De leitor nos primórdios, ainda no jornal O Globo, me transformei em um amigo com quem troco impressões e vivências. Lédio Carmona é o entrevistado de hoje da coluna “Jogo Misto”.
1 – O que é ter uma profissão que mexe com o lado mais passional e apaixonado do ser humano? E por que os jornalistas esportivos, em média, não admitem que tem um time do coração ?
LC – É trabalhar sempre no olho do furacão. Paixão, pouca razão, muita emoção e zero de serenidade a cada momento. Somos orientados a não revelar nosso time de coração por uma questao de segurança. Tem torcedor que não está pronto para receber essa informação.
2 – Qual a diferença em escrever para o blog, para a coluna do jornal Extra – que tem um perfil mais popular – e os comentários para a televisão? As linguagens são muito diferentes?
LC – Cada veículo uma forma de linguagem. Mas é um exercício interessante. No blog é mais fácil. Cabe tudo. No Extra é preciso olhar para o perfil do jornal, mas sem ficar distante do MEU perfil. E a tv é a arte de falar pouco, informar muito em segundos. Sem esquecer da imagem.
3 – O advento das novas mídias alterou os padrões de comportamento dos profissionais da área e a “busca pela notícia”? Em que consiste o trabalho de um comentarista ao “traduzir” o que se vê no esporte para uma linguagem racional?
LC – Acho que a grande revolução da midia social para o jornalista é que ganhamos um feedback instantâneo para tudo que fazemos. A ferramenta vira um termômetro do nosso trabalho. Ao mesmo tempo temos que conviver com um julgamento diário. E impiedoso.
4 – De que forma funciona a interação com o torcedor de esportes, que, em última instância, é o seu cliente ?
LC – É uma química interessante. O único problema é que o torcedor normalmente é impaciente. Ele faz a pergunta e quer a resposta “on time”. As vezes é impossível.
5 – Por que o mundo do futebol é um meio tão sem ética?
LC – Porque quem comanda, com as exceções de sempre, confunde política com esporte. Alem disso, não tem com os clubes o mesmo cuidado que mostram à frente de suas empresas. E, por fim, usam a muleta de que são torcedores para justificar seus desmandos,
6 – Como funciona uma transmissão “off tube”? No estádio presta-se mais atenção ao monitor ou ao campo?
LC – A grande diferença é que no estádio você tem a visão do monitor e de todo cenário à frente. No monitor, sua visão se limita a 14 ou 16 polegadas. Esquema tático “WM” off tube é quase uma miragem.
7 – Por que você não gosta de carnaval?
8 – O que você pensa a respeito da literatura disponível sobre esportes?
LC – Estamos evoluindo muito. Semanalmente saem novos livros sobre o tema. Não chegamos perto dos espanhóis e ingleses, mas estamos próximos de outros países como Portugal e Itália. Há muitas bobagens nas prateleiras, mas a balança ainda é favorável aos bons lançamentos.
9 – Um livro inesquecível. Por quê ?
LC – ‘Almanaque do Futebol’. Porque sempre quis fazer algo parecido. E finalmente consegui. Mas ainda há muita coisa a ser aprimorada.
10 – Um jogo inesquecível. Por quê?
LC – América 4 x 1 Vasco, Taça Guanabara de 1974. Foi a primeira vez que meu pai me levou a um estádio. Foi minha primeira vez. Marcante.
11 – Uma canção inesquecível. Por quê ?
LC – Andrea Doria, da Legião Urbana. A letra é livre e marcou minha juventude. [N.doE.: será a nossa música do final de semana de hoje]
12- Livro ou filme ? Por quê?
LC – Já foi filme. Hoje é livro. Me faz pensar mais.
13 – Finalizando, com os agradecimentos do Ouro de Tolo, algumas poucas palavras sobre o blog ou seu autor/editor
LC – Pedro Migão, mais conhecido como ‘Conspirinha’ [N.doE.: brincadeira referente à minha disposição de sempre tentar enxergar além do senso comum], é inquieto, ousado e tem alma de jornalista. O blog, muito bom, traça bem esse perfil.
Sou fã do Carmona. Saca muito e tem maior jeito de ser gente fina. Parabéns, Migão!