Sem dúvida alguma, a notícia política da semana passada foi a entrevista dada pelo ex-governador de Brasília José Roberto Arruda à (argh) Revista Veja, onde ele assume que recorreu a empresários amigos para ajudar no financiamento de campanhas eleitorais de políticos do DEM, do PSDB e até do PDT.
Cassado por corrupção – em meados de 2009 cheguei a escrever algumas vezes aqui sobre este assunto – o ex-governador queixou-se na entrevista de ter sido abandonado por políticos que ajudou.
Ele deixa claro que pediu ajuda a empresários, repassava ao partido, mas não sabia se eram contabilizados oficialmente ou se acabavam no chamado “Caixa Dois”. Pela reação dos envolvidos na entrevista, não me parece que tenham sido contabilizados “no oficial”; até porque em vários dos casos citados a reação dos políticos em questão leva a crer que estes não desejam ser associados a tal fato.
Arruda explica que, como era o único governador do DEM, achava natural que recebesse este pedido de ajuda por parte dos políticos de seu partido. Ele cita nominalmente como beneficiários o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, seu filho Rodrigo, o deputado ACM Neto e os senadores Demóstenes Maia e José Agripino. No PSDB o ex-senador Sérgio Guerra também sempre pedia ajuda ao partido.
Sem entrar no mérito aqui sobre os políticos envolvidos – embora não me surpreenda ver que políticos que a imprensa oposicionista tratava como vestais apareçam enrolados no caso, em especial os políticos cariocas – a confirmação de tal fato deixa claro que precisa haver mudanças no modelo de financiamento das campanhas.
Um dos pontos que constam em um eventual projeto de reforma política é o financiamento público de campanhas. Uma determinada verba pública é separada e destinada aos partidos e candidatos realizarem suas campanhas eleitorais, ficando vedada a utilização de recursos provenientes de pessoas físicas ou jurídicas.
Os opositores de tal proposta alegam que é um despropósito utilizar dinheiro de impostos para financiar campanhas. Entretanto, na prática é isso que ocorre hoje, pois como escrevi ano passado na prática os maiores doadores acabam sendo aquelas empresas que possuem mais negócios com as diferentes esferas de governo – ou seja, o preço acaba sendo maior para acomodar os valores investidos nas campanhas.
É um típico caso onde vale mais a pena se pagar diretamente os custos que indiretamente, na forma de bens e serviços providos ao Estado de pior qualidade e mais caros.
Outro ponto que deve ser observado é o fato de que a entrevista foi dada em setembro, antes das eleições. Entretanto, a (argh) Revista Veja simplesmente não publicou, empenhada que estava na eleição do candidato apoiado pelo DEM José Serra. É algo grave e que faz pensar até quando uma lei que regulamente e separe notícia de opinião ou de campanha política é necessária.
Caso de omissão grave e que precisa ter algum tipo de consequência para a editora que publica a revista, hoje claramente em uma linha descendente – virou um panfleto fascistóide, na acepção mais estrita do termo.
Finalizando, não posso deixar de registrar a hipocrisia de certos políticos que posavam de vestais, chamavam Arruda de “político promissor” e hoje fogem dele como se ele fosse portador de alguma doença contagiosa. Lamentável.