A atuação do pequeno polegar Lionel Messi no jogo de ontem – Barcelona 4 X 1 Arsenal – lembrou a verdadeira saga de Abecedário, avante rompedor do Vila de Cava Futebol Clube, no histórico jogo em que o Vila derrotou o Vale das Almas Esporte Clube, time dos funcionários do Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na final da Taça Mariel Mariscot de Matos, uma espécie de champions league da Baixada Fluminense e do suburbio carioca nas décadas de 1970 e 1980 . Abecedário, em tarde infernal, fez quatro gols e acabou com o jogo.
Vale ressaltar que o Vila não era time de empresários. O esquadrão, também conhecido como o “Terror da Baixada” [leia mais aqui ] contava apenas com o apoio da loja de macumba “Cantinho do Seu Sete da Lira” , que bancava dois jogos de camisa por ano para a equipe. O Vale das Almas tinha grana – era  patrocinado pela funerária “Eternos sonhos”, que investia pesado no futebol de várzea. Subvertendo a lógica do grande capital, o Vila liquidou a equipe do campo santo.
Esse jogo, porém, não ficou nos anais só pela estupenda atuação de Abecedário. Um outro lance marcou para sempre a história do futebol. O Vila ganhava por 4 X 1 quando o zagueiro Carlinhos Nem Fudendo subiu mais alto que a zaga adversária, num escanteio cobrado com precisão por Aderaldo Miquimba, e testou no ângulo. A bola bateu no travessão, quicou meio metro dentro do gol e saiu. O árbitro, atendendo ao aceno do bandeira, confirmou o tento.
Aconteceu, nesse momento, o inusitado. O chefão do time do Vale das Almas, Alcides Barros de Santana, o Cidinho Catacumba, dono da funerária que bancava a equipe, homem de ouro da polícia especial e compadre do falecido detetive Le Cocq, invadiu o campo ao lado de nove capangas fortemente armados. O clima no estádio era de saloon do velho oeste no momento da entrada de Sundance Kid – fez-se um silêncio de dois minutos antes do big bang.
Cidinho adentrou o relvado com o intuito de exigir de Sua Senhoria a anulação do gol – cinco já seria humilhação demais. Confabulou por cerca de cinco minutos com o juiz e o bandeira e apresentou argumentos sólidos. Foi o suficiente para que a arbitragem mudasse de ideia. O gol foi anulado, para desespero de Carlinhos Nem Fudendo, que até então não tinha feito nenhum tento na carreira.
Dois anos depois – o jogo de várzea ocorreu em 1980 – a cena que marcou o clássico Vila de Cava X Vale das Almas se repetiu na copa do mundo da Espanha. No jogo França X Kuwait, quando os conterrâneos de Robespierre já venciam com folgas, o juiz validou o que seria o quarto gol francês. Os jogadores do Kuwait protestaram, alegando que a jogada já estava interrompida.
Nesse momento, impávido e colosso, adentrou o gramado o sheik Fahid Al-Ahmad Al-Sabah, presidente da federação kuwaitiana, vestido a caráter e acompanhado por um grupo de beduínos do deserto, armados de cimitarras próprias para degolar camelos. O xeque bradou impropérios e ameaçou o juiz russo com a convocação de uma jihad. O árbitro, diante da cena digna dos melhores momentos da saga de Ali Babá, anulou o gol com enorme autoridade.

Eu faria, se fosse o juiz, a mesma coisa.

A pergunta que fica desses relatos, rigorosamente fiéis e calcados em vasta documentação e testemunhos acima de qualquer suspeita, é inevitável: O Sheik Farid Al-Ahmad Al-Sabah se inspirou no exemplo de Cidinho Catacumba, corretor funerário e homem da lei, para invadir o campo e anular um gol em um jogo de Copa do Mundo?
Eu acredito, fundamentado em evidências sólidas, que sim. O sheik não passou de um imitador de quinta categoria – e que o profeta Maomé não nos ouça.
Abraços.

3 Replies to “O ARTILHEIRO, O COVEIRO E O SHEIK”

  1. Vocês sabem que o futebol é também uma invenção dos árabes. Só não são reconhecidos porque não têm grama. Fica, assim, a dúvida.
    forte abraço
    mussa

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