Bom, o leitor antigo do Ouro de Tolo sabe que o Espírito Santo é um estado onde o Poder Judiciário é, digamos, “mais complicado” que em outras partes do Brasil.
Sabe porque resenhei aqui “Espírito Santo”, que conta a história do envolvimento da Polícia e de juízes na morte do juiz Alexandre Martins, que investigava o envolvimento destes em diversos atos criminosos. Inclusive, a resenha foi recomendada por Luiz Eduardo Soares, um dos autores, em seu blog pessoal.
Este “Onde a Corrupção Veste Toga”, de certa forma, é uma continuação de “Espírito Santo”. Compilado pelos jornalistas Rogério Medeiros e Stenka do Amaral Calado a partir de matérias veiculadas pelo site “Século Diário”, é uma investigação elaborada a partir da “Operação Naufrágio”, que investigava venda de sentenças, nepotismo e outras irregularidades de um Judiciário que se achava acima do bem e do mal, sem ter de prestar contas à sociedade.
Nas palavras do desembargador Josenider Varejão, um dos principais envolvidos no escândalo: “Abaixo de Deus, nós é que botamos pra quebrar.”
O repertório de irregularidades descritas pelo livro é farto: nepotismo, venda de sentenças, manipulação de concursos, compra de imóveis a preços subfaturados, loteamento e “saque” de cartórios, corporativismo, desvio de verbas, advocacia pessoal, corrupção, padrões de vida incompatíveis com a renda e muitos outros.
Além disso, as matérias mostram como o Tribunal de Justiça do Estado era utilizado pelo Governador Paulo Hartung para manter um arranjo institucional onde seus inimigos fossem enviados ao ostracismo e aliados políticos com problemas na Justiça mantivessem seus mandatos sem problemas.
O curioso é que, de herói em “Espírito Santo”, o Governador passa a vilão neste exemplar – e a hipocrisia de sempre utilizar a bandeira da “limpeza institucional” para justificar seus atos.
O material é pródigo na descrição de atos criminosos. Bons exemplos são a manipulação de concursos para que os aprovados fossem parentes dos desembargadores e o “loteamento” dos cartórios do estado. Inclusive um destes foi alvo de briga dentro da família do desembargador Frederico Pimentel (foto abaixo), ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado, por causa da divisão dos recursos do mesmo.
Outra história escabrosa do livro é a compra por parte de desembargadores de imóveis a preços (bem) abaixo do mercado da Construtora Galwan, especialmente. Estes imóveis, de alto luxo e metragens imensas, eram vendidos de forma facilitada e a preços baixos para os desembargadores e demais membros influentes do Poder Judiciário local, inclusive a membros do Ministério Público.
Em troca, a Construtora em questão obteve uma série de decisões favoráveis na mais alta esfera dos tribunais capixabas. Esta relação promíscua entre a empresa e os desembargadores é bem explorada em um dos capítulos.
Os capítulos finais mostram a tentativa de fazer de Frederico Pimentel “boi de piranha” da investigação e a entrevista por este dada a fim de tentar se livrar de tal papel. E a monumental pizza ao final do processo, onde as punições atingiram apenas a família do citado juiz.
Também é tema do livro o silêncio da imprensa tradicional, comprado através de anúncios oficiais por parte do governador.
As histórias contadas deixam claro que o Judiciário é muito pior que o Executivo ou o Legislativo. Reclamamos dos políticos mas, mal ou bem, eles podem ser trocados de quatro em quatro anos. E os juízes?
Outra pergunta: quem controla o Judiciário ?
Bom, na Travessa o livro custa R$ 30. Apesar de ser uma colagem de matérias e ser, por isso, carente de um ritmo mais encadeado, é leitura obrigatória.
Até para percebemos quão injusto é o sistema que deveria ser o guardião da justiça, mas, ao que parece, está preocupado mesmo é com questões mundanas, por um lado, e em defender os interesses dos mais ricos e mais poderosos, do outro.
Estarrecedor.
O Poder Judiciário é uma “caixa preta” que embora seja componente da REPUBLICA seus membros acham que não necessitam prestar contas de nada. Assim, o que, ocorre quando tudo é realizado às ocultas é a “malandragem” e a “corrupção”, e, os desmandos que o livro referenciado esta denunciando à população de um modo geral.
Teria interesse em adquirir o livro, e, gostaria de saber como faço isso, para pagar e recebê-lo via postal.
Prezado, procure a editora, por gentileza