Reproduzi no título deste post o que o marqueteiro da campanha presidencial de Bill Clinton disse ao mesmo quando da definição das prioridades daquela campanha presidencial de 1992. A idéia era chamar a atenção para o fato de o que realmente importava ao eleitor era se ele estava com emprego e dinheiro no bolso para consumir.
Pois bem. Sábado último estive às pressas no Ilha Plaza para comprar os presentes do meu pai e do meu sogro. Eu costumo brincar com os insulanos “de nascença” que este shopping não passa de uma galeria comercial, e que sua frequência era basicamente de jovens abaixo de dezoito anos e idosos acima de sessenta – ou seja, basicamente, aqueles que não podem ou não querem dirigir para fora da Ilha do Governador…
Faço este preâmbulo para dizer que raríssimas vezes vi este shopping – vá lá – lotado ou mesmo muito cheio. Nem em épocas de Natal se observam as multidões encontradas no NorteShopping ou no Nova América.
Qual não foi a minha surpresa ao chegar sábado último e ver o Ilha Plaza absolutamente lotado. Ainda consegui encontrar vaga para o meu carro sem grandes dramas, mas não havia aquela fartura de lugares como existe habitualmente.
As lojas, todas, muito cheias. Mesmo a Centauro, que é imensa para os padrões do Ilha Plaza, estava com muita gente – e muita fila para pagar. Os corredores e as lojas cheios, e as pessoas com sacolas de compras.
O leitor mais atento deve estar se perguntando qual a relação entre o shopping cheio verificado no último sábado e o marketing de campanha. Total.
Como mostro no gráfico acima, da Folha de São Paulo, tanto o rendimento real quanto a taxa de desemprego estão menores no último mês de junho em relação a janeiro de 2009. Hoje o rendimento médio real é de aproximadamente R$ 1.430, com uma taxa de desemprego de 7%. Lembro aos amigos que uma taxa de desemprego de 0% nunca se observará, porque há pessoas que estão trocando de emprego ou que não se sujeitam à labuta ao salário de equilíbrio para uma dada função.
Em um ano e meio o rendimento real subiu R$ 20 e a taxa de desemprego caiu 1,5%. Parece pouco, mas significa uma massa de recursos bastante expressiva na economia nacional, que movimenta o consumo, estimula as empresas a investirem e a empregarem. Um círculo virtuoso. Observem que a taxa ainda esteve menor para o mês de abril, chegando a 6,5%.
Como no Brasil há a percepção de que “os políticos são todos iguais”; ou seja, o discurso da ética e da honestidade não exerce hoje determinação expressiva sobre a definição de voto, a população tende a votar “olhando para o bolso”. É exatamente o que as últimas pesquisas de intenção de voto para a Presidência apontam.
Uma ressalva: acredito que o padrão moral do governo atual ainda é superior ao anterior. Lembrem-se de que no Governo Lula a Polícia Federal pôde trabalhar e a imprensa não estava silenciada por adesismo como nos Anos FHC. Mas é evidente que temos problemas, muito devido ao nosso modelo político – sobre o qual já escrevi aqui.
O gráfico acima, do Dieese (Departamento Inter-Sindical de Estudos Estatísticos), é ainda mais claro. Tomando-se como base o ano de 1999 para o número índice “100”, hoje temos um nível de ocupação 25% maior, o rendimento médio real 10% maior e a massa salarial ainda 10% menor.
Entretanto, todos são números superiores ao final de 2002, quando Fernando Henrique Cardoso encerrou seu mandato na Presidência. O Governo Lula marca um período de recuperação tanto do emprego quanto da renda, com a formação de um mercado consumidor interno de massa e a geração de um círculo virtuoso que eu descrevi acima.
Um dado que chama a atenção é que o rendimento médio real – grosso modo, o salário médio, descontado a inflação – subiu aproximadamente 33% no período do governo atual. É um número que chega a ser espetacular levando-se em conta que neste meio tivemos a grava crise mundial de 2008/09 – e que aqui foi uma “marolinha”.
Com estes números a gente entende a dificuldade do principal candidato de oposição em construir um discurso que se torne competitivo. Apesar da intensa campanha a favor da grande mídia – que jogou às favas o seu papel de informar e mergulhou de cabeça na campanha de José Serra – a coligação PSDB/DEM tem grande dificuldade de falar às massas; justamente pela comparação da economia nos dois governos e pelo momento atual, onde um exército de consumidores – e eleitores – afluem aos shoppings e aos centros de consumo nacionais.
