Finalizando a série de artigos sobre os resultados das eleições – pelo menos por enquanto – algumas notas sobre a composição da bancada carioca na Câmara de Deputados e a nova Assembléia Legislativa.

Na bancada eleita de deputados federais, salta aos olhos a votação estrondosa do ex-Governador Anthony Garotinho. Mesmo amparado em uma liminar da Justiça – ele teve os direitos políticos cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral – foi o deputado federal mais votado com quase 700 mil votos, elegendo além dele mais uma bancada de oito deputados para seu partido, o PR.

Esperava uma boa votação para o ex-governador. Apesar das denúncias recorrentes de corrupção e do desastroso mandato de sua esposa no Palácio Guanabara, o “recall” de ter ocupado o cargo somado ao fato de ter um eleitorado menos escolarizado e mais “curralizado” dariam a ele um sufrágio expressivo. Mas 694 mil votos significaram aproximadamente 70% da votação do candidato de seu partido ao governo do estado, Peregrino.

Com esta votação Garotinho distorceu completamente o quociente eleitoral, que é a quantidade de votos que cada partido deve conquistar para obter uma cadeira na Câmara. O número de votos para se conquistar uma cadeira foi de cerca de 174 mil votos – um pouco abaixo da previsão de Chico Alencar publicada aqui na última sexta feira, de 185 mil.

Chico Alencar que, aliás, foi um dos grandes vitoriosos destas eleições. Segundo mais votado, com 240 mil sufrágios, além de Garotinho foi o único a se eleger sem depender dos votos partidários. Ainda trouxe na “carona” o militante da causa homossexual e ex-BBB Jean Willys, menos votado entre todos os eleitos – apenas treze mil sufrágios.

O deputado do PSOL fez uma campanha de idéias, sem grandes recursos, e alcançou uma vitória merecida.

O PMDB também fez oito deputados, mas é uma lista de eleitos, no mínimo, polêmica. Entre eles estão o filho do já citado Jorge Picciani (como terceiro mais votado!), o ex-prefeito de Caxias Washington Reis, o polêmico Eduardo Cunha, Alexandre Santos, Pedro Paulo, Rodrigo Bethlem e o ex-prefeito de São Gonçalo Edson Ezequiel. É…

Merece destaque, embora não me tenha surpreendido, a baixa votação da ex-senadora e ex-governadora Benedita da Silva. Seus pouco mais de 70 mil votos foram suficientes para lhe dar uma cadeira, mas são opacos dado o seu peso na política carioca e sinal de decadência política. O PT também elegeu o bom Alessandro Molón, o ex-prefeito de Angra dos Reis Luiz Sérgio, Edson Santos e Jorge Bittar – outro cujo apelo eleitoral não é nem sombra do passado.

Também destaque-se a grande votação do ex-jogador Romário pelo PSB e a eleição de alguns nomes que, particularmente, deploro: Julio Lopes, Arolde de Oliveira, Rodrigo Maia e Simão Sessim.

Entre os não-eleitos, lamento imensamente a não-reeleição de Brizola Neto, meu candidato. Obteve 56 mil votos e foi prejudicado pela distorção do quociente eleitoral feita por Garottinho, por um lado, e pelo PDT ter concorrido sozinho, sem coligações. Uma pena, pois obteve excelente desempenho em seu último mandato, prova de que o eleitor, tal qual Tiririca, não sabe o que faz um deputado entre uma eleição e outra.

O Rio de Janeiro irá contribuir de forma expressiva para a formação da base parlamentar de um eventual governo Dilma Roussef: foram aproximadamente 30 deputados da coligação encabeçada pela candidata a presidente.

Vale lembrar que, em caso de condenação definitiva de Garotinho, seus votos são anulados, o PR perde quatro cadeiras na Câmara e o quociente eleitoral cai para cerca de 157 mil votos. As vagas seriam ocupadas, segundo o jornal O Globo, pelo já citado Brizola Neto, pelo ex-prefeito de Nova Iguaçú Nelson Bornier (que elegeu o filho),  o ex-jogador Deley e pelo chefe de inteligência (araponga) de José Serra Marcelo Itagiba.

Aqui você pode ver a lista de eleitos.

Assembléia Legislativa

Olhando de relance, podemos ver de cara dois fenômenos: a diminuição da bancada evangélica, embora ainda expressiva, e um menor número de eleitos envolvidos em crimes dos mais diversos.

O trabalho feito pelo deputado Marcelo Freixo (foto) na CPI das Milícias se refletiu nesta nova composição, a meu ver. Como prêmio pelo bom trabalho, o deputado do PSOL se reelegeu como segundo mais votado, com mais de 177 mil votos – inclusive o meu – ainda que tenha feito campanha cercado de seguranças. Para Freixo, a reeleição era literalmente uma questão de vida ou morte haja visto as diversas ameaças diárias que vem recebendo de setores ligados às famigeradas milícias.

Freixo ainda elegeu Janira Rocha, com apenas pouco mais de seis mil votos – a deputada menos votada. Com isso, o PSOL obteve no estado seu melhor desempenho, com dois federais e dois estaduais.

O quociente eleitoral, de 118 mil votos, acabou distorcido pelo campeão de votos, o jornalista e político Wagner Montes. Para quem não está ligando o nome à pessoa, são dele os bordões “escraaaaaacha” e “um abraço pro gaiteiro”, utilizados em seu programa na Rede Record.

Montes se reelegeu com 529 mil votos, cacifando-se à disputa da prefeitura em 2010, e ajudando o PDT a ter a segunda bancada, com onze parlamentares. Entres estes o ex-jogador Bebeto e a atriz Myriam Rios.

Empurrado pelas boas votações de Clarissa Garotinho – a (bela) filha do ex-governador – e de Samuel Malafaia, irmão de importante líder evangélico, o PR fez nove deputados, que devem compor uma bancada de 30 deputados de oposição a Sérgio Cabral. Conhecendo o “modus operandi” da casa, diria que não será um grande problema para o governador…

A lamentar as reeleições de políticos como Paulo Melo, Domingos Brazão, Chiquinho da Mangueira, Altineu Cortes, Graça Pereira e outros, alvos de diversas denúncias e praticantes do mais deslavado fisiologismo. Além de Marcos Abrahão e Geraldo Moreira, que enfrentam processos por homicídio. Jorge Picciani deixa a casa, mas seu filho ocupará seu lugar.

A se ressaltar a quase extinção do DEM, que elegeu apenas dois deputados federais e um estadual. E se entende a indicação de Índio da Costa para vice de Serra: sem isto, provavelmente o filho do ex-prefeito não conseguiria sua reeleição.

Quanto ao PT, chamou a atenção não ter nenhum eleito entre os dez mais votados. Sua melhor votação foi para o ex-Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, apenas o décimo primeiro mais votado. Sua bancada será de seis deputados.

Aqui o leitor pode ver os eleitos.

E voltamos à programação (quase) normal…