Assim como nossa primeira entrevistada, embora o conheça pessoalmente (da noite de autógrafos) o diálogo se estreitou através de comentários sobre o pré-sal via Twitter. Discordando em alguns pontos, concordando em outros, estabelecemos um diálogo bastante proveitoso.
Gustavo Poli é o entrevistado de hoje da coluna “Jogo Misto”.
1 – O que é ter uma profissão que mexe com o lado mais passional e apaixonado do ser humano? E por que os jornalistas esportivos, em média, não admitem que tem um time do coração ?
GP – A profissão é muito bacana – mas também muito desgastante. Ser jornalista esportivo é não ter fim-de-semana certo de folga quase nunca – e tem um lado de “trabalhar onde os outros se divertem” também, a tal metáfora do ginecologista. As pessoas muitas vezes só enxergam o lado bom.
Sobre assumir time – alguns admitem, outros deixam nas entrelinhas… mas a maior parte oculta. O problema é que o torcedor – e o consumidor de esportes médio brasileiro em geral – não é equilibrado. Ele vê as coisas pelo prisma que interessa – o do clube dele. E ponto. Não sabe separar o pessoal do profissional. Por isso, o receio – justificado – de boa parte da imprensa.
2 – O advento das novas mídias alterou os padrões de comportamento dos profissionais da área e a “busca pela notícia”? Em que consiste transformar a paixão do torcedor em um produto racional como é o noticiário esportivo ?
GP – Esporte é jornalismo – mas também é entretenimento. O torcedor quer notícias do time dele o tempo todo – em qualquer lugar – e em maior quantidade possível. Ele quer mais notícia do que existe, na verdade. Com as novas mídias, a oferta de conteúdo aumentou sobremaneira, mas não o suficiente para saciar esse apetite, que é potencialmente infinito. O que tentamos fazer é entender o cliente – e aumentar a oferta dentro do possível.
3 – De que forma funciona a interação com o torcedor de esportes, que, em última instância, é o seu cliente ?
GP – Queremos oferecer o melhor casamento entre conteúdo (informação), serviço e entretenimento.
4 – O que você pensa a respeito da literatura disponível sobre esportes?
GP – No Brasil é muito escassa – e não temos uma cultura de ‘sports writing’ como no exterior. Afora a genialidade de Nelson Rodrigues – que elevou a crônica esportiva a outro planeta – e momentos de outros como Mário Filho, Armando Nogueira, Luiz Fernando Veríssimo… não temos a tradição do texto esportivo como em outros países. O jornalismo esportivo durante muito tempo ficou no escanteio da redação.
5 – Um livro inesquecível. Por quê ?
GP – The Waste Land, T.S. Eliot, pelo queixo que até hoje segue caído.
6 – Uma canção inesquecível. Por quê ?
GP – A nona sinfonia de Beethoven – algo que prova que não somos finitos.
GP – Posso ficar no muro? Gosto dos dois.
Muito boa essa a coluna “Jogo Misto” com as 2 entrevistas que tiveram. Só acho que na medida do possível as entrevistas deveriam ser maiores. Mas o blog continua de parabéns, virei leitor assíduo por aqui.