Lutar sem saber o sentido
Esforço sem sombra incrível
Dever, o inimigo temido
Crueza implacável forma
Estreita latitude do agir
Ao sentimento a exigência informa
Não se pode deveras sentir.
Não adianta o sonhado sonho
Fonte insofismável de ilusão
No freezer o pensamento ponho
Assim não ocorre decepção
Proibido é viver alegre
Proibido é viver prazeiroso
Tarefa à sociedade integre
Cercear o sentido amoroso.
Às vezes, se sonha sem poder sonhar
Pego distraído o sonho se prende
Pune-se com chibatadas até a vida matar
Autômato passar dos dias se pretende
Carapaça fria é sua missão
Quinto plano a vontade está
Carcereiros implacáveis de tênue ilusão
Luta inglória o tempo contará.
Dias, meses, anos, décadas
Angústia deserto de emoções
Desfolhadas secas permanecem as pétalas
Humores maus expôem revelações
Areia alma internaliza tristeza
Sonhar, viver, prazer não existe
Nulidade obrigação única certeza
Escondido em cárcere coração triste.
Poesia é banho de sol semanal
Liberdade momentânea para não enlouquecer
Fugaz raio de luz matinal
Indispensável mínimo não perecer.
Poesia é fuga antecedente à captura
Cela solitária resultante punição
Alma encarcerada, permanente tortura
Debate-se sem despertar compaixão.
Sonhar não é preciso
Viver não é preciso
Resumo é frio autômato executar
Cumprir dever mais importante que amar.
Liberdade, clamor de liberdade !
Liberdade, ainda que tardia !
Declaro livre a alma da agonia
Sonhar sinto imensa saudade…”