Neste sábado, feriadão, e temos mais uma edição da coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro. Hoje ele retoma o tema da última coluna e traça um panorama dos resultados eleitorais gaúchos.

Quando este texto estiver disponível para os leitores estarei em um aprazível hotel fazenda em Barra do Piraí, Rio de Janeiro. Mas o Ouro de Tolo será atualizado normalmente até terça feira.

Vamos à coluna. Na foto temos as três parlamentares citadas, da esquerda para a direita: Manuela, Luciana e Maria do Rosário.

ELEIÇÕES 2010 NO EXTREMO SUL: O DIA SEGUINTE.

Tudo aconteceu mais ou menos como eu previ, Tarso se elegeu no 1º turno, Rigotto deu outro vexame na reta final, Manuela foi a campeã de votos, o ex-goleiro Darnlei se deu bem e o esdrúxulo roqueiro/maconheiro/ultraconservador se reelegeu. 

O resultado final, entretanto, trouxe duas surpresas tristes, revelando como leis feitas sob as melhores intenções podem ser injustas com gente de bem e pouco eficazes com os vilões a quem pretendiam atingir. Duas deputadas federais de valor foram trucidadas por essa falsa idéia de que basta alguma sintonia fina no aparato legislativo que tudo vai ficar às mil maravilhas.

Maria do Rosário é a principal aposta do PT local para renovar seus quadros. O PT é fortíssimo no estado, mas suas principais lideranças (Tarso Genro, Olívio Dutra, Raul Pont, a própria Dilma) já passaram dos 60 anos. Maria do Rosário é da turma que era do movimento estudantil nos primeiros anos do partido. Por ser carismática e muito boa de voto, foi escolhida para concorrer à prefeitura de Porto Alegre em 2008, enfrentando uma parada duríssima, já que os aliados tradicionais (PC do B e PSB) largaram o PT sozinho e lançaram a candidatura do fenômeno eleitoral Manuela D´Ávila. Maria do Rosário, de forma até surpreendente, atropelou Manuela e foi para o 2º turno contra Fogaça. Perdeu, mas de cabeça erguida.

Em 2010 os brasileiros foram apresentados a tal Ficha Limpa, uma lei que ninguém sabe muito bem se vale ou não, mas cuja observância espontânea “pelo eleitor” era praticamente um dever cívico. Nenhum cidadão consciente da importância de seu voto ousaria escolher um “ficha suja”. E Maria do Rosário, surpreendentemente, era “ficha suja”. Nem gente muito bem informada sobre os meandros da política (modéstia à parte, eu) sabia em qual pecado Maria do Rosário havia incorrido, apenas que ela concorria amparada por uma liminar, como constava em qualquer lugar que se fosse buscar informações sobre a candidatura.

Contados os votos, somente ao final da apuração os votos dos “ficha suja” são revelados, e aí se soube que Maria do Rosário teve mais de 143 mil eleitores. Só então a imprensa se interessou em dizer qual o “crime” da deputada. Acreditem se quiser: a ficha de Maria do Rosário estava “suja” porque na campanha para prefeito em 2008, o partido ficou devendo R$ 450 mil a alguns fornecedores, tendo feito um acordo para pagar metade à vista e a outra metade em suaves prestações. Como no momento da prestação de contas ainda havia parcelas em aberto, as contas não foram aprovadas até que o débito fosse liquidado. E assim, por conta de uma prestação em atraso do PT (e não dela própria), Maria do Rosário foi parar na lista da vergonha.

O outro caso chocante envolve a Deputada Federal Luciana Genro. Ela teve mais de 120 mil votos, mas não se reelegeu porque o seu partido (PSOL) não atingiu o quociente eleitoral mínimo. Não é isso que quero criticar, a regra do jogo é assim mesmo desde tempos imemoriais, quem quer fazer política sozinho e sem aliados que assuma os riscos de sua opção. O que me intriga no caso da Luciana é outro problema, do qual ninguém parece ter se dado conta.

A lei eleitoral proíbe que parentes próximos do Governador se candidatem a cargos eletivos no mesmo estado, salvo em caso de reeleição. Como todo mundo sabe, o pai de Luciana se elegeu governador do Rio Grande. Assim, para cumprir a lei, sobram à Luciana as seguintes opções: a) se candidatar à Presidência da República; b) se mudar do Rio Grande do Sul; c) abandonar a política pelos próximos 4 ou até 8 anos (caso Tarso se reeleja).

O curioso é que Luciana Genro tem uma carreira política própria, totalmente independente da carreira do pai, a quem inclusive faz oposição ferrenha. O Tarso até brinca ao recomendar aos pais que dêem muita atenção aos filhos, porque se não eles crescem e se vingam indo para o PSOL (quando Luciana era criança, Tarso vivia exilado no lado uruguaio da fronteira e só via as filhas em finais de semana quando a família vinha visitá-lo).

A lei, tão gentil e bem intencionada, não barrou a ascensão das clarissas garotinho, dos jovens piccianis, das apatetadas weslians da vida. Mas alguém tem que pagar o pato e é a estridente Luciana Genro quem vai para a geladeira.

Em tempo: a ampla divulgação do caso de Maria do Rosário pelo menos serviu para sensibilizar os sonolentos Ministros do TSE. Já no dia seguinte da eleição eles julgaram o recurso dela e a consideraram apta. Até porque, depois de tanto tempo, aquela dívida já foi paga. Maria do Rosário já pode comemorar sua reeleição, embora lamentando que, não fosse pela confusão, talvez tivesse mais do que os 143 mil votos que à duras penas amealhou.”