O debate entre os candidatos à presidência na última quinta feira foi mais monótono que uma corrida de tartarugas sob efeito de Lexotan. Entre uma cochilada e outra cheguei a algumas conclusões.

Plínio de Arruda Sampaio foi bem exatamente por conta de seu desempenho delirante. Atuou como o franco atirador, a pipa voada, a nave louca. O candidato estava com a macaca e só faltou dizer que ia criar cento e vinte milhões de novos empregos no primeiro mês de mandato. Como não tem votos suficientes sequer para ser eleito síndico do Balança mas não cai, Plínio se sentiu em condições de articular um discurso extremista para marcar posição. Foi dele a frase mais doida do embate ao defender a reforma agrária radical : – Você,  companheiro camponês que está nos assistindo…

A atuação do candidato do PSOL me remeteu a um debate dos meus tempos de estudante, entre concorrentes à direção do centro acadêmico de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Lá pelas tantas um sujeito com cabeleira a Bufalo Bill, no meio da discussão sobre a necessidade de reformas curriculares, disse o seguinte:

– Mais importante do que o currículo é inserir o C.A. na luta dos sandinistas na Nicarágua.
Plínio é a nossa versão para o curioso caso de Benjamim Button. Aos oitenta anos está na campanha presidencial com um discurso de secundarista de grêmio estudantil. Pode ser  que tenha uma parcela dos votos da rapaziada de dezesseis anos, idade em que qualquer pessoa decente tem o dever moral de querer a revolução mais radical do mundo. Foi boa, enfim, a estratégia de Plínio, o jovem, para marcar posição.
Dilma Roussef me parece fisicamente a  filha do casamento entre Etty Fraser e Chuck, o brinquedo assassino. É a cara dos pais. No início gaguejou, articulou mal as frases e parecia próxima de uma crise neurovegetativa que a paralisaria para sempre. Estava tão confortável quanto um esquimó no Mercadão de Madureira em um dia de verão. Aos poucos foi respirando e apenas se salvou do cataclismo.
Acho que um governo Dilma pode ser interessante para o país exatamente porque ela não é interessante coisíssima nenhuma. Depois da apoteose carismática e personalista de Lula, teremos uma Chuck Fraser pragmática e ruim de cintura, o que pode ser bom para o amadurecimento do exercício político em um país marcado pela crença sebastianista no personagem do salvador. Terá o meu voto, simplesmente por representar a continuidade do projeto que, mesmo com problemas, tem inúmeros acertos e me parece o mais consistente no campo progressista.
Marina Silva parecia uma candidata ao papel de Nossa Senhora em uma montagem do Auto da Compadecida por um grupo de teatro amador. Falou de Deus, mostrou que ama a humanidade e recitou um poema digno dos melhores momentos de J.G. de Araujo Jorge. A melhor tirada do debate foi a de Plínio Benjamim Button de Arruda Sampaio a chamando de Pollyana. Marina lembra mesmo a moça da filosofia do contente.

Se Rosinha Garotinho sempre me pareceu ter o perfil de vendedora da Avon, Marina – companheira de fé da garotinha – tem mais categoria e pode, fácil, fácil, sair das eleições como conselheira sênior da Natura ou comentarista de sustentabilidade da Globonews. A verde parece se achar a única candidata capaz de velar pelo fogo sagrado do altar da deusa Vesta. Eu desconfio muito da pureza das vestais e não simpatizo com seus discursos imaculados.

José Serra é um perigo para a formação das crianças. É difícil saber de quem se trata: o Lula Molusco do Bob Esponja ou o vampiro Nosferatu. Em um caso as crianças desconfiam, já que o molusco sacaneia o Patrick e o Bob Esponja. Em outro, tremem de medo. Aparições de Serra podem esculhambar o equilíbrio infantil e eu recomendo que tirem os petizes da sala nas intervenções do tucano. O PSDB parece mesmo mais perdido do que soldado americano em Cabul. Serra começou na política como um sujeito afinado com o campo progressista e periga terminar como um molusco neo-lacerdista pescado e devorado por algum DEMônio silvícola do litoral. 
Aguardemos os próximos embates entre os postulantes ao Planalto.
Abraços

11 Replies to “OS CANDIDATOS”

  1. Simão: achei o Plínio Benjamin Button de Arruda Sampaio patético e, lastimavelmente, por conta de uma evidente senilidade emoludurada por suas orelhas de Dumbo, desrespeitoso. Chamou Marina Silva de “filha”, numa demonstração de leviandade que me deu ânsia de vômito e agudo nojo (como se não bastasse o nojo que tenho pela pinacoteca psoliana). Teve o desplante de dizer que FHC distribiui mais terras que Lula e ficou, com fixação, falando num tal “muro” que só ele, com antolhos, enxergava. Foi nojento. Foi venal, como se já não bastasse ter chamado o atual governo de “nefasto”, foi patético. Não consigo pensar noutra definição.

  2. Vou votar na Dilma. Mas como diz um amigo meu: Que meda me dá! Já se falou que o Brasil não é para amadores. Para amadoras menos ainda. A Dilma me passa essa imagem. Preocupa-me. Há muita gente mal intencionada ávida pelo poder. Só de butuca no escuro. E nossa história é cheia de paladinos oportunistas. Vide collor de mello. Todos de plantão. E pode acontecer de Lula não estar lá. Ele é vivente como todos nós. Que infelicidade não ter homens públicos dignos do meu volto por si mesmos. Acho que do teu tb não. Ah Getúlio, que falta faz o Brizola agora.

  3. Risos frouxos ao ler isto. Concordo lá com o Felipe do “As primeiras palavras”, assessoria deve agir rápido, pois a oratória de Dilma tá precáriaaaaaaaa…
    Mas Simas, voto sem medo, confio muito na administração dela.

  4. Curiosidade: dias antes (3 de agosto), o Plínio recebeu, em cerimônia solene, na Câmara dos Vereadores, no Rio, o “Título de Cidadão Honorário” – com duas ambulâncias prontas pra qualquer imprevisto…

    E o discurso final de dois minutos e meio do Serra me deu enjôo. Deprimente… Ótimo texto, Simas!

  5. Concordo com quase tudo.
    Só não entendi o comentário a respeito de Serra. Nenhuma crítica contundente, somente tiração de sarro.

  6. kkkkkk….
    Foi a melhor definição do debate que eu li nesses ultimos dias na grande rede!
    Simplesmente, acido, ironico e cruel com os candidatos…

  7. Rafael de Oliveira, acho que você não leu este trecho. A mim pareceu uma crítica contundente:

    “Serra começou na política como um sujeito afinado com o campo progressista e periga terminar como um molusco neo-lacerdista pescado e devorado por algum DEMônio silvícola do litoral.”

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