Quando escrevemos, Alberto Mussa e eu, nosso livro sobre sambas de enredo, partimos da constatação de que essa espécie de samba é talvez a mais impressionante e surpreendente de todas. Defendemos, basicamente, que o samba de enredo não é lírico – contrariando assim uma tendência universal da música popular urbana – , integra o maior complexo de exibições artísticas simultâneas do mundo moderno (o desfile das escolas de samba) e, não bastasse isso, é um gênero épico. Mais ainda: é o único gênero épico genuinamente brasileiro. Cito o Houaiss:
epopéia
1 Rubrica: literatura.
poema épico ou longa narrativa em prosa, em estilo oratório, que exalta as ações, os feitos memoráveis de um herói histórico ou lendário que representa uma coletividade
2 Derivação: por extensão de sentido.
sucessão de eventos extraordinários, ações gloriosas, retumbantes, capazes de provocar a admiração, a surpresa, a maravilha, a grandiosidade da epopéia
3 Derivação: sentido figurado.
aventura fabulosa
Os sambas de enredo constituem o corpo de uma grande epopéia brasileira. Digo mais: raros são os povos que têm um conjunto tão sofisticado de epopéias. Silas de Oliveira é o nosso Homero. Os Sertões, a obra monumental de Edeor de Paula para a Em Cima da Hora, é dos maiores cantos épicos que a humanidade produziu. O Império Serrano tem, para a história da civilização, importância no mínimo similar a de Atenas. Não se pode contar a história gloriosa da humanidade sem a Grécia, sem o Egito, sem a Babilônia, sem a Serrinha…
Senhores professores de literatura do ensino médio: Que tal, ao ensinar aos brasileirinhos o que é um gênero épico, falar de Homero, Virgílio, Camões, Silas, Jurandir, Didi, Aurinho, Anescar… Que tal, depois de trechos da Ilíada, da Eneida e de Os Lusíadas, botar os garotos para escutar Pernambuco, Leão do Norte , Batalha Naval do Riachuelo, Quilombo dos Palmares, Chico Rei, Ao povo em forma de arte, O saber poético da literatura de cordel…
Deixo com os amigos essa maravilhosa Exaltação a Villa Lobos, de Jurandir e Cláudio, epopéia apresentada pela Mangueira em 1966, para ilustrar brasileiramente o tema:
Abraços
Que beleza!
Saudade dos teus textos, verdadeiras aulas.
Abraço!
Professor Simas,
O sr. disse tudo em ”Os sambas de enredo constituem o corpo de uma grande epopéia brasileira”,mas vamos combinar que os sambas mais antigos,né? Os sambas de enredo atuais são horríveis,nos últimos 6 anos só dá para salvar uns 5 ou 6.
A comparação do grande Silas de Oliveira a Homero é sensacional e ele merece!Veio da Serrinha assim como outros tantos bambas que produziram sambas antológicos,como:Aquarela Brasileira,Heróis da Liberdade e o Bumbum Paticumbum Prugurundum.
Em tempo:Esse samba da Mangueira de 1966 é excelente e o do ano seguinte também(O mundo encantado de Monteiro Lobato).
Abs!
Mestre;
Ao ler esta exelente postagem me lembrei da música “VAI PASSAR” do Chico Buarque. Um “samba enredo de meio de ano”.
Grande abraço
Jairo
Simas, você considera lírico o samba-enredo da Mangueira desse ano sobre o Nelson Cavaquinho? Se sim, seria o primeiro e único? Abraços.