Entre o material, merece destaque a polêmica entre o Ministério da Agricultura e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a reavaliação de treze produtos já proibidos pela maior parte dos países mas ainda vendidos no Brasil. O objetivo é estimar os danos à saúde e possivelmente proibir a produção e a venda destes produtos no país. O resultado desta reavaliação deve estar disponível até o final do ano.
Lembro aos leitores que segundo dados da matéria o país é o maior consumidor destes produtos no mundo, com 780 mil toneladas e 16% do consumo mundial. O Brasil aumentou em 230% as importações de tais produtos entre 2000 e 2007, muitos destes com venda vetada em quase todo o restante do mundo.
O Ministério da Agricultura, comandado por um representante ruralista chamado Reinhold Stephanes, está fazendo grande pressão para que tal reavaliação não tenha seus resultados divulgados. O argumento é o de sempre: a “competitividade” da agricultura brasileira. Este chegou ao ponto de publicar uma portaria avocando para si tais análises, que entretanto não tem validade devido à Lei 7.802 de 1989 e ao decreto 4.074 de 2002, que dispõem sobre as atribuições da Anvisa e do Ministério do Meio Ambiente.
A bancada ruralista no Congresso, comandada pela Senadora Kátia Abreu – a mesma de uma curiosa “reforma agrária às avessas em Tocantins” e possível candidata a vice na chapa de José Serra – vem buscando alterar a legislação de forma a deter todo o controle sanitário sobre o registro, a produção e venda de agrotóxicos no país. Entretanto não parece que obterão sucesso, ao menos no curto prazo.
Desde 2002 a Anvisa vem buscando monitorar as quantidades de tais defensivos agrícolas presentes nos produtos à disposição do consumidor. 17,28% destas amostras indicavam níveis de contaminação acima dos permitidos a fim de se preservar a saúde do consumidor. Os produtos mais contaminados são o tomate, o morango e a alface. Outros produtos como a batata, o feijão e o repolho possuem traços de acefato, que causa câncer e danos no cérebro.
Não custa lembrar também a questão do frango, onde aproximadamente um terço em peso é formado de antibióticos e hormônios de crescimento. Há pesquisas que relacionam o aumento do consumo de frango à cada vez mais precoce menstruação nas meninas. Também coloque neste quadro a questão de aspersão de glifosato na lavouras de soja, cujas sementes transgênicas são modificadas geneticamente para necessitarem do defensivo.
Sem dúvida alguma, há uma dicotomia clara entre “a lei do mercado”, que clama por lucro e produção a qualquer custo – mesmo que este seja representado em vidas e compensado por maiores gastos em hospitais – e por uma visão mais humanista da situação, onde a produção é possível sim mas sem agressão à vida humana. No fundo, é a velha história de que “o dinheiro pode tudo” ou a regulação de mercado que escrevi aqui alguns posts atrás.
Obviamente que não esgoto o tema aqui, mas chamo a atenção do leitor para que na medida do possível procure consumir produtos orgânicos. Diminui bastante o prejuízo à saúde à medida em que aumentamos a percentagem destes em nossa dieta.