Obama deverá fazer uma espécie de “declaração sobre temas da humanidade” (em inglês, Major International Speak), ou seja, enumerar uma série de declarações de cunho geral sobre temas da atualidade. Não deveremos esperar grandes novidades ou grandes anúncios neste pronunciamento ao grande público. Neste caso em especial, o gesto é mais simbólico que efetivamente prático.
O Brasil vem desenvolvendo uma política externa bastante independente nos últimos anos, em muitos pontos “descolada” e conflitante às posições norte-americanas. O país vem buscando estabelecer uma posição de contraponto às políticas da grande potência, buscando afirmar-se como um ator alternativo na mediação de conflitos internacional. Por outro lado, políticas como a do petróleo, onde se está defendendo o interesse nacional, vem causando profunda irritação nos meios diplomáticos ianques devido à preferência por empresas nacionais e à preferência de exploração por parte do pré-sal pela Petrobras – já escrevi isso aqui antes.
Sabe-se também, de acordo com documentos recentemente pelo site Wikileaks – e dos quais tratei de passagem no texto de ontem – que o candidato derrotado às eleições José Serra havia prometido alinhar incondicionalmente a política externa brasileira à norte americana, ainda que muitas vezes prejudicando o interesse nacional. Com a vitória da candidata Dilma Roussef, a diplomacia vem buscando formas de se aproximar do novo governo a fim de ter seus interesses mais atendidos.
Obama e Roussef irão assinar uma série de memorandos com acordos comerciais, de trabalho e de política externa. Entre eles um que deve flexibilizar a concessão de vistos de entrada nos Estados Unidos, outro sobre contabilização de tempo de trabalho e um terceiro sobre o trabalho conjunto para o desenvolvimento da África, além de acordos comerciais e outros visando cooperação no campo espacial.
Entretanto, parece-me que a visita é uma tentativa de reaproximar os dois países e tentar estabelecer entendimentos de forma a trazer novamente a política externa brasileira a algum grau de influência norte americana. O entendimento seria de que os estados Unidos estão tendo sua liderança, senão questionada, pelo menos diminuída pelos flancos abertos pela diplomacia brasileira. Também deve-se notar a diminuição do peso dos Estados Unidos na balança comercial brasileira, ou seja, as transações comerciais entre os dois países perderam peso relativo nas transações brasileiras.
O Brasil nos últimos anos tem diversificado seus parceiros comerciais e agindo de forma mais ativa no plano internacional. Dilma Roussef em seus primeiros dias de governo tem adotado uma posição mais conciliadora com os Estados Unidos, e dependendo do que for noticiado poderemos ter uma boa idéia se haverá inflexão significativa de nossa política externa. Não sou especialista na área mas acredito na manutenção da política atual, talvez com alguns gestos de boa vontade em relação aos EUA.
Lembro aos leitores que existem algumas disputas comerciais sérias envolvendo os dois países, entre elas a taxação ao etanol brasileiro e os subsídios ao algodão norte americano – este objeto de uma vitória histórica do Brasil na Organização Mundial do Comércio. Sem dúvida alguma há a necessidade de algum entendimento na área comercial.
Concluindo, esta visita de Barack Obama ao Brasil significa a importância dada ao país e a contrariedade norte americana à política relativamente independente desenvolvida nos últimos anos – notável diferença em relação ao período anterior, onde em um ato de suprema humilhação o chanceler brasileiro do Governo FHC Celso Lafer chegou a tirar os sapatos na imigração estadunidense.
Vamos aguardar os acontecimentos. Por meu turno, não poderei deixar de estar ausente nesta “palestra” na Cinelândia. Não me acrescentará nada.
(Fotomontagem: O Globo)
Ótimo comentário. Para quem se diz não ser do ramo fica parecendo excesso de modéstia. Acrescentaria só os apitos e espelhos que Obama traz na bagagem para seduzir os pobres brazucas.
Nada acrescentará o discurso de Obama no Municipal? Discordo. Tudo é informação. Não podemos descartar nada do que é dito – inclusive para depois discordar ou concordar.