Domingo, dia de bons textos no Ouro de Tolo.
Tenho evitado escrever sobre a Copa do Mundo em curso por dois motivos: primeiro porque todo mundo está dissertando sobre o tema e pouco teria a acrescentar.
Segundo, por questões de horário tenho visto muito pouco das partidas, praticamente apenas os gols e um ou outro compacto com os melhores momentos. O que é uma pena, gosto muito de acompanhar a festa máxima do futebol mundial.
Repercuto aqui texto escrito durante a semana pelo sempre bem informado Lúcio de Castro. Ele relata uma guerra surda ocorrida nos bastidores da nossa seleção, envolvendo o relacionamento com a imprensa e seus privilégios.
O artigo foi publicado pelo jornalista em seu blog antes da estreia contra a Coréia do Norte.
Boa leitura.
“Não achei que ia viver pra ver isso… eu mesmo fazendo uma defesa de Dunga!!! Prometi me aprofundar no assunto (…) na ESPN, então, vamos por partes…

Em primeiro lugar, segue valendo tudo o que sempre achei, falei e escrevi sobre o treinador. Mas entre tantos defeitos que tenho em quantidade, não posso ser acusado do não reconhecimento de qualidades até em quem eu não tenha a menor afinidade de pensamento. Como Dunga e suas filosofias e posições.

A tecnologia tem diversos problemas e não me dou bem com ela. Mas por outro lado, possibilita e permite apurações, contatos e aproxima pontos distantes, tornando muros de concentrações e o afastamento de continentes distintos apenas obstáculos virtuais.

O mundo contemporâneo tem sido pródigo nessas coisas. A censura iraniana fica reduzida ao ridículo com celulares, twitters, etc. Assim também é uma seleção concentrada.

E as informações dão conta de um clima de guerra e embate entre partes da comissão técnica canarinho. Como de hábito, podem até aparecer abraçados amanhã para desmentir, mas o clima de beligerância está no ar, cada dia mais pesado, diga-se de passagem. Por sorte, o primeiro adversário é uma Coreia do Norte, que, cá entre nós, deve amenizar o ambiente com sua fragilidade. A ver…

E vamos chegando a inesperada defesa de Dunga. Os fatos me obrigam.

O treinador tem sido massacrado por fechar a seleção, treinos fechados, etc. E em alguns momentos, tem se imaginado que alguns fechamentos de portão são retaliações contra a imprensa por divulgar e repercutir fagulhas como a de Daniel Alves e Julio Batista. Que obviamente não rendeu nada além do treino.

Não é por aí. A briga de Dunga é interna, na própria trincheira. E por incrível que pareça, inatacável. É Dunga quem tem brigado contra os privilégios de alguns orgãos. Foi ele que acabou, até aqui, com esses privilégios. Foi Dunga que abortou nos últimos dias a volta de privilégios. Que, tenham certeza, já estavam mais do que articulados e programados. E por isso, por ter se contrariado com a massa do bolo quase pronta, a sua revelia, legítima bola nas suas costas para a volta dos privilégios, veio a decisão de fechar mais um treino. As entrevistas já estavam articuladas, jogadores, locais…

Dunga pode ter um monte de defeitos, e parece mesmo que tem uns brabos. Mas vem de longe nessa historia de futebol. Sabe quem é quem, conhece os Maquiaveis de plantão. Sabe quanto o prestígio da seleção é usado como moeda para troca: te dou um privilégio aqui, recebo um beneficio de imagem acolá e saio fortalecido…

Conhece bem histórias de gente como Ricardo Gomes na seleção brasileira, quando o hoje são paulino esteve com o time olímpico. Sabe que as noticias contra o treinador vazavam de dentro da trincheira. Homem de bem, Ricardo Gomes não soube se armar pra jogar na mesma moeda suja, e injustamente acabou com pecha de deixar as coisas correrem frouxas. Milimetricamente planejada para vazar. Informações maledicentes soltas “inocentemente” numa “resenha”. E que sempre encontram um inocente útil de plantão para espalhar e publicar, com orgulho de achar que está demonstrando saber de bastidores. Com a nossa imprensa cada vez mais carregada de almofadinhas, sem 10 minutos de esquina pra discernir o que é sujeira do que é informação boa, o terreno fica fértil. Os Maquiaveis deitam e rolam…

Para completar tudo, tivemos no pré-copa a informação vazada de que a convocação de Adriano estava proibida pelo Chefe, desmoralizando Dunga. Podem negar quanto quiserem também, mas obviamente acirrou a beligerância e aumentou a temperatura.

