
Um fator que é pouco explorado mas que a meu ver contribuiu para tal fato foi a progressiva mudança de posicionamento da ex-Senadora Benedita da Silva e de seu grupo político.
Expoente do PT carioca desde os seus primórdios, a política foi a única vereadora eleita pelo partido nas eleições de 1982 – eram tempos de voto vinculado e tal feito adquiriu, à época, ares de façanha.
Posteriormente se elegeu deputada federal e, em 1992, quase se elegeu à prefeitura do Rio de Janeiro – perdendo por diferença ínfima para o ex-brizolista Cesar Maia. Entretanto deu a volta por cima se elegendo para o Senado Federal em em 1994.
Sua curva descendente se iniciaria em 1998. Imposta pela direção nacional do PT como candidata a vice governadora na chapa de Anthony Garotinho, provocou um profundo dissenso na seção carioca do partido devido a esta intervenção – o PT carioca havia decidido pela candidatura própria de Vladimir Palmeira.
Foi nomeada para uma Secretaria de Estado voltada à ação social, mas acusações de corrupção somadas à falta de vontade para o dia a dia administrativo e à captura do aparelho social do estado do Rio empreenddida por Garotinho e seus aliados evangélicos causaram grande desgaste em sua imagem.
Já afastada do centro de decisões de poder, assumiu o estado para um mandato tampão de nove meses após a desincompatibilização do então governador Garotinho. Com o estado quebrado devido às antecipações de despesas feitas por seu sucessor acabou responsabilizada pelo caos financeiro do estado.
Esta decisão equivocada de assumir o mandato acabou sendo trágica para as pretensões futuras do PT. Ainda que Allencar e Garotinho tivessem quebrado o estado, quem passou à opinião pública como incompetente foi Benedita – e o PT.
Derrotada uma vez mais nas eleições – em grande demonstração de força das seitas evengélicas, mas este é assunto para depois – ocupou uma secretaria (com status ministerial) do Governo Lula, de onde saiu após uma mal explicada história de uso de recursos públicos em viagem particular. Ainda que tivesse devolvido o valor ao Erário, tal fato causou a sua saída do governo – e mais um forte abalo em sua reputação.
Nomeada secretária de Estado novamente por Sérgio Cabral, enfrentou as mesmas críticas de tempos anteriores: de que não tinha muita aptidão para o dia a dia administrativo e condutas no limite da ética pública.
Perdeu densidade eleitoral mas ainda controla com seu grupo parcela considerável do PT local, pleiteando candatura ao Senado no próximo pleito. Entretanto, avalio que dificilmente obterá uma das vagas caso consiga a indicação na convenção do partido.
Sua insistência em candidatar-se a cargos majoritários somada a todos os desgastes causados em sua imagem arrastaram de roldão não somente a renovação de quadros petista no Rio quanto a densidade eleitoral do mesmo.
Hoje, Benedita da Silva pertence ao passado da política carioca. Entretanto sua atuação inibiu o surgimento de novos e fortes nomes para cargos majoritários, por um lado, e suas recentes atuações em cargos executivos abalaram boa parte da confiança do eleitorado carioca no partido, por outro. Além de representar um histórico de intervenções e acordos políticos de resultados duvidosos para a estrela vermelha.
Além disso, sua tentativa de atrair parte do eleitorado evangélico afastou do voto no partido setores ideológicos, que em sua maioria bandearam-se para partidos menores de esquerda ou ao voto nulo.
Obviamente que a política carioca não é a única responsável pela crônica falta de votos que o PT atualmente padece no estado do Rio – um pouco menos na Baixada, mas endêmica na capital e em outras regiões do estado. Entretanto, sua trajetória fornece um bom fio condutor para se entender como o partido do Presidente Lula se transformou de opção real de poder a mero coadjuvante no quadro eleitoral do Estado do Rio.
Consequentemente, isto arrastou junto a perspectiva de poder da esquerda – e até mesmo do centro – no quadro político carioca.
Retornarei ao assunto mais tarde.
Pedro,
Ontem postei um comentário mas, acredito que pelo meu despreparo ou distração, cometi algum erro pois ele não foi publicado.
De qualquer forma, gostei muito,( agora incluindo o segundo) dos seus artigos analisando a política carioca. O p´rimeiro li no MAM-Doladodela- o outro li diretamente em seu blog.
De qualquer forma é uma pena que o eleitorado do Rio continue conservador e tendendo para uma direita retrógada e com discurso neoliberal.
Minha filha e meu neto estão morando agora aí no Rio, e eu passei, por motivos óbvios a visita-los com frequencia,e começo a conhecer melhor a cidade e seus habitantes e digo com sinceridade a minha antiga visão do Rio(preconceituosa, é claro), mudou completamente. Hoje admiro e respeito as reais qualidades do povo carioca. E é por isso tudo que agora me interesso cadavez mais por saber detalhes dos enredos políticos que podem determinar, ou não, o bem estar desse povo tão receptivo e simpático.
Um abraço
Fernando Simas
Caro Fernando, seja bem vindo.
O próximo texto da série acho que vai deixar mais clara a guinada à direita do eleitor. irei falar sobre o avanço na política das igrejas evangélicas.
e obrigado pelo comentário, é sempre bem vindo aqui. forte abraço