Nesta quarta feira, véspera do feriado municipal do Padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro, temos mais uma edição da coluna “História e Outros Assuntos”, do historiador fabrício Gomes. O tema de hoje é uma (breve) análise do projeto das UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora, principal política de segurança pública do governo atual.

Como já expressei outras vezes, tenho algumas restrições ao projeto das UPPs: penso que ele não ataca as causas da violência e possui permissividade demais a dois problemas sérios: a corrupção policial e a seríssima questão das milícias – que em certos casos foi até incentivada pelo projeto.

Aproveito para lembrar aos leitores que amanhã não é o aniversário da cidade do Rio de Janeiro: 20 de Janeiro é o dia de São Sebastião, padroeiro da cidade. A data de fundação da cidade carioca, na verdade, é dia primeiro de março. São Sebastião também é padroeiro de escolas de samba e da bateria da Portela.

Vamos ao texto.

O (re)descobrimento, a independência e a proclamação da liberdade de um povo. Um Rio de Paz em Estado de Graça: o despertar de um novo tempo

Há muito tempo a cidade de Rio de Janeiro vem sendo chamada de cidade partida. Era praticamente impossível transitar livremente por suas diversas regiões sem antes consultar o mapa para saber se determinada área era zona de risco. “Favela”: palavra emblemática, marginal, que marginaliza e se coloca à margem do processo de evolução e desenvolvimento de uma cidade

Durante décadas esquecida e abandonada por sucessivas administrações, transformou-se em feudo – e porque não “capitania hereditária” – de donatários nada amigáveis. Traficantes que levavam dor e terror a moradores oprimidos, escravizados no direito a opinar e a sonhar.

O projeto das Unidades de Polícia Pacificadoras não se restringe apenas com a pacificação das distintas regiões de nossa cidade. É projeto mais amplo, que confunde-se com a nossa própria história: o (re)descobrimento de territórios fossilizados, que pararam no tempo que não parou. A independência de um povo oprimido pela lei do mais forte, onde alguns poucos intimidavam os dignos muitos. A proclamação da liberdade de um povo que permanecia inerte, mesmo consciente que o medo seria abolido.

Um dos grandes desafios que se anuncia é justamente conquistar a confiança do povo que mora nas favelas, das comunidades carentes. Um trabalho que não é responsabilidade apenas do governo, mas também da sociedade. 

Um dos exemplos de ação para isso, se estabelece na criação de oficinas profissionalizantes e culturais (arte, leituras, música, educação), permitindo àqueles que foram durante tanto tempo cerceados, de poderem conviver numa sociedade mais justa, fraterna e igual, com informação, profissão, diversão e dedicação a tudo isso.

Outro desafio é adquirir a adesão da sociedade civil como um todo, chamando esta a integrar esse processo que as UPPs se propõem. É vestir a camisa, dizer que “estamos juntos”, sendo a sociedade mais participativa e menos pragmática. É a sociedade não apenas assistir as ações, estando sempre preparada para criticar e colocar a culpa de tudo no governo. 

É entender que a sociedade compõe a mola propulsora, que irá democratizar todo o processo. Um exemplo de ação para isto, é o próprio processo seletivo da UPP Social, que convida a sociedade civil a ser não mais espectadora, mas agente de transformação. Um projeto que é ambicioso, desafiador – e recompensante – para aqueles que se propõem a isto.

(Este texto foi escrito pelo autor, como parte do processo seletivo para o projeto “UPP Social”, do Governo do Estado do Rio de Janeiro)

P.S. – O título da coluna foi retirado do malfadado desfile da Portela de 2010, uma “salada” que unia tecnologia, inclusão digital, UPPs e louvação ao governo estadual.