Salvo alguma grande crise econômica até as eleições – algo no que não acredito – diria que a candidata oficial possui boas chances de liquidar a fatura, talvez até no primeiro turno. O brasileiro – e aí me incluo – vai votar com o bolso.
É a Economia, estúpido !
Se o padrão moral deste governo é superior ao anterior, prazer, sou o Príncipe da Dinamarca, lindo e loiro!
Se aliar a Collor, Jader, Garotinho e família Sarney juntos já seria o suficiente para tornar o padrão deste governo pior que o anterior. Inclua mensalão, dólar na cueca, US$ 5 milhões para o filho, roubo em empresas públicas E (teoricamente) privadas e diria que o padrão moral deste governo é pior que o anterior, que chamava aposentados de vagabundos, teria comprado a reeleição e ganho suas comissões na privatização; enquanto este, rouba na nossa cara com intermediários em negociatas e inclusão de apadrinhados na folha de pagamentos do governo ou de empresas públicas E privadas. O que temos de fato é a oposição mais incompetente do mundo.
E quanto a filhos fora do casamento, Lula e FHC estão tecnicamente empatados…
Bruno, tem uma diferençazinha aí: o papel da imprensa, que escondia em um caso e exacerba em outro.
Por outro lado, Collor, Jader e sarney também foram aliados de FHC… também some aí ACM…
E ainda está por ser contada a história das privatizações no Brasil.
Mas o seu comentário reforça exatamente o meu raciocínio, de que o povão vai votar com o bolso.
abraços
p.s., – se me permite um provocação, lula assumiu de primeira o filho fora do casamento…
Collor estava voltando num partido minúsculo (PRTB) e não era incensado pelo governo anterior. Entrou na base aliada no Governo Lula e é aliado importante. Collor se manteve quieto com FHC… Garotinho era claramente de oposição. E ACM apoiou Lula na eleição de 2002 e só rompeu porque Lula descarta aliados para sobreviver como quem troca de roupa… O que demonstra a raposa política que é.
O grupo Globo já não exarceba tanto. Só os grupos Abril e Folha. Afinal a família Marinho tem empréstimos no BNDES para defender a prorrogação. Já está devidamente cooptado… A entrevista com a Dilma que não tocou no passado dela nem no mensalão petista já é uma demonstração de “bandeira branca”.
Bruno, acho que pela primeira vez discordo inteiramente de um comentário seu.
ACM apoiou Serra em 2002 e foi oposição até a morte.
E se a Globo protegeu Dilma ontem, não quero nem ver se estivesse a fim de atacar…o Bonner claramente perdeu a linha ao tentar defender os interesses dos patrões.
Pior é que amanhã, com o Serra, vão só levantar a bola pra ele cortar…
abs
Quanto ao ACM, eu não estou tão louco:
http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL55684-5601,00-CONFIRA+A+BIOGRAFIA+POLITICA+DO+SENADOR+ACM.html
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1704486-EI306,00.html
Leia a parte em que ACM apóia Lula em 2002, como uma resposta ao não apoio a ele no episódio da quebra de sigilo dos votos no senado.
Eu me lembro bem dessa história…
E se a Globo quisesse atacar MESMO, usaria o que a Abril e a Folha fazem: chamariam a Dilma de terrorista, sequestradora, etc. A Globo pegou leve SIM, perto do que poderia e teria condições de fazer.
Podemos (e devemos) até discordar, mas entendeu meu ponto?
Bruno, a Globo não pode atacar Dilma chamando-a de “guerrilheira” porque a Lei de Anistia “zerou” tudo. Caberia até um processo.
Aliás, este conceito de “guerrilheira” e “sequestradora”, como dizia nossa saudosa professora Ana Maria, é muito relativo para se definir aqueles tempos. Já escrevi sobre isso aqui mesmo.
eu vou dar uma olhada nos links.
mas os teus comentários reforçam o mote principal do texto, de que o que importa hoje na definição do voto é o bolso.
Verdade quanto à lei da Anistia. Mas poderia ser colocado com uma pergunta como “Você se arrepende dos atos feitos na época da ditadura militar?”. Não a chamaria de criminosa diretamente e poderia induzi-la a colocar o que foi feito na época ou ainda expor o temperamento ruim da Dilma… A Globo optou por não fazer isso.
Só não posso concordar contigo quanto à parte moral. Para mim, o governo Lula consegue ser mais podre que o governo FHC. É uma façanha…
Eu discordo desta visão sobre o temperamento de Dilma Roussef, Bruno. Muita coisa do governo que andou deve-se a ela.
Quanto à comparação de quem é pior, não se esqueça que nos Anos FHC a imprensa e o MP abafavam tudo.