Sai Exu, entra Jeová
Tive uma professora na faculdade, no curso de Antropologia II, que sofria de interessante síndrome. Uruguaia de nascimento, a dona – depois de duzentos anos morando no Brasil – conseguiu a proeza de não aprender direito o português e desaprendeu a hablar espanhol. Resultado: as aulas eram rigorosamente incompreensíveis, ministradas em um dialeto impenetrável.
Algo semelhante aconteceu com o futebol africano. Quando em 1982 a seleção de Camarões surpreendeu o mundo com um futebol vistoso, cheio de ginga e salamaleques, o grande João Saldanha vaticinou que em breve uma seleção da África paparia a Copa do Mundo. A profecia do João Sem Medo não vingou e acho que não vingará tão cedo.
O que faltava aos africanos – diziam os especialistas – era um pouco mais de disciplina tática e menos brincadeiras em campo. Deram, então, de contratar uns técnicos europeus de segunda categoria, oriundos diretamente das guerras civis da ex-Iugoslávia, para fortalecer o futebol do continente negro. Babou.
A impressão que me dá é que os africanos não conseguiram assimilar certas qualidades do futebol europeu e acabaram perdendo aquele traço distintivo que caracterizava seu jogo – o balacobaco, a ginga, o sarapatel, o drible, o inusitado…
Exu, dono da mandinga e do drible de corpo, foi substituído pelo Deus do Antigo Testamento – duro, implacável, vingativo, temerário e pouco afeito a malabarismos e rabiscos com a pelota. Um deus que, no lugar da cachaça, do charuto e do tambor, preferiu mandar, com voz de baixo-barítono cantarolando a marcha fúnebre, o marido da Sara passar o rodo no pobre do Isaac.
Deu no que deu.
O segredo do caneco
Assisti ao jogo do escrete na casa do taberneiro Carlos Alves, dono do Al-Farabi, reduto de livros e comes e bebes da melhor qualidade, no centro velho do Rio. Pouca gente – quatro pessoas – cervejas e petiscos, que ninguém é de ferro. Os Alves são vizinhos do meu irmão, e a ideia era aproveitar o jogo para visitar minha sobrinha, doida pelo escrete aos quatro anos de idade. Acontece que, depois de dezenas de cervejas geladas, ao estilo cu de foca, a ida mais frequente ao banheiro para se tirar a água do joelho foi inevitável e os projetos familiares foram pra cucuia.
Carlos Alves foi ao banheiro três vezes durante a partida – exatamente as três ocasiões em que a seleção marcou os gols contra os carniceiros da seleção da scuderie detetive Le Coq, também conhecida como Costa do Marfim.
É urgente que se inicie a campanha cívica que pode garantir o sucesso canarinho nos gramados africanos. Na hora do pega pra capar, a palavra de ordem deve estar na ponta da língua de cada torcedor do escrete:
– Vai mijar Carlos Alves!!
Abraços
A tentativa de domar o futebol africano foi por água abaixo, essa copa é prova inequívoca disso. As seleções africanas estão jogando um futebol feio e ineficiente, não ganham de ninguém. Enquanto isso a América do Sul mostra sua força.
Abraço.
Com certeza o q o Saldanha, estava falando era do futebol, alegre, livre e solto dos africanos, e não os enlatados nas “taticas” dos tecnicos brancos, vamos torcer para nas proximas Copas, as seleções africanas, apresentem futebol e tecnicos africanos.
E o Dunga???
Edmar
Mestre esta era a impressão que eu tinha, agora ficou mais clara com este texto. Mudando um pouco o mote, estão falando muito das tomadas em câmera lenta e os “closes” das transmissões da copa, mas professor, os caras do CANAL 100, já não faziam isto com seus talentos e os recursos da época?
Abraços
Jairo