Esta semana o “Jornal da Record” está com uma série de matérias interessantíssimas sobre “os porões da ditadura militar”. Ancorada pelo jornalista Rodrigo Vianna – dono do excelente blog “Escrevinhador” e do qual já republiquei textos um par de vezes aqui – a série especial vem mostrando uma história que os “donos do “poder” brasileiros insistem em esquecer.
Não vi infelizmente a reportagem de segunda feira, mas terça e ontem foram abordadas as relações de empresários com a repressão. Eram comerciantes, industriais e outros donos de meios de produção que apoiavam logisticamente a repressão e a tortura e se jactavam de suas amizades neste meio.
O envolvimento destes empresários era tamanho que muitas vezes ganhavam “patentes” militares, passando a serem conhecidos por estas alcunhas antes do nome.
Outra marca do envolvimento de empresários com a tortura é o fato de alguns destes terem sido condecorados com a “Medalha do Pacificador”, a mais importante comenda do Exército. O Decreto 4.207, de 23 de abril de 2002 e que disciplina a concessão da medalha indica que ela pode ser entregue a, entre outros:
“V – aos cidadãos nacionais que hajam prestado relevantes serviços ao Exército; e
VI – às organizações militares e instituições civis, nacionais ou estrangeiras, que se tenham tornado credoras de homenagem especial do Exército.”
Obviamente, naqueles tempos de chumbo o critério para se decidir o que eram “relevantes serviços ao Exército” era bastante diferente.
A série enfoca a vida de Joaquim Fagundes Rodrigues, empresário dono de uma transportadora – que possuía como única cliente a estatal Telesp, dirigida pelos militares – e que cedera o sítio “31 de Março” para o Exército torturar e assassinar opositores do regime. Notem que o nome da propriedade faz alusão à data escolhida pelos militares para marcar o aniversário do golpe de 1964, que, em verdade, foi no dia primeiro de abril – Dia da Mentira.
As reportagens estão indo ao ar desde segunda feira última, por volta de oito e vinte da noite, no Jornal da Record. Acima coloco a matéria de ontem, que mostra a amizade do empresário em questão com notórios torturadores.
Infelizmente não poderei ver ao vivo hoje, mas há reprises na Record News mais tarde e no portal R7. É uma iniciativa bastante oportuna, tendo em vista a recente decisão sobre a tortura e anistia proferida pelo STF – alvo de post à época.
Esta é uma história que temos de lembrar eternamente, por mais sórdida que seja. Para que não se repita.