O Império Serrano irá escolher neste próximo domingo, dia 25, o seu novo presidente, que irá completar o mandato do Presidente Humberto Carneiro – que renunciou logo após o carnaval deste ano.
Obviamente a escola enfrenta uma grande crise após o sexto lugar no desfile do Grupo de Acesso A – a pior classificação da história da escola em toda a sua gloriosa trajetória.
Entretanto, esta não é primeira crise que a escola enfrenta em sua história. Desde 1978 com o primeiro rebaixamento que a história de verde e branco da Serrinha vem enfrentando altos e baixos.
Nosso “Samba de Terça” de hoje é de outra ocasião na qual a escola passava por um momento difícil em sua existência. E desta revolta com a situação saiu aquele que é considerado um dos únicos sambas enredo de protesto da história do carnaval carioca: “Fala Serrinha, a voz do Samba Sou eu Mesmo Sim Senhor”, 1992.
Voltemos a 1991. O Império foi rebaixado com o décimo quinto e penúltimo lugar com um enredo dedicado aos caminhoneiros. As inovadoras e polêmicas soluções propostas pelo carnavalesco Ney Ayan não foram compreendidas pelos jurados, e depois de treze carnavais consecutivos entre as principais escolas estava de volta ao então Grupo I – hoje denominado Grupo de Acesso A. A verde e branca ainda teve pontos descontados devido a um suposto merchandising de uma distribuidora de combustíveis.
O enredo proposto era uma grande resposta aos jurados do ano anterior que na palavra dos seus componentes haviam rebaixado injustamente a escola.
Proposto em 1987 pelo então carnavalesco da Mocidade Fernando Pinto – que fora lançado pelo Império Serrano – o tema foi desenvolvido pelos carnavalescos Paulo Resende, Luiz Rangel e Wanderley Silva. Nas palavras deste último:
“O que a Império levará para a avenida é um protesto indignado e a Serrinha vem no chão para mostrar o que é samba.”
Os cinco setores do desfile eram “O baile de máscaras”, “As raízes do samba”, “A delegacia”, “Arquibancadas da Presidente Vargas” e “Os Campeonatos do Império”. Claramente eram uma alusão à tradição inovadora que a escola sempre deteve e que não fora “compreendida” pelos jurados no ano anterior.
A escola foi a décima quarta e última a escola a desfilar, já na manhã de primeiro de março de 1992, domingo de carnaval. Com alegorias e fantasias simples, reflexo da penúria financeira que a escola apresentava, a escola se apoiou no belíssimo samba e fez uma apresentação de muita garra.
Entretanto, a agremiação da Serrinha patinou em problemas de Harmonia e Evolução, em especial no recuo de bateria. Contudo, a escola saiu da Apoteose aos gritos de “é campeã”. Retornar ao Grupo Especial parecia sim possível.
Só que na abertura dos envelopes dos jurados a escola teve de se contentar apenas com o terceiro lugar, com 298 pontos – nada menos que quinze pontos atrás da Unidos da Ponte, segunda colocada. Sobre este resultado até hoje pairam suspeitas de que teria sido determinado antes mesmo dos desfiles propriamente ditos.
Lendas do carnaval, embora a diferença anormal de pontos das duas primeiras colocadas para as demais classificadas – em que pese o belo desfile da Acadêmicos do Grande Rio, campeã – deixe bastante plausível a hipótese de algum tipo de combinação prévia de resultado. Mas…
O belo e guerreiro samba de Beto Sem Braço, Jangada e Maurição conseguiria uma proeza: ganhou o Estandarte de Ouro de Melhor Samba do grupo de Acesso, naquela que é considerada a melhor safra de sambas da história deste grupo – e uma das melhores de todos os tempos.
Só na série “Samba de Terça” deste blog já é o terceiro samba de 1992 do Acesso A – Rocinha e a Grande Rio foram os outros dois. E ainda pretendo trazer o samba da Unidos do Jacarezinho em uma próxima coluna.
Portanto, 1992 marca a primeira vez em que o Império não retornava ao Grupo Principal no ano subsequente ao rebaixamento – fato que se repetiu este ano de 2010. A escola subiria com o vice campeonato no ano seguinte, 93, com o enredo “Império Serrano, um Ato de Amor”.
Vamos à letra:
“Avante imperianos
A luz de Deus iluminou a Serrinha
Viemos cantar, sambar,
Mostrar, provar a nossa tradição
Pouca coisa não vai nos jogar no chão
Viemos cantar, sambar,
Mostrar, provar a nossa tradição
Pouca coisa não vai nos jogar no chão
Nos olhos da claridade
Até cego tem poder
O pior cego é aquele
Que enxerga e não quer ver
O pior cego é aquele
Que enxerga e não quer ver
Fiz meu pedestal
Ilustrei o carnaval
Etecétera e tal
Eu vou enxugar com a sua ingratidão
Meus pés que vão suar de poeira
Toda criação que eu criei foi pra brincar
Se não lembrar é brincadeira
Do prato, reco-reco, agogô
Que até hoje levanta o seu astral
Etecétera e tal
Eu vou enxugar com a sua ingratidão
Meus pés que vão suar de poeira
Toda criação que eu criei foi pra brincar
Se não lembrar é brincadeira
Do prato, reco-reco, agogô
Que até hoje levanta o seu astral
O primeiro destaque do samba surgiu
Em minha pauta musical
Com miçangas e paetês bordei meu nome
Nos braços do mais belo carnaval
Com miçangas e paetês bordei meu nome
Nos braços do mais belo carnaval
Lá do céu o “Viga-Mestre” nos pediu
Em sua filosofia
Pro Império não parar de entoar
Seu canto de euforia
Pro Império não parar de entoar
Seu canto de euforia
Lembrar as glórias da Corte Imperial
Quatro anos de vitórias sem igual
E assim …
Atravessei fronteiras de emoção
Vi turista chorar
Meus fãs vão chorar saudade
Em não me ver no meu grupo desfilar
E assim …
Atravessei fronteiras de emoção
Vi turista chorar
Meus fãs vão chorar saudade
Em não me ver no meu grupo desfilar
Sou Império, sou patente
Só demente é que não vê
Do samba sou expoente
Abra meu livro, pois tu sabes ler …“
Vi esse desfile e me emocionei com o esquenta , quando o Roberto Ribeiro começou a cantar Aquarela e observei aquele império de emoções .
E tem gente que diz que o Império Serrano não acrescenta mais nada ao Carnaval. Ah tá!