Após um bom tempo, temos nossa coluna “Resenha Literária” de volta. Explico a demora.
Estou atracado há pelo menos uns dois meses na leitura de “O Petróleo: Uma História mundial de conquistas, poder e dinheiro”, de Daniel Yergin, a história definitiva sobre o assunto. O problema é que o livro tem quase 1,1 mil páginas e, ainda por cima, eu tive um final de ano muito corrido, de forma que minha leitura caiu bastante de ritmo.
Para o leitor ter uma idéia, no momento em que escrevo este post – noite de terça – eu tinha lido exatas 289 páginas do exemplar. Somando-se alguns percalços no trabalho – eu não tinha a menor vontade de continuar no assunto quando chegava em casa – surgiu a oportunidade de ler este “500 Cervejas”.
Dica do blog “Atelier de Cervejas” – cujo link o leitor pode encontrar aqui mesmo, à direita – e do qual retirei as fotos que ilustram esta resenha, é uma leitura rápida, fácil e que se consiste em uma boa introdução no mundo da cerveja.
O mote do livro é simples: elencar as “500 Melhores Cervejas do Mundo”. De autoria do especialista inglês Zak Avery, é um passeio por 500 exemplares, traduzindo tipos, sabores, teores de álcool, malte e lúpulos, além de harmonizar com os diferentes tipos de refeições. Entretanto, tem um problema: é focado demais no binômio Europa Central e Estados Unidos.
A América Latina tem apenas três exemplares na lista, uma cerveja mexicana, uma peruana e outra chilena. Contudo, há exemplares da Eisenbahn e da Colorado que podem perfeitamente estar na relação, sendo superiores, até, a cervejas européias que estão lá e que já experimentei – no caso das cervejas de trigo isto é muito claro.
Avery inicia descrevendo as matérias primas para a cerveja, seus métodos de produção e as diferenças. Explica que hoje a água não é tão importante para a qualidade da bebida e que pode ter suas propriedades “corrigidas” de forma a atender à necessidade de produção desta ou daquela qualidade. O curioso é que na linguagem dos mestres cervejeiros a água usada na fabricação é chamada de “licor”.
A cevada, principal matéria prima, tem sua transformação em malte cuidadosamente descrita em um dos capítulos. Os grãos são postos a germinar a fim de liberar amidos e açúcares fermentáveis; em determinado momento está é interrompida e o agora chamado malte é colocado no forno e tostado. Este ponto de torrefação é um dos determinantes do tipo da cerveja e sua cor. Ainda temos maltes defumados, que geram as chamadas “Rauchbiers” – no Brasil a Eisenbahn tem um excelente exemplar deste estilo.
Também é descrito o papel do lúpulo, planta herbácea da família “humulus lupulus” e que pode determinar tanto o sabor de uma cerveja – o “amargor” – quanto o aroma. Tal diferença é determinada no momento de sua adição no processo de fermentação: adicionados no início, conferem amargor à bebida; mais tarde, apenas aromas.
Não podem faltar as leveduras, que fazem o trabalho de fermentação propriamente dito e transformam os açúcares do mosto (constituído de malte, água e lúpulo) em álcool, gás carbônico e ésteres – que compõem os aromas da bebida.
Aqui temos uma diferença importante.
Temos dois grandes grupos de cerveja, as “lager” – de consumo maciço no Brasil – e as “ale”. As duas são diferenciadas justamente pela levedura utilizada e a forma de fermentação.
A levedura do tipo “lager” faz o seu trabalho a temperaturas mais baixas, precipita-se no fundo do recipiente e leva mais tempo para fazer seu trabalho. Este processo mais lento de fermentação é chamado, em alemão, “lagering” – de onde vem o nome da cerveja.
Com isso temos cervejas mais leves, “limpas” e refrescantes. São as clássicas “louras geladas”.
Por outro lado, a levedura do tipo “ale” fermenta mais rapidamente, a temperaturas mais altas e no alto do recipiente. Isso gera sabores mais frutados e complexos.
Entretanto, se estas duas são as principais “famílias” da bebida, temos tipos como a “kolsch” – típica de Colônia, na Alemanha, feita com levedura do tipo ‘ale’ mas fermentada “a frio”. Aqui no Brasil a Eisenbahn, uma vez mais, possui um excelente exemplar deste tipo, difícil de achar aqui no Rio, mas que saboreio enquanto escrevo estas linhas.
Ou seja, o livro mostra que existem diversos pontos de torrefação do malte, diferentes lúpulos, diferentes cepas de leveduras e diferentes temperaturas. É um mundo altamente diversificado.
Após esta explicação básica, o livro percorre as “500 Cervejas” do título, separadas por tipo e tendo pelo menos cinco exemplares de cada um destes. Vindo de exemplares menos encorpados para os mais, o autor apresenta uma introdução sobre cada categoria e classifica os exemplares em “clara/escura”, “pouco ou mais encorpada”, percentual de álcool e descrição dos sabores presentes na degustação.
Esta última chega a ser curiosa, tal a variedade de sensações despertadas no autor. A tradução às vezes dá umas “escorregadas”, como escrever um mar de sensações e escrever “que é quase saborosa”. Também dá sugestão de pratos que harmonizam com as cervejas analisadas.
Não chega nem perto do “Larrousse da Cerveja”, que já resenhei, mas é uma boa introdução e bom panorama, em especial para aqueles que não são iniciados no assunto. É leitura rápída e prazeirosa.
Só achei o livro na Saraiva Online, a R$ 36. Foi lá que comprei, porque não vi à venda em livrarias físicas aqui no Rio de Janeiro.
Prosit!
P.S. – Das 500 cervejas descritas, devo ter algo de 40 no meu portfólio. Ou seja: muitas tulipas ainda me esperam…