Para não acontecer e passar pelo mesmo que antecessores, Dunga radicalizou. Nada foge ao seu controle, ninguém fala sem que ele saiba, e por aí foi. A pergunta óbvia: é certo? Esse é o modelo que está defendendo? Claro que não. Mas qual era o outro modelo? O modelo dos privilégios, o da informação para alguns, entrevistas exclusivas em profusão. (Que fique aqui a ressalva, sempre, em nome da correção: existem sim os profissionais do outro lado, excelentes, que conseguem as coisas por talento, brilho e suor. Alguns dos melhores que conheci, e pessoas de caráter irretocável. Ou seja, nem tudo o que se vê ”exclusivo”, pode ser debitado na conta do privilégio. Mas estes privilégios existem em alguns casos, e principalmente na possibilidade de se estruturar para um cobertura com antecedência sabendo como será toda a logística liberada muito antes, e por aí vamos…).

Então chegamos até aqui entre esses dois modelos: o atual, fechado como a Coreia do Norte, simbolizado nesses tempos de Dunga, e o anterior, dos privilégios, da falta de retidão. Não que eu também acredite que Dunga está fazendo isso por achar que essa é conduta mais integra. Afinal, também ele já foi agente de privilégios e já foi cúmplice em queixas contra profissionais para diretores de empresa subservientes. Mas tem tal postura agora porque identificou, por sobrevivência, que, no momento, este é o melhor lado para estar na guerra interna que se instalou no clube de golfe.

E asseguro: apesar de Dunga adorar o conflito com a imprensa, desta vez seu alvo e inimigo está na trincheira. E se até o fim as coisas desandarem em campo, do jeito que as coisas vão e a temperatura está alta, isso ainda acaba em briga de mão dentro dos muros…De um lado Dunga sendo entregue aos leões. Do outro o treinador não se preocupando mais em omitir o tratamento de “cobra, cobrinha…” para alguns da sua trincheira…Sei não…

No mais, apenas uma certeza: copiem o que estou escrevendo, guardem e me cobrem. Em termos de cobertura, no dia seguinte ao fim da copa, teremos saudades de Dunga. A que ponto chegamos…
 

Pois o martelo já está batido: nunca mais irá acontecer isso, um treinador bancar tal posição, definir os dias fechados, o modelo de comunicação. Com a marcha da Copa no Brasil começando no dia 12 de julho, até 2014 viveremos mais do que nunca a era dos privilégios e da informação viciada. Podem apostar.

PS- Este texto estava pronto quando chegou a informação de que a Fifa condenou o fechamento dos treinos brasileiros. Alguma dúvida sobre qualquer articulação ou recurso utilizado para cortar as asas do treinador? Da própria trincheira se articula com o exterior para fazer o cara sossegar. Parece maquiavélico. E é. Essa cobertura ainda acaba em enredo de James Bond.”

3 Replies to “Dunga, a guerra interna e a imprensa”

  1. O Dunga expôs o que grande parte dos brasileiros sente com relação à Globo: “ESTAMOS CANSADOS DE LIXO ENTRANDO EM NOSSA CASA ATRAVÉS DA TV”; só bastava alguém com voz ativa e coragem pra dizer NÃO!

    Porque que a globo tem que ter exclusiva com jogador?

    Porque que a Senhora “Borner” tem que ir com a seleção no ônibus?

    A resposta é só uma: “NÃO TEM” – É isso aê Dunga TOCA O TERROR!!!

    NÃO ESQUEÇAM QUE HOJE É “O DIA SEM GLOBO” – se depender de mim a globo perde pra TV GAZETA – KKKK

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