Influenza A, subtipo H1N1. Neste código de letras que dá nome aos vírus influenza, a letra H refere-se a uma proteína presente na cápsula, a hemaglutinina.
As hemaglutininas localizam-se na parte mais externa das partículas virais e possuem grande afinidade por uma molécula presente na superfície das células do hospedeiro, sendo por isso importante na etapa de reconhecimento e adesão do vírus. Já a letra N refere-se a outra proteína, a neuraminidase que é necessária para que o vírus recém sintetizado possa brotar saindo da célula inicialmente infectada e vá invadir outras células daquele organismo. Por isso as neuraminidases também se localizam na parte mais externa do vírus. Os números que acompanham as letras H e N, neste caso H1N1, referem-se ao tipo de hemaglutinina ou de neuraminidase daquele vírus. Mais de 5 tipos de hemaglutininas e 9 tipos de neuraminidases já foram identificados, o que mostra a possibilidade de diferentes arranjos virais, levando a diferentes graus severidade na infecção.
Nos primeiros meses de 2009 foram notificados alguns episódios severos de gripe em diferentes áreas da América do Norte e América Central. Em Abril de 2009, um surto de H1N1 matou mais de 100 pessoas no México, dando início a uma campanha de esclarecimento e prevenção que se espalhou por todo o mundo dada a gravidade desta gripe. As autoridades da área de saúde dos países mais inicialmente afetados estimaram em mais de duas mil o número de pessoas infectadas em todo o mundo no primeiro mês da descoberta deste surto; o que dava ao caso ares de uma nova pandemia.
O primeiro paciente identificado foi o pequeno Edgar Hernandez, 4 anos, da localidade de La Gloria, México. A proximidade da residência do menino a fazendas de criação de porcos foi o principal motivo para a primeira denominação desta gripe como Gripe Suína. Esta denominação revoltou e preocupou os suinocultores, que temiam por grandes perdas provocadas pela queda na venda de carne de porco, bem como da necessidade de sacrificar todo o plantel suíno das áreas sabidamente infectadas pelo vírus. Análises posteriores mostraram que não havia transmissão da gripe por porcos ou pelo consumo de carne de porco e com isso iniciou-se um movimento para mudar o nome de gripe suína para gripe Mexicana (por ter sido detectada primeiro no México), ou mesmo gripe norte-americana, já que teria surgido simultaneamente no México e no Sul dos Estados Unidos.
Claro que isso levou a protestos dos governos mexicano e americano, e trouxe alguns problemas econômicos principalmente ao México; onde destinos muito procurados como as praias de Cancun ficaram vazias. Por tudo isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a referir-se à doença como influenza A (H1N1). Vale destacar que é errado designar esta gripe apenas como “gripe A”, visto que a maioria das gripes humanas sazonais são causadas pelo subtipo A do vírus influenza, daí a importância de se especificar se se trata de H1N1, H5N1 ou outro vírus.
As medidas de controle e prevenção adotadas em todos os países do mundo fizeram com que o número de casos registrados fosse muito menor do que o inicialmente previsto. O número de mortes também foi bastante inferior às piores previsões no início do surto, chegando a ser comparado ao número de mortes provocado por gripes sazonais comuns.
Apesar disso não se pode negligenciar os cuidados já adotados para que um novo surto não apareça e mate mais pessoas. Neste sentido, alguns países estão fazendo campanhas de vacinação para minimizar a possibilidade de novos surtos. O Ministério da Saúde do Brasil lançou uma grande campanha de vacinação que começou vacinando profissionais de saúde e indígenas, mas que já encontra-se em prática e que tem um calendário bastante amplo, que atende todas as faixas de nossa população e que por isso deve ser visto com muita atenção por todos os brasileiros:
CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO
Gestantes – (22 de março a 21 de maio)
Crianças de seis meses a dois anos – (1ª dose – 22 de março a 2 de abril)
Crianças com doenças crônicas de seis meses a oito anos – (1ª dose – 22 de março a 2 de abril)
Doentes crônicos – (22 de março a 2 de abril)
População de 20 a 29 anos (5 de abril a 23 de abril)
Adultos de 30 a 39 anos (10 de maio a 21 de maio)
Acima de 60 anos ou mais com doenças crônicas (24 de abril a 7 de maio)
Desde o lançamento da campanha, muitos boatos principalmente divulgados via Internet tem trazido algumas dúvidas a população. Será que esta vacinação é segura?
Sim, a vacina é segura conforme atestam especialistas da área de saúde, que tem contribuído para esclarecer as principais dúvidas da população. Além disso, a última avaliação realizada pela OMS no final do ano passado, registrou apenas reações leves provocadas pela vacina, como dor local, febre baixa e dores musculares que desaparecem em no máximo 48 horas.
Muito desta polêmica quanto ao uso da vacina começou em função de algumas substâncias que estão presentes na formulação. Uma destas substâncias polêmicas é o mercúrio, ou um derivado do mercúrio (timerosal) que notadamente é um metal pesado bastante tóxico ao organismo mas é usado na formulação da vacina para conservar o produto. A quantidade deste composto na dose da vacina é inferior a menor dose que pode vir a provocar alguma intoxicação ao ser humano. No entanto o Ministério da Saúde recomenda que pessoas alérgicas ao composto, consultem seus médicos antes de se vacinarem. Pesquisas científicas mostraram também que não existe qualquer correlação entre a quantidade deste composto na dose da vacina e o surgimento de autismo em crianças, como dito em alguns e-mails que circulam como spans.
Outra substância encontrada na formulação da vacina é o esqualeno, que é um componente muito comum em formulações de vacinas e não oferece qualquer risco na dose da vacina. Outro fantasma da vacina seria o fato dela conter células de câncer animal, o que não é verdade.
Apesar de ter sido acelerado o processo de entrada da vacina no mercado, isso não significa que a vacina não seja segura. A medicação é semelhante à usada na prevenção da gripe comum, sendo a principal diferença que o vírus inativado (morto) usado é o H1N1.
Tomados todos os cuidados e seguida a tabela de vacinação devemos deixar uma mensagem positiva para aqueles que ainda tem algum tipo de dúvida: a grande maioria de pessoas que adoecem pelo H1N1 tem se recuperado muito bem. Saúde!
Um abraço e até à próxima coluna !”
(Consulta: Ministério da Saúde, infectologista Gustavo de Araújo Pinto e a doutora em microbiologia Andréa de Lima Pimenta.)
Professor Marcelo,
Parabéns pelo texto!!!! Iniciativas deste tipo têm que ser estimuladas para levar a população um pouco mais de informação. Ainda mais neste assunto de tamanha importância. Já estou a espera do seu próximo texto.
Bjos,
Bobby :0)
Obrigado! Que a coluna seja realmente um canal de difusão científica trazendo sempre informações atualizadas e corretas sobre diferentes temas.
Marcelo
e o Ouro de Tolo sempre terá o espaço aberto para tal.
Adorei a coluna, muito explicativa! Essa iniciativa foi muito boa, e o Prof.Marcelo muito bem escolhido!
Parabens!!!!
Nininha