Com atraso, venho relatar aqui as visitas que fiz na semana passada a uma das “Mecas” da cerveja, o Bar Brejas, em Campinas. Pode parecer herege comparar o estabelecimento com um símbolo religioso, mas a analogia é perfeita: em pouquíssimos lugares do Brasil há a variedade e a quantidade de rótulos da “loura gelada”. Aproveitando viagem a trabalho, estive duas vezes no bar, que para meu gáudio ficava a duas quadras do hotel em que estava hospedado.

Na quarta cheguei à cidade por volta de 20 horas, sob uma chuva fina e temperatura agradável. Banho rápido e toca para o bar, até porque queria ver o jogo do Flamengo pela Copa do Brasil. Como já sabia desde a vez anterior em que estive lá sabia que poderia ver o jogo tranquilamente.

Não deu outra. Alguns casais de namorados, mas o bar não estava muito cheio e assim que reconhecido fui como carioca (até porque como o leitor pode ver pelas fotos não foi nada difícil) instalei-me em uma mesa e consegui que a televisão, em gentileza da gerência, fosse colocada na partida do “Mais Querido”. Optei por fazer um lanche e me concentrar nas cervejas da casa, que descrevo abaixo. O Brejas tem mais de 300 rótulos, fora os que não constam na carta mas que se encontram disponíveis. Vamos a um breve comentário sobre cada uma delas:

1) Chope Eisenbahn Weiss: já o conhecia, mas como ele é muito difícil de encontrar aqui no Rio de Janeiro resolvi iniciar por ele. Trigo, mais leve que as cervejas de garrafa, legítimo representante desta cepa e uma boa opção àqueles não muito conhecedores das cervejas artesanais.

2) Chope Old Speckled Hen: não morro de amores pela Guiness, então optei por este legítimo exemplar de uma boa “ale” inglesa. Uma cerveja forte, mas com “drinkability” bastante interessante e com os componentes, a meu ver, equilibrados.

3) Anderson Valley Gold Pale Ale: este exemplar americano, estilo “pale ale”, foi uma surpresa interessante. Não conhecia a marca, que é americana da Califórnia e um bom exemplar do renascimento da produção de cerveja no país. Sabor delicioso e se conseguem perceber os componentes do produto.

4) Brooklyn Lager: também norte-americana, da fábrica nova-iorquina, é uma lager totalmente diferente das que estamos acostumados no paladar brasileiro. Cor dourada forte e paladar pronunciado, a meu ver com o lúpulo se sobressaindo (os leitores especialistas que me corrijam se estiver errado).

5) Paulaner Hefe Weissbier: uma cerveja mais leve após as três anteriores, o trigo clássico alemão;

6) Finalizando, uma exclusiva da casa: a paulista Sauber. Fabricada em Mogi Mirim, vem buscando experimentações com cervejas que levam respectivamente gengibre, abóbora e framboesa. Provei a de gengibre (abaixo), uma lager com um retrogosto da especiaria bastante interessante. Trouxe uma de abóbora para o Rio mas ainda não consegui experimentá-la.

No dia seguinte, retornei ao bar. A idéia era beber apenas chope e retornar cedo ao hotel, pois o jogo havia acabado tarde na noite anterior e eu estava com sono. Cheguei por volta de 19 horas, e percebi que a frequência era diferente, com mais grupos de amigos. Aproveitei-me da promoção da chamada “happy hour” para experimentar os diferentes tipos de chope da Eisenbahn, arrematando com um clássico: a cerveja trapista belga Orval.

Estava já em processo de fechamento da conta quando me surge Maurício Beltramelli, um dos sócios do bar e uma das maiores autoridades no assunto no Brasil. Fui convidado a sentar-me junto a seu grupo, formado por integrantes de uma denominada “confraria campineira” que sempre se reúne para um bom papo e uma boa cerva. Destaco o Paulo e um outro amigo, onde engatamos um papo bastante interessante sobre economia, focada especialmente nos próximos investimentos chineses no Brasil.

Além disso, Beltramelli me ensinou muito sobre apreciação e especialmente sobre o mercado cervejeiro na conversa. Com certeza ampliei bastante meu conhecimento sobre o assunto, até pela postura receptiva – a ponto de aceitar uma sugestão que fiz para o cardápio do bar. Degustamos algumas cervejas, entre as quais destaco a excelente “Lagunitas – Hop Stoopid Ale” (abaixo, foto tirada do blog “Cervejas Americanas”, com “IBU” (índice que mede a presença do lúpulo na bebida) de 102, bastante alto. Entretanto, notas em especial de maracujá contrabalançam o amargor e formam um conjunto excelente. Sem dúvida alguma, uma das melhores cervas que já experimentei.

 
Ainda trocamos impressões sobre o livro “Cerveja e Filosofia” – que foi lançado no bar e que será o próximo alvo de nossa coluna “Resenha Literária”, no início da semana que vem.
Sem dúvida alguma, contrastando fortemente com o relatado por nossa colunista Thaty Moura no post de ontem, nada digital e virtual substitui o prazer de uma boa conversa pessoal. A hora passou e quando me dei conta já havia passado bastante da meia noite. Infelizmente somente levei a máquina fotográfica na primeira noite, fiquei sem registro da quinta feira.

O Bar Brejas é visita indispensável para qualquer pessoa que deseje experimentar o melhor do mundo no quesito. Como escrevi no Twitter, me senti um garoto na Disneylândia. Os horários e localização podem ser vistos aqui, e aqui o site associado ao bar.

Aqui no Rio o “Delirium Tremens”, em Ipanema, é o bar mais referenciado no assunto, embora com menos rótulos. Entretanto, não o conheço, pois moro distante e nestes tempos de Lei Seca e blitzes onipresentes tenho preferido beber em casa. Para aqueles que optarem por isso indico o site da Puro Malte, que tem uma boa variedade e que entrega em todo o Brasil com preços razoáveis.

Prosit!

2 Replies to “Duas noites no Bar Brejas, a "Disney" das cervejas”

  1. Bom Primeiramente venho disser que o prazer foi nosso em ter sua presença ilustre aqui no Bar Brejas, sempre que estiver na cidade passe para tomar uma com a gente!!!

    Abraço, Wellington.

Comments are closed.