No dia de hoje, sexta feira, a Portela escolhe o seu samba para o desfile do carnaval 2011. Escolha esta que vem recheada em polêmicas desde antes mesmo da escolha do enredo.
Nos últimos anos, a disputa da escola vem se notabilizando por boatos indicando previamente o resultado final que, de uma forma ou outra, foram confirmados. De 2005 para cá, o único ano onde tais “boatos” não se realizaram foi em 2007, onde a parceria liderada pelo compositor Diogo Nogueira, filho do grande João, conquistou o samba de forma brilhante desde o início da disputa.
De 2008 para cá vem se firmando a parceria liderada pelo compositor Júnior Scafura, que tem vencido todas as disputas e confirmando os prognósticos prévios. Scafura foi Presidente da Ala de Compositores, Diretor Geral de Harmonia e para 2011 voltou a ocupar o cargo de comandante dos poetas da águia. Este posicionamento lhe dá uma ascendência muito grande sobre os segmentos portelenses, o que em um pleito equilibrado como este se constitui em uma imensa vantagem.
Basta lembrar que Scafura entre 2006 e 2010 só não se sagrou vencedor em 2007. De 2008 para cá em nenhum dos anos seus sambas chegaram à final em condição de superioridade extrema – eu me arriscaria a dizer que em 2009 e 2010 o samba de sua parceria, em minha opinião, era o mais fraco da final. Ressalvo que, embora frio, o samba sobre o amor (2009) proporcionou um desfile delicioso à escola, e o deste ano, embora fraco, não comprometeu a bomba que foi nosso desfile.
Nos últimos anos, Scafura e Diogo Nogueira vinham juntos, mas a grande novidade para 2011 foi a separação da parceria. Scafura veio com Wanderley Monteiro, Luis Carlos Máximo, Naldo e, em uma novidade no mínimo polêmica, o puxador oficial da escola, Gilsinho.
Comenta-se que o próprio Presidente da escola teria solicitado a inclusão do puxador na parceria, mas tal informação foi veementemente desmentida por Gilsinho na comunidade oficial da escola em uma rede de relacionamentos. Enfim…
A boataria, este ano, dá conta de que este samba estaria escolhido antes mesmo do início da disputa. Mais uma vez reitero que é especulação, mas nos últimos anos todas estas, sem exceção, confirmaram-se exatamente como divulgadas previamente.
Tal situação tornou-se ainda mais evidente após a semifinal da última sexta feira. Segundo relato de várias testemunhas, Scafura e o presidente da escola foram até o palco da bateria reclamar com o Mestre Nilo Sérgio que esta havia “prejudicado” seu samba, além de cobrar que os integrantes cantassem o samba da referida parceria – o que, por si só, já significaria uma vantagem desequilibradora da disputa. 
Sentindo-se desrespeitado, Nilo Sérgio abandonou o palco da bateria, no que foi acompanhado por seus diretores e vários ritmistas – e aí sim prejudicando a apresentação do samba seguinte. Normalmente, tal postura traria a eliminação imediata do samba, mas não foi o que ocorreu: primeiramente foi divulgado que o Mestre da Bateria Estandarte de Ouro tinha sido afastado e, após uma reunião, nota oficial da escola desmentiu tal fato.
Certo é que, em minha opinião, o compositor sai como o grande vencedor deste imbróglio.
O samba, em si, na minha opinião é o mais fraco dos quatro finalistas. Repete a fórmula de anos anteriores e aposta em uma letra descritiva do enredo. O refrão principal é belo, mas não foge muito dos chavões dos últimos anos. O leitor pode ver acima o vídeo.

O segundo (vídeo acima) é aquele que em minha opinião e da maioria dos torcedores e segmentos da escola é o melhor samba, da parceria Diogo Nogueira, Ciraninho, Rafael dos Santos, João Martins e Leandro Fregonesi.
A parceria “pegou na veia”, com um samba muito superior aos dos vencedores anteriores. Melodia com variações bem legais e letra com algumas sacadas bem interessantes, como no trecho:
“E lá vai minha jangada
Enfrentando a madrugada
Pelo gigante Brasil
De natureza abençoada
Terra adorada
De encantos mil”
Gosto muito também do refrão principal saudando a “Rainha do Mar”, Iemanjá. Simples e forte. É o meu favorito.

O terceiro samba é o da parceria de Serginho Procópio (acima). Finalista em 2009 com um lindíssimo samba e que foi muito prejudicado na final por estranhas falhas de som, e injustiçado ano passado, a parceria repete o bom nível de suas composições. Também possui letra e melodia bem melhores que o favoritíssimo, onde destacaria o seguinte trecho:

“Não vou temer as tempestades tenho que enfrentar
Resplandecer… Velas içadas ao luar”

É o preferido de muita gente boa da escola, e seria minha segunda opção.

Finalizando, o quarto e último sobrevivente, o samba do velho e competente Noca da Portela, de volta a uma final após algumas eliminações em fases anteriores.

Vencedor em 1976/85/95/98/99/2005, e com dois Estandartes de Ouro – os dois últimos da Portela, em 1995 e 98 – seu samba foi muito criticado pela infame rima “Cantaí / Sapucaí” do refrão principal.

Em parceria com Alexandre Fernandes, Bandeira Brasil, Claudinho Oliveira e Márcio Ferraz, destaca-se pela segunda parte, que possui uma letra bastante inspirada e que retoma o velho “padrão Portela”, esquecido nos últimos anos de sambas insípidos.

Considero que é inferior aos dois anteriores, mas melhor que o primeiro – boa escolha, também.

Esta final de hoje possui algumas particularidades: Noca da Portela pode igualar Candeia e Davi Correa como maior vencedor de sambas na águia  – sete. Diogo Nogueira pode quebrar o recorde que detém com o mesmo Davi de vitórias consecutivas, indo a cinco. E Scafura pode igualar os dois, com quatro.

Minha avaliação é de que será uma zebra histórica se o samba da parceria de Júnior Scafura não for o vencedor, levando-se em conta os anos anteriores e os acontecimentos desta disputa. Entretanto, com a confirmação de tal fato a escola pode entrar em uma grande crise, pois os segmentos, sócios e torcedores da escola não querem este samba, defendido apenas pelos dirigentes. Ainda ressalto o problema criado com a bateria, que pode perfeitamente refletir no desfile da Portela.

Se realmente a Diretoria impor este samba como o vencedor, podemos ter algo como o ocorrido em 1974 e posteriormente em 1978, com o afastamento de figuras importantes da escola devido a escolhas de samba impostas pela Direção. Ainda mais levando-se em conta o histórico dos últimos anos.

Quem quiser conferir ao vivo, é bom chegar cedo, por volta das 22 horas, pois a quadra da Rua Clara Nunes, em Oswaldo Cruz, deve ficar superlotada. Particularmente não gosto de ir a finais: fica muito cheio, intransitável, a bebida sempre acaba muito antes do anúncio do resultado e pelo menos na Portela a chance de você voltar para casa “fulo” da vida é enorme. Não vou a uma final  portelense desde 2002/03, quando assisti ao vivo a uma das maiores palhaçadas da minha vida de sambista, com um resultado claramente armado.

O ingresso custa R$ 20 para cavalheiros e R$ 10 para damas, com início às 22 horas.

A ordem de apresentação dos sambas, definida ontem, é a seguinte:

1- Diogo Nogueira, Ciraninho, Rafael dos Santos, João Martins e Leandro Fregonesi
2- Wanderley Monteiro, Gilsinho, Luiz Carlos Máximo, Jr. Scafura e Naldo
3 – Serginho Procópio, Celso Lopes, Charles André, João Carlos Filho e Marquinhos de Oswaldo Cruz
4- Noca da Portela, Bandeira Brasil, Alexandre Fernandes, Claudinho Oliveira e Márcio Ferraz

Amanhã ou depois o leitor poderá conferir a confirmação do meu prognóstico aqui mesmo. Espero, sinceramente, estar errado. Mas não creio.

Vamos aguardar os acontecimentos.

5 Replies to “Novela Portelense”

  1. E isso ai companheiro….vamos continuar fazendo o nosso papel de torcedor…apostando que no final a Justiça Vencerá….que nossa Rainha do Mar..Iemanjá…ilumine a mente dos jurados e do Sr.Presidente Nilo Figueiredo…e que pelo menos vença alguem que realmente merece vencer…

  2. Eu, como portelense, estou indignado com tudo isso que vem acontecendo em minha escola. O que deveria ser um dia de festa…..não é! Estou tenso, profundamente triste e sabedor de que sou impotente (diante da vontade exclusiva da diretoria)para mudar o que vai se concretizar hj. Quero cantar com orgulho de portelense…..”Canta Portela, no reino de Yemanjá..”. Esse samba me emociona….me dá força….bate na veia. Mas infelizmente como todos dizem….já temos um vencedor previamente estabelecido…Viva o carnaval!!!!

  3. Amigos, não sei se leram os outros posts do blog sobra a nossa águia, mas também sou sócio da escola.

    e me deixa incrédulo saber que no dia da eleição, em maio, nem nulo a gente podia votar… me lembrei dos tempos das “eleições” indiretas que haviam pra presidente no Regime Militar, que eram pró-forma…

    vamos torcer para que haja uma reviravolta – topo até o samba do Noca – mas tá difícil.

    grande abraço e sejam bem vindos

  4. em tempo, o samba “vencedor” tem um refrão que é plágio de um outro, da escola paulista Império da Casa Verde. Fui alertado para isto depois que escrevi este post.

  5. E NEM SEMPRE VENCE O MELHOR ME DA ATE A IMPRESSAO DE QUE AONDE A GENTE VA TEM SEMPRE UM PEDASINHO DE BRASILIA. SO APRENDI A GOSTAR DA PORTELA, PORQUE SOU FA DO DIOGO NOGUEIRA,,FUI PESQUISAR A ESTORIA DA ESCOLA E GOSTEI MUITO, HOJE SOU PORTELENSE, VAMOS TORCER PARA QUE REALMENTE VENSA O MELHOR E NAO QUEM TEM UM QI(QUEM INDICOU)

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