Dia muito agitado, infelizmente somente agora consigo fazer a atualização do blog.

Houve dois fatos entre ontem e hoje que parecem díspares, mas são duas faces da mesma moeda.

O previsível alvará de soltura concedido pelo Supremo Tribunal Federal ao Governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, até com algum atraso dada a prática anterior, foi justificado pelo argumento de que ele não pode mais interferir no rumo das investigações – ou seja, coagir testemunhas, comprar o silêncio das fitas de áudio e vídeo e eventualmente pensar em adquirir outros crimes à sua já extensa folha corrida.

Notem que ele não está preso por corrupção, mas sim por atrapalhar o andamento das investigações. Corupto, no Brasil, não vai preso. Esta é a verdade que vemos observando os fatos. Enquanto isso advogados do calibre de Nélio Machado e companhia enchem a burra de dinheiro defendendo este tipo de gente.

Outro caso foi a prisão na manhã de hoje do presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel, Wilson Vieira Alves – mais conhecido como “Moisés”. Em uma operação destinada a reprimir o jogo nas máquinas de caça-níquel do Rio de Janeiro ele foi um dos detidos. Lembro aos amigos que desde uma série de matérias publicadas pelo jornal O Globo às vésperas do carnaval de 2009 já se sabia que ele estaria envolvido com este tipo de contravenção, junto com outros presidentes citados à época.

Entretanto agora que foi preso, provavelmente devido à repercussão do espetaculoso atentado que pretendia matar um dos candidatos ao espólio do famoso “banqueiro” de jogo de bicho Castor de Andrade.

São casos que guardam bastantes semelhanças. Ambos são acusados há bastante tempo, mas desfrutam do beneplácito dos chamados “homens de bem” da sociedade. Arruda foi casado com uma atriz e Moisés sempre se deixava fotografar com artistas e modelos na quadra da escola.

Outro ponto que une os dois casos é o fato de ambos, direta ou indiretamente, beneficiarem-se de dinheiro público. Sobre o governador não é preciso estabelecer maiores relações, mas preciso lembrar aos amigos que a Unidos de Vila Isabel recebe subvenção do município do Rio – ou seja, dinheiro público.

É um valor pequeno dentro do universo das escolas – a maior parte vem dos direitos de televisão e da receita da venda de ingressos – mas é subvenção oficial e que precisa ter sua prestação de contas estabelecida. Mas esta é uma outra história, como já publiquei aqui uma vez.

Dois episódios que demonstram também como a sociedade brasileira é hipócrita. Clama-se pelo fim da corrupção, pela honestidade no trato público, mas socialmente convive-se com figuras de extensa folha corrida como se nada houvesse. Arruda e Moisés são exemplos mas poderia estar falando de muitos outros personagens.

Outrossim, delitos são admitidos desde que se leve vantagem da posição ocupada na sociedade pelas pessoas – a consciência crítica de muitos acaba aplacada pelo poder do dinheiro. É um caminho perigoso pois leva a uma visão “interpretativa” de valores como a lei, a ética e até mesmo o voto.

Para terminar, espero que José Roberto Arruda, de crimes de corrupção fartamente documentados, tenha como resultado uma longa temporada na cadeia. Entretanto sei que provavelmente não verei tal desfecho ocorrer. Mais do que nunca, o Brasil é o país do “sabe com quem está falando?”, ou melhor, “sabe quem está pagando?”

Uma vez mais, lamentável. Situações como essas são mais reflexos da sociedade que “corpos estranhos” em nosso meio. Boa parte dos que criticam teriam comportamento igual se estivessem nas posições citadas. É triste mas é a pura verdade.

2 Replies to “Os dois lados da mesma moeda”

  1. Pedro, para punir esses caras só tomando todo patrimônio a custa desses roubos, muitos deles pensam assim: Podem me prender, desde que não ponham a mão no “meu dinheiro”.

    E aí, a CBF entregou a taça para o verdadeiro penta campeão. Vocês tinham que entrar em greve, até a CBF mudar de idéia. rs rs

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