Neste final de semana, talvez a notícia que tenha mais me chamado a atenção foi a surra levada pelo Partido Socialista Espanhol nas eleições regionais realizadas em treze das dezessete regiões espanholas e em cerca de oito mil municípios. Os eleitores preferiram os candidatos do Partido Popular, de direita e que vai guinando a uma posição extremista neste espectro político.
É a única conclusão a que consigo chegar quando olho os números da economia espanhola: os eleitores preferiram sem intermediários quem defende as políticas excludentes. 
Zapatero, atual primeiro ministro, vem adotando políticas muito próximas de partidos de direita como resposta à crise econômica de 2008: desregulamentação ainda maior, corte de gastos públicos e de programas sociais, diminuição de impostos para as camadas mais altas e aumento para a população em geral,  aumento da taxa de juros, entre outras constantes de um receituário que vivemos muito por aqui no Brasil.
Os efeitos destas políticas foram sentidos claramente pela população, bem como na atividade econômica: hoje a Espanha tem uma taxa de desemprego de 23%, chegando a incríveis 44% na população até 25 anos. A mesma taxa é de aproximadamente 34% para os imigrantes.
Um índice de desemprego destes mostra como a economia e a sociedade espanholas estão em crise profunda. Além disso, o estouro da “bolha” imobiliária do país e as medidas tomadas pelo governo a fim de enfrentar a crise econômica aprofundaram a recessão, aumentaram as diferenças na sociedade e privilegiaram apenas um grupo bem pequeno, formado basicamente pelos credores e camadas altas. 
Na prática, tal como escrevi aqui na resenha do último livro do economista Joseph Stiglitz tais medidas apenas aprofundaram ainda mais a crise, ao retirar do Estado seu papel de estimular a atividade econômica e estabelecer uma série de políticas claramente recessivas. A combinação de aumento de juros com elevação de impostos, diminuição da ação do Estado e política de corte de benefícios sociais tiveram o efeito de ampliar e aprofundar a crise no que toca à atividade econômica e ao bem estar da população.
E jovens desesperançados pela falta de emprego e, especialmente, de perspectivas, empreendem uma série de protestos nas ruas de cidades como a capital Madrid, Barcelona,Sevilha, Valencia e outras. Suas palavras de ordem são basicamente o repúdio aos partidos dominantes e às políticas de ajuste e arrocho. Querem emprego e perspectiva.
Tal e qual os protestos da chamada “primavera árabe” – que também já foi alvo de post neste espaço – o pleito dos jovens andaluzes é contra o “status quo”, contra a ditadura – no caso, do poder econômico – e exigindo melhores condições de vida. Obviamente não encontram o mesmo apelo do encontrado pelos rebeldes árabes, até porque nesta região da Europa não há petróleo…
Retomando o resultado das eleições, a leitura que pode ser feita é de que se votou na oposição de direita com a idéia de repudiar a política de quem está no governo. Entretanto, como digo acima o Partido Popular representa a exacerbação de políticas de arrocho impopulares e que tendem a agravar a crise.
Além disso o esforço do país para cumprir as metas determinadas pelo Banco Central Europeu e permanecer na “zona do euro” estão trazendo uma ampliação do custo social deste tipo de políticas. A autoridade monetária européia parece preocupada em mitigar as pressões inflacionárias alemãs e atender aos interesses do sistema financeiro daquele país. O resultado é que o efeito destas políticas contracionistas nos demais países, muitos deles ainda mergulhados na crise econômica desde 2008, acaba sendo o de ampliar os efeitos da recessão econômica.
Em que pesem os maiores protestos estarem localizados na Espanha, até pelo quadro que descrevo acima, já há mobilizações semelhantes em países como Portugal e a Irlanda, com panorâmicas semelhantes: alto desemprego jovem e falta de perspectivas. Como corolário, a perseguição a imigrantes tornou-se ainda mais acentuada – com direito a uma inacreditável discussão na Federação Francesa de Futebol sobre a possibilidade de adotar restrições a filhos de imigrantes em suas academias de jovens valores.
Parece claro que apenas a adoção de políticas “contra-cíclicas” e que tenham o Estado como indutor do investimento e da economia poderão frear a crise européia e permitir uma retomada da atividade econômica. 
Também deveria se adotar uma regulamentação maior dos mercados, a fim de conciliar o interesse dos agentes com os da sociedade em geral. Esta crise mostrou que o mercado por si só está longe, muito longe de propiciar a alocação mais eficiente de recursos em uma economia, além de não trazer o quadro de maior bem estar social. A atuação do Estado é necessária e se faz mais forte como regulador e indutor da economia.
Entretanto, os governos destes países estão adotando o caminho inverso em termos de medidas de política econômica. Isto significa mais crise, mais desigualdade, mais desemprego e menos perspectivas a estes jovens.
Ou seja: os protestos tendem a aumentar cada vez mais. Veremos.