Desvendando os segredos das queimaduras
Segundo o livro “Cirurgia Plástica – Fundamentos e Arte”, do cirurgião plástico paulista José Marcus Mélega, a queimadura pode ser definida como uma lesão dos tecidos orgânicos, com destruição do revestimento epitelial, a partir de um agente externo. A queimadura pode ser térmica, elétrica e química e pode ser de primeiro, segundo e terceiro graus.
A queimadura de primeiro grau é mais superficial e pode ser definida como aquela que tem uma vermelhidão ou eritema e geralmente é causada por sol. A de segundo atinge a derme profunda e é aquela que apresenta bolhas ou flictenas, causada por sol ou água quente, por exemplo. E a de terceiro, geralmente é a elétrica, mais profunda e atravessa toda a extensão da pele acometendo tecidos profundos como subcutâneo, músculos e ossos.
As maiores causas de queimaduras são aquelas provocadas por líquidos quentes como água, café, gordura quente, geralmente em casa e na cozinha; e em segundo lugar, aquelas por álcool incandescente. Em terceiro lugar, as queimaduras por fogo direto no corpo, que merecem tratamento intensivo em Centro de Queimados.
Infelizmente, as crianças são as mais acometidas pelas queimaduras, logo, todo cuidado é pouco. Minha irmã caçula se queimou aos dois anos com ferro quente quando driblou a secretária da minha mãe com sua esperteza e agilidade. Foi um momento muito doloroso para todos nós. Eu trocava o curativo dela todos os dias. Ela ficou com uma fibrose na mão, mas não perdeu os movimentos da mão e dos dedos, graças a Deus.
Isso posto, partiremos para o tratamento. Em primeira instância lavar a queimadura com água fria e corrente – com exceção daquela química por fenol que não é solúvel na água. Cobrir com gaze úmida ou molhada ou até panos molhados e ir ao hospital. Não colocar, em hipótese alguma pasta de dente, gema de ovo, folha de bananeira, café ou açúcar. Procurar imediatamente um médico, o cirurgião geral ou o cirurgião plástico, que irá avaliar o tipo de queimadura para aplicar o melhor medicamento. Geralmente este é composto de uma pomada antimicrobiana específica para queimadura, que será receitada por ele.
Há algumas lendas, como deixar a queimadura aberta para respirar. Isso é errado porque pode permitir que haja infecção bacteriana, com contaminação do ferimento. Uma outra lenda é estourar as bolhas. Jamais faça isso. Receba atendimento médico em que o profissional irá avaliar se há necessidade de debridar a bolha ou mantê-la para que ela se rompa sozinha. O curativo precisa ser trocado duas vezes por dia ou mais de acordo com a gravidade – e com instrução médica – e será coberto com gaze e com a pomada. É coberto para que haja maior penetração do medicamento.
Mas há maneiras de se prevenir a queimadura.
Jamais exagerar no álcool do churrasco e deixar que pessoas bem treinadas sejam os churrasqueiros oficiais. Manter álcool líquido fora do alcance das crianças. Hoje em dia, ele está quase em extinção, há mais tipos de álcool na forma de gel, principalmente depois do surto de gripe suína. Não pegar garrafa de água quente, fervendo e sacudir. Água a mais de 100º, em ebulição, queima e pode causar verdadeiros estragos.
Há que se tomar cuidado com bronzeadores caseiros. Principalmente aqueles à base de folha de figo ou coca-cola, que muitos usam como bronzeador (que respinga na mão e no corpo) e limão pois eles queimam na presença do sol e provocam manchas. Geralmente esses bronzeadores caseiros podem causar queimaduras extensas e graves.
Para aplacar a dor, evitar dar analgésicos até ir ao hospital até que o médico avalie. A princípio, a água corrente fria aplaca a dor da queimadura. O médico definirá, após todas as manobras, se vai haver necessidade de medicação e qual o grau da analgesia.
No hospital, o médico irá realizar os procedimentos apropriados ao tratamento de um politraumatizado: o ABCDE da vida.
B=breathing, com avaliação do drive respiratório do paciente;
C=circulation, que consiste em puncionar veias superficiais a princípio; nos grandes queimados com acesso difícil será realizada dissecção de veia para infusão hidroeletrolítica ou seja de ringer lactato ou soro fisológico devidamente calculada de acordo com a percentagem queimada através de uma regra;
D=disability que significa ‘disabilidade’, ou seja: avaliar o deficit neurológico, saber se o paciente está lúcido e orientado;
E=exposure que se dá pela exposição do paciente: despindo-no, retirando todos os objetos e as roupas que em determinadas queimaduras representam a manutenção do agente agressor. É nesse momento que a queimadura é melhor avaliada.
Bem, espero que as dúvidas tenham sido sanadas e que esse post tenha sido altamente esclarecedor. Contamos com a contribuição a respeito das dúvidas, via Facebook, da analista de sistemas e designer Renata Barros e da cirurgiã plástica Isabel Figueiredo.
A queimadura se não diagnosticada adequada e não tratada como deva ser pode trazer sequelas graves tanto físicas como psicológicas. O paciente queimado é muito especial e deve ser tratado com muito carinho, mas a prevenção é sempre o melhor remédio.
Até a próxima!
Anna Barros”