Como evitar a indústria de notícias de celebridades
Acredito que haja um limite do que deva ser noticiado em se tratando das personalidades do esporte.
O problema é que nossa sociedade virou uma sociedade de espetáculos com ‘celebridades-relâmpago’ e a vida pessoal dos atletas acaba por despertar em excesso a curiosidade das pessoas. A impressão que se tem é que vivemos num constante ‘Big Brother’ e as pessoas perdem um pouco a noção.
Se o jogador de futebol está de folga, o que ele faz com a sua vida não deveria ser notícia. Eu não fumo e sou contra o tabagismo, mas não aprovei a divulgação de fotos de Ronaldo Fenômeno fumando na varanda de sua casa. Ainda mais agora que ele é ex-jogador profissional, ex-craque, jamais será. Penso que o que deve ser noticiado seja algo relacionado ao desempenho profissional do atleta ou algo que desabone sua conduta enquanto desempenha sua função, visto que ele é exemplo para diversas pessoas.
Por outro lado, os atletas, principalmente os jogadores de futebol, devem ser assessorados ao utilizar o twitter (o microblog com 140 caracteres) e principalmente a twitcam, porque tudo que escrevem ou falam ali repercutem demais não só na twittosfera, mas na mídia, em geral. Recentemente, os jogadores do Santos como Zé Love, Rafael e Madson se envolveram num imbroglio desses.
O bombardeio de informações acaba por encher a paciência das pessoas e produzindo o chamado ‘jornalismo marrom’ porque a informação, que é uma jóia preciosa, acaba virando mero instrumento de fofoca, roubando espaço do jornal para algo que pudesse ser mais produtivo e desvalorizando a informação. O jornal não foi feito para produzir informação somente pra vender e sim para estimular o senso crítico nos leitores a fim de que consolidem a sua opinião [N.doE.: pelo menos deveria ser assim].
A notícia deve ser veiculada se for de extrema relevância assim como a entrevista que não pode explorar, de forma alguma, o sensacionalismo. Por isso há critérios de noticiabilidade que influenciam na qualidade da notícia, que são os seguintes: novidade, proximidade, tamanho e relevância.
Um outro dado importante é ouvir as pessoas, acessar blogs, redes sociais para se observar o assunto do momento, desde que se respeite as pessoas, a sua privacidade se o assunto em questão for desmoralizar demais a pessoa. A mesma coisa pensamos em relação à revelação da fonte, se ela nos autoriza, se não, ocultar seu nome, ou simplesmente colocar o fato em off e explicitar isso. É um senso de ética jornalística.
Um fato que incomoda a nós jornalistas e aos leitores também é a chamada ‘barriga’. Na ânsia de se dar o furo primeiro, o jornalista não apura, nem checa as informações direito e acaba por publicar, muitas vezes, uma notícia que pode ser falsa ou enganosa. A ‘barriga’ é o maior mico que um jornalista pode pagar e reconhecer o seu erro ao constatar isso deve ser um tópico número 1 de qualquer manual que se preze.
Com a velocidade da internet e com a pressão que os jornalistas sofrem para produzir um furo é importante que se tenha bom senso e correção ao se publicar algo a fim de que não se queime ninguém, nem destrua uma pessoa com uma onda de boato infundado ou se perca uma fonte – que é uma relação de confiança fundamental entre o jornalista e aquele que revela algo importante a ser publicado. Precisamos apagar a imagem de que o jornalista movido por sua curiosidade seja tachado de fofoqueiro ou também fique com a pecha de que ele distorce as palavras de entrevistados.
O Jornalismo é uma carreira fascinante e tem sua extrema importância porque mexe com a liberdade de expressão e democratização da informação. É preciso ter discernimento para discutir com o editor o que publicar e o que não publicar.
O trabalho de captar os assuntos a serem abordados é tão importante quanto o de produzir as notícias e é aí que está centrada a figura do ‘gatekeeper’ ou aquele editor que filtra as informações e as notícias. É preciso ter responsabilidade ao escrever as matérias e publicá-las. Mas que o bombardeio de fofocas na mídia desagrada a todos, não só ao meu editor, Pedro Migão, é a mais pura verdade e profunda constatação.
Até a próxima!
Anna Barros”