Feriado, algumas coisas para resolver, crianças para olhar…
E a nossa coluna “História & Outros Assuntos”, assinada pelo publicitário e historiador Fabrício Gomes. Hoje com uma crônica bastante interessante.
Boa leitura.
“Dizem que toda história nasce num início, passa por um meio e morre por um fim. No entanto, esta parte de um inesperado encontro…
O Encontro da Prosa com o Verso
Tudo começou quando o Verso saiu da linha. Ia procurar um acento para descansar sua desgastada forma e acabou esquecido no canto da página. Tal fato não estava no roteiro e logo começaram as orações por sua recuperação… mas nada do Verso entrar novamente em forma. Desde então, sua função era meramente um prefixo para justificar sua existência, afinal, nem mais na borda da página estava…
Caíra no lugar-comum, de modo que não tinha mais a mínima noção de tempo: quanto mais se debatia, mais abreviava cada palavra que proferia. No fim da folha já antevia seu fim, e até mesmo a folha começava a virar-lhe a face.
Que fazer, senão soltar o Verbo?
É certo que causou boa impressão, pois ela veio toda Prosa. Primeiro, consultara o Aurélio sobre essa conjunção. Diante da Afirmativa, procurou o Diálogo: não existia um ponto para a Interrogação. Embora não encontrasse Adjetivo, que conseqüências teria a provável Negação? Na Teoria, era uma coisa. Na Prática, era outra. Mas não era tudo: ainda tinha que achar o Vernáculo e saber da Opinião, pois subordinada a ela estava. Na Descrição, arrancou dele poucas palavras:
– Não vou gastar meu latim com você. Não é de bom Tom alguém de sua classe se tornar tão vulgar! – disse o Vernáculo.
Pelo perdão da Má Palavra, a Prosa não estava nem aí para a Norma Culta. O Verso, que já caía pelas tabelas, substancialmente já começava a vislumbrar seu fim. Sua relação com o mundo traduzia-se no profundo Hiato. Não tinha mais o que falar, nem o que escrever. Afinal, o Discurso estava ficando velho e ultrapassado.
Procurando ser direto, abusou do Jargão e começou a mandar indiretas para a Prosa:
– Se ainda tenho algum significado para você, quero me transformar no Objeto Direto das suas ambições!” – disse o Verso.
É claro que as mensagens eram mandadas pelo Código. E não pense que era fácil para a Prosa decifrá-las, afinal, não era bem esta a sua especialidade.
O Verso buscava explicações num vago Referencial. Para não perder o Ritmo, começou a fazer análise. Durante meses trocaram mensagens. Tudo parecia entrar em harmonia. E a Prosa, “toda prosa”, transbordando de orgulho, ganhava uma nova forma: logo traçou as Coordenadas. Em Síntese, aprendera a ter o hábito de versar. Com a ajuda da Rima, criaram juntas o Poema… um Porém: não tinha lábia suficiente para declamá-lo. A solução foi chamar a Estrofe, que nessa época já cantava o Refrão e… estava pronta a Composição!
O que parecera difícil ficara fácil: a Prosa tirou de letra. Em seu conteúdo, comparava o Verso a um Artigo de luxo. Sua carta não era um discurso, era uma dissertação. Ora bolas, não falavam a mesma língua, portuguesa?
O Som alertara:
– Cuidado! Nem sempre se fala como se escreve! Lembre-se: uma imagem vale mais que mil palavras!
Faltava ainda um algo a mais, talvez uma maior comunicação entre os dois.
A Prosa devia logo por os pingos nos iis. Acabaram concordando em Grau, Número e Gênero. O Verso virara para a Prosa uma questão de princípios. Ficara marcado para sempre. Pela acepção da Palavra, a relação ganhava novos contornos: mandou o Emissor entregar a Carta e ficou esperando a Resposta. Durante quase um mês seus dias se transformaram numa imensa Interrogação.
Cheia da Gíria, que lhe atormentava a todo instante, a Prosa chamou o Agente da Passiva para tirar algumas dúvidas. Entretanto, achou ele reticente. Acabou então tomando uma tônica para relaxar. Mostrando coerência, foi ver a cara do Sujeito. Tinha vontade de lhe falar um Palavrão!
– Aposto que não recebeu! – tentava adivinhar a Prosa.
O tempo passou e a Prosa resolveu ir direto ao Xis do problema. Procurou o Verso:
– Vamos passar uma borracha nesse Ruído?
O Verso viu na Frase um bom exemplo. Desde então uniram-se e festejaram o nascimento da bela Redação. Agora, o passado já é página virada. Talvez precisássemos de mais um Capítulo. Mas vamos logo por um Ponto Final nessa História, com Final Feliz.”