O gráfico acima é uma média mensal da taxa de câmbio desde dezembro do ano passado, disponibilizado por uma corretora. Por ela percebe-se aquele que é o principal problema da economia brasileira, a apreciação excessiva do câmbio.
Em texto escrito ano passado quando do aumento do IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras) sobre a entrada de capitais externos, eu mencionei algumas das consequências do fato de se manter o real excessivamente forte. Vamos retomar o tema.
Eleitoralmente esta apreciação se refletiu na expressiva votação do candidato de oposição em estados onde o agronegócio é importante na economia regional. Com a nossa moeda valorizada os monocultores destas regiões obtém menos reais por produto vendido no exterior em dólares, o que diminui a rentabilidade e a competitividade. Com uma moeda mais forte o preço em dólares sobe, em última instãncia, e mercados que normalmente seriam clientes acabam não o sendo devido à questão do preço.
Vale lembrar que em monoculturas de exportação não há valor agregado, ou seja, o produto vendido tem como diferenciação entre os concorrentes tão somente o preço em moeda internacional. Com a moeda valorizada, diminui-se a competitividade e consequentemente as vendas.
Embora em menor grau, tal fenômeno também se verifica na indústria brasileira. Entretanto as queixas do setor industrial são bem menores, pois junto à apreciação do real houve um movimento de formação de mercado interno de massa – o que era exportado passou a ser vendido no mercado interno.
Entretanto, é um problema da economia brasileira e que precisa ser combatido. Em última instância, pode causar desindustrialização e desequilíbrio do balanço de pagamentos devido à queda das exportações e aumento das importações.
Sem dúvida alguma o governo vem adiando o ajuste desta variável, e explico o porquê. São dois fatores.
O primeiro fator é o controle inflacionário. Com o câmbio mais forte os produtos importados se tornam mais baratos, e se tornam instrumentos de controle para impedir a subida especulativa de preços e conter pressões inflacionárias de demanda. Por outro lado a equipe econômica do governo vem se utilizando de alíquotas de importação a fim de não tornar a concorrência desleal às empresas brasileiras.
Este primeiro fator é razoavelmente trivial de contornar, bastando-se utilizar de instrumentos de política industrial – como as já citadas alíquotas e incentivos fiscais.
O segundo fator é mais complexo. Chama-se taxa de juros real.
Como já escrevi em algumas oportunidades, o Banco Central brasileiro age quase que com total independência, e muitas vezes atendendo mais a interesses do mercado financeiro – que será o patrão dos diretores da autoridade monetária quando deixarem a instituição – que às necessidades de política monetária e fiscal.
Como o Brasil, hoje, tem a taxa de juros real mais alta do mundo, há o afluxo de capitais externos a fim de aproveitar a diferença entre a remuneração brasileira e a externa dos papéis do Tesouro. Com isso há a entrada de dólares e, pela Lei da Oferta e da Demanda, seu preço cai – valorizando a moeda brasileira.
O IOF foi novamente dobrado recentemente, para 4%, mas somente uma redução consistente desta taxa de juros irá diminuir a atratividade dos papéis de curto prazo brasileiros e, então, diminuir a entrada de dólares.
Obviamente, isto tem algumas implicações, sendo a mais importante afetar a taxa que remunera as cadernetas de poupança – fonte de fundos para o crédito imobiliário. Talvez a mudança do cálculo possa minorar a perda e permitir a queda das taxas reais – é uma possibilidade.
De qualquer forma, a atual taxa é insustentável e não encontra razões objetivas para sua manutenção, a não ser remunerar os agentes do mercado financeiro. A questão política é fazer com que o Bacen volte a atuar como um elemento de política econômica e monetária integrado ao restante da macroeconomia nacional. É um caso clássico onde interesses privados estão se sobrepondo ao interesse público.
Aliás, por isso que sou contra a independência do Bacen, e esta é uma das questões que a Presidente eleita terá de enfrentar.
Finalizando, a possibilidade de um choque cambial tal e qual o ocorrido após as eleições de 1998 não existe, pois o modelo utilizado hoje é o de taxas flutuantes – o que permite um ajuste gradual. Mas a chegada a uma taxa de equilíbrio – algo em torno de R$ 2,10 por US$ – depende, fundamentalmente, da redução das taxas de juros reais a fim de diminuir a vantagem oferecida a investidores externos – até porque as taxas internacionais andam bem mais baixas.
Voltarei ao tema.
Algum comentário sobre as “tenebrosas transações” com o Banco PanAmericano do Sílvio Santos? Ou você vai dizer que, igual ao Banco Marka, havia “risco sistêmico”? Detalhe que foi o SBT (do Sílvio, oieeeee!) que ajudou a desmontar a história da bolinha de papel e (principalmente esta última questão) mudou as regras de um debate no Nordeste por que Dilma iria faltar a ele.
Graças a você e ao Chico Buarque, este tipo de esquema hediondo não vai passar… Vai continuar por mais 4 ou 8 anos.
É isso que a população mais pobre não tem conhecimento o suficiente para entender e você tem, mas você escolheu defender seu emprego.
Depois, não venha dizer: “Dilma sim, pois não penso só em mim”. Porque isso é uma hipocrisia que você tanto critica aqui. Seja humano e reconheça seus defeitos e sua necessidade inconsciente de se proteger.
Dilma não, porque eu penso na nação! Cada erro dos governos deve ser criticado. E esta é uma transação, no mínimo, estranha, dados os fatos que ocorreram…
Bruno, eu passei fora do Rio segunda e ontem, e hoje levei quatro horas (!) pra conseguir chegar aqui. To meio fora do ar ainda.
Pelo que vi de relance e pelo que aprendi em seis anos de rating bancário, me parece a princípio alguma fraude interna causada por uma governança interna frouxa. Mas preciso buscar maiores informações.
abs
No tocante à taxa de juros, temos que lembrar também que ela tem impacto na dívida pública. O que você pensa a respeito?
Seja bem vindo, Marco
É um bom tema para um post futuro, mas te digo de forma rasteira que a queda da taxa tem condição de reduzir tanto o estoque quanto o serviçõ da dívida pública.
abs