A partir de hoje temos uma nova coluna em nosso blog: a “Orun Ayé”, assinada pelo compositor e amigo Aloísio Villar – já entrevistado em nossa seção “Jogo Misto”.
O texto terá periodicidade semanal, podendo entrar às sextas, sábados ou domingos. Falará do dia a dia, coisas cotidianas, e sobre sambas de enredo na época das escolhas.
Em seu texto de estréia, Villar conta uma história do qual sou personagem (involuntário e trapalhão), mas que para ele é muito marcante. Seja bem vindo!

04 de Abril de 2005

Para quem não me conhece me chamo Aloisio Villar, sou compositor de samba-enredo, ganhei alguns sambinhas na minha vida e sou amigo do dono da “bagaça” aqui (risos). 
Por isso consegui esse espaço pra falar todas as semanas com vocês, aonde poderemos fazer um bate papo e mostrar um pouco mais de mim e da vida. Na época das disputas de samba-enredo vou mostrar como é o processo e falar um pouco sobre os sambas concorrentes, fora delas mostrar um pouco minha forma de pensar.
Uma das primeiras coisas que irão conhecer de mim é meu senso de humor. Consigo rir de tudo, principalmente de mim, acho que é uma boa característica minha no meio de tantos defeitos. 
 
Até em momentos ruins: depois que eles passam eu consigo tirar algo para rir e a história de apresentação que vou contar e vai mostrar um pouco da minha relação com o dono do blog mostra esse meu lado e nossa relação de amizade.

Segunda passada, dia 4 de abril, fez seis anos que minha mãe faleceu, a pessoa que mais amei na minha vida, minha maior companheira, confidente, pessoa mais fiel a mim que tive e que mais me amou. Sua doença durou cinco anos, internação um mês, era um final esperado mas que eu não queria aceitar.

Na manhã do dia 4 de abril de 2005 recebi um telefonema do Hospital Getúlio Vargas me pedindo pra ir lá com o RG da minha mãe, não entraram em detalhes, mas sabia que era algo sério. Peguei um táxi com minha ex namorada e tenso fui para o hospital.

 
No caminho recebi um telefonema do meu amigo Pedro Migão perguntando como eu estava, disse que nem eu sabia, porque tinha acabado de receber uma ligação do Getúlio Vargas  e estava preocupado indo para lá. Senti que ele deu uma engolida seca, disse que qualquer coisa falasse com ele e desligou.

A realidade é que temos um amigo em comum, dr.Walkir, que arrumou a internação para minha mãe no hospital. Ele já sabendo da notícia colocou numa lista de discussão via e-mail que fazemos parte, o Migão viu e me ligou pra dar os pêsames. Ele soube antes de mim que minha mãe tinha morrido e quase, como ele diz  até hoje “pagou um mico”, mas esse mico não foi pago. Até hoje ele se desculpa por essa situação e eu com o tempo passei a rir, foi a única lembrança engraçada daquele dia trágico, o dia que o Migão amenizou meu coração.

Depois desse dia todos os dias da minha vida usei pra homenagear minha mãe, todos os dias que acordo sei que tenho que ser bom e fazer coisas boas para ela onde estiver sempre se orgulhar de mim e pensar que valeu a pena me ter como filho.

 
Hoje tenho a minha filha também, se chama Ana Beatriz e sei que hoje minha mãe vive em mim e eu vivo na Bia, somos o espelho um do outro e esse espelho não vai se quebrar. Para minha mãe dediquei o Estandarte de Ouro que ganhei com meus parceiros em 2001 com o samba “Orun Aye” pelo Boi da Ilha, lembro dela na platéia chorando quando dediquei, a ela dediquei o prêmio S@mba-Net em 2009 já morta.
 
Os últimos versos do samba mais recente que fiz, pro Boi da Ilha 2011, “amor de mãe gera frutos no pomar/amor de mãe doce como guaraná”, a ela dedico essa coluna, a ela dedico minha vida.
Semana que vem tem mais, prazer em conhecer vocês. Orun Ayé